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“The End”

O último episódio! O final da quinta temporada! E que final! Acontece imensa coisa neste último episódio (mesmo muita, mais sobre isso daqui a pouco), e sinto que nunca um episódio final de Agents of S.H.I.E.L.D. carregou tanta expectativa sobre ele. Talvez seja porque a série esteve tão próximo de ser cancelada, e este episódio foi pensado como potencial fim para a série. Talvez porque esta temporada teve mais altos e baixos de qualidade do que as anteriores. Talvez porque o próprio enredo das viagens no tempo pôs tanto peso sobre si mesmo para entregar uma resolução satisfatória.

O episódio começa com uma discussão intensa e dramática sobre salvar o Coulson vs matar o Talbot. A discussão está muito bem escrita, com cada uma das personagens a explicar com muita clareza e lógica os motivos para as suas decisões, e a emoção que expressam está muito bem escrita. As interpretações são excelentes e mostram o quão investidas estão estas personagens no problema. É particularmente dramático o desespero da Yo-Yo, que aqui revela o seu Síndrome de Cassandra, que apesar de ser capaz de ver o futuro não consegue fazer com que ninguém acredite nela para o mudar. Esse desespero culmina com ela a usar os seus poderes para agarrar o super-soro, ameaçando destruí-lo para salvar o futuro.

Surpreendentemente, ou não, a May toma a decisão não menos irreversível de destruir o Odium, impedindo-o de ser usado para matar o Talbot. Esta é a base do grande conflito de toda a temporada: para impedir o futuro distópico de acontecer, eles tem de permitir que o Coulson morra. Durante toda a temporada o Fitz, a voz da ciência, tem vindo a afirmar repetidamente que é impossível mudar o tempo, e a solução repetidamente levantada é que eles precisam de tomar algum género de decisão radical, fora de carácter, que não tenha sido tomada nos loops temporais anteriores. Foi a própria série que impôs estas restrições a si mesma, e no fim tem de nos entregar uma solução satisfatória a isto.

No meio disto tudo está o Deke, que tem vindo a ser uma das personagens mais interessantes desta temporada. Ele vem da linha temporal do futuro distópico que eles estão a tentar impedir que aconteça, e existe a possibilidade muito real de que se tiverem sucesso ele simplesmente desapareça da existência. Pouco depois da discussão anterior vemos o Deke pela última vez neste episódio, quando ele se encontra com a Daisy, que está a tentar convencê-lo a ficar no Lighthouse para liderar o futuro do lugar. O Deke explica que é uma pessoa danificada de um futuro danificado, e que por isso quer ver o mundo antes de tudo potencialmente acabar, e fica por aqui. Não vemos mais dele neste episódio, não sabemos para onde vai, o que é que lhe acontece, ou se chega a desaparecer ou não.

Foi esta a resolução para o Deke? Há várias perguntas por responder que foram ignoradas, ou descartadas para debaixo do tapete. Então e toda a construção do interesse romântico dele pela Daisy? Não quero dizer que queria que eles acabassem juntos, mas era necessário algum tipo de resolução para uma linha narrativa que foi muito propositadamente introduzida e que serviu como complicação ao enredo.

Quando o Coulson acorda, depois de todo este drama, está lá a Yo-Yo, e a conversa que têm também está bem escrita. Reforça-nos a posição da Yo-Yo e mostra que o raciocínio dela não é assim tão despropositado. Mais tarde o Coulson é confrontado pela May, que também justifica a sua escolha, dizendo que só quer que ele se junte de novo à luta, e pergunta-lhe se ele acha que vale a pena terem mais tempo, aludindo à relação incipiente entre os dois. Este é um momento muito dramático porque agora o Coulson tem a escolha de tomar o Soro Centipede para se salvar, e isso implicaria poder desenvolver a relação com a May.

Mais tarde, a Daisy decide prescindir do seu comando, e entrega a liderança da S.H.I.E.L.D. ao Mack. Isto deixa-me feliz porque talvez ele venha a perder um olho, e ficamos com o Nick Fury 2.0. Esta aparentemente é a resolução para o arco narrativo da Daisy, que até faz algum sentido. Toda esta temporada mostrou-nos o seu crescimento e evolução para uma posição de liderança, e as dificuldades que ela teve em gerir esse processo. A resolução de ela mais uma vez rejeitar a liderança, parece no entanto mais um passo atrás, e dá a sensação de deitar por terra todo o desenvolvimento que foi feito antes. E apesar de eu gostar muito de ver o Mack como director, não houve nenhuma conversa de build-up para ele se tornar o director, e fica a parecer uma decisão de última hora.

No entanto é muito interessante a escolha do Mack como director. Ele até agora tem sido sempre a personagem mais pragmática e terra-a-terra, com um compasso moral inabalável, e gostei muito da primeira decisão dele de que vão simplesmente salvar pessoas. É muito reminiscente de Os Vingadores (2012) e ajuda imenso a tornar tudo mais realista, pondo o foco nas pessoas e na destruição que estão a sofrer. É uma excelente maneira de trazer toda a série de volta aos seus princípios fundamentais, e não havia personagem melhor para fazer isso que o Mack. Vai ser muito interessante ver como isto afecta a série daqui para a frente.

Entretanto, quando a Daisy e o Coulson vão no avião para tentar controlar o Talbot, o Coulson revela que não tomou o soro, dizendo que simplesmente não parecia a maneira como as coisas deviam acontecer. Isto até faz sentido muito superficialmente, mas na realidade não nos dá nenhuma justificação concreta ou lógica para essa decisão. Podemos dizer que foi simplesmente um julgamento de valor, ou uma decisão moral, mas ainda assim acho que merecia mais exploração para aceitarmos melhor, sobretudo com todas as implicações que tem para a resolução dos loops temporais que a série apresenta.

Todas as cenas envolvendo o Talbot nesta temporada estão espectaculares. O CGI está surpreendentemente bom, a edição e a composição das cenas dá-nos verdadeiros vibes de cinema, e sobretudo a batalha final da Daisy contra o Talbot é muito badass. É curtinha, mas temos efeitos especiais, temos explosões, temos pessoas a voar e a darem porrada uma na outra! O discurso da Daisy para tentar convencer o Talbot está bem escrito, puxa à emoção e mostra-nos que a Daisy sabe de facto o que dizer e que tem o coração no lugar certo. Infelizmente o Talbot, tal como o Coulson tinha previsto, já está para além da salvação.

No último momento, quando parece que o Talbot vai absorver a Daisy, ela encontra o Super-Soro que era suposto salvar o Coulson, que ele escondeu dentro da armadura dela (não vamos perguntar como ou quando). Esta é uma decisão de escrita gira porque é figurativamente e literalmente a passagem da responsabilidade e o poder para as mãos da Daisy. Ela toma super-soro ganha um upgrade aos seus poderes e literalmente dispara o Talbot para o espaço, e fica resolvida a ameaça do Destruidor de Mundos, e aparentemente o paradoxo temporal com ele. Foi isto? Foi assim que se resolveu todo o problema? Então e toda a conversa que o tempo era imutável? Foi a decisão do Coulson de não tomar o Super-Soro e dá-lo à Daisy que resolveu tudo?

Até podia ser! Se formos rigorosos, não há aqui erros lógicos. Mas a decisão final que muda tudo precisava de ter mais peso, ou pelo menos mais atenção e exploração para ser satisfatória. Desta maneira ficamos sem perceber o que é que mudou especificamente nesta linha temporal que não aconteceu nas anteriores. Ou porque é que alguma coisa mudou especificamente nesta linha temporal que não podia ter acontecido nas anteriores.
Não sei se isto aconteceu desta maneira porque os escritores enfiaram-se num buraco e não sabiam como resolver o problema, ou se deixaram tanta coisa para resolver no último episódio que não tiveram tempo para explicar as coisas como deve ser. De qualquer uma das maneiras, é uma falha.

Por causa das explosões e ondas de choque da batalha, o edifício em que o Fitz e o Mack e a May estavam a ajudar civis começa a colapsar e parte da estrutura esmaga o Fitz. OH NÃO!!! Esta cena foi tão pesada, tão bem escrita! É uma morte indigna, sem espalhafato ou fogo-de-artifício. Dói de tão rápida e aparentemente despropositada que foi, mas na realidade é assim que a maior parte das pessoas morre. O facto de o Fitz não se aperceber que está a morrer é ainda mais trágico, bem como a atitude do Mack e da May ao vê-lo nos seus últimos momentos. A interpretação do Iain de Caestecker é fantástica.

E no entanto, apesar de ser um momento incrivelmente dramático, não é necessariamente satisfatório. É esta a resolução para o arco do Fitz? Uma morte acidental, desprovida de significado narrativo? Ou se há um significado narrativo, qual é? Não é uma redenção, porque ele não se auto-sacrifica para nada. Significa que o Fitz estava tão danificado pelas suas experiências anteriores que não pode continuar a viver neste mundo? Mais uma vez cheira a que os escritores não sabiam como resolver isto e simplesmente mataram a personagem. Mas continua a ser inconsequente, porque agora a Jemma vai à procura do Fitz que está congelado no espaço. E no entanto esse Fitz continua danificado por todas as coisas que lhe aconteceram antes, portanto esta morte é ainda mais inútil.

Finalmente, a última sequência, com a despedida do Coulson está muito bem escrita. É muito muito emocional, dá oportunidade para todas as personagens se expressarem, e raios se eu não me desfiz em lágrimas quando o Coulson diz à Daisy que tem imenso orgulho dela (sim, eu tenho daddy-issues). A revelação final de que ele vai passar os últimos dias no Tahiti, onde tudo isto começou, é particularmente satisfatória, e faz um full-circle muito bem conseguido. O facto de ele ir passar os seus últimos dias com a May é ainda mais heart-warming. A minha única esperança é que no fim do filme da Capitã Marvel, vejamos o Coulson aqui no Tahiti a receber uma última mensagem do Nick Fury para ele de alguma forma voltar a interagir com a Capitã Marvel quando ela voltar à Terra.

Portanto, no fim este episódio final deu-nos muita coisa, foi muito satisfatório de várias maneiras, mas não da maneira como precisava mais. É uma pena. Esta temporada tinha tudo para ser fantástica, e um episódio final cheio de tropeções é só mais um exemplo de como não foi.

Ficaste desiludido com este final?

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Gui Santos
Sou um cinéfilo viciado em narrativa, dado a devaneios pretensiosos, e a ficar constrangedoramente entusiasmado com tudo.

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