“The Pool”
Fazendo logo uma comparação com os episódios anteriores, The Pool foi bastante desprovido de momentos de choque e plot twists de cair o queixo. Mas isto não é exactamente mau e, se como eu, tens adorado cada minuto desta série, deves concordar que o último não ficou aquém das expectativas elevadas que This Is Us tem criado. Numa visão geral, tenho vindo a achar que a construção de cada episódio, embora tenha cenas que ocorrem em espaços físicos e temporais completamente diferentes, nunca perde a fluidez nem deixa o espectador confuso. E isso é muito importante tendo em conta que nós estamos a construir, com cada novo capítulo, uma história tanto do presente como do passado de cinco personagens principais, mas não o conseguindo fazer de modo linear. Poderia tão facilmente tornar-se num novelo emaranhado onde já nem conseguíssemos encontrar a ponta. Mas estou feliz por dizer que não é o caso!
E é exactamente por esse motivo que achei que um ponto bastante alto neste episódio está na construção da personalidade de cada uma das personagens desde o início da vida deles. Existem momentos chave, que se passam durante este dia na piscina, que vêm a ditar aquilo que nós já sabemos ser tão marcante no presente de cada um. Mas já vou falar um bocadinho mais sobre eles!
Ainda está bastante evidente que educar três crianças ao mesmo tempo é um enorme desafio para o casal. Este capitulo pegou nos momentos que deixamos para trás no episódio dois, “The Big Three“, porque Jack está a tentar reconciliar-se e isso passa por deixar para trás o álcool e estar mais presente no seio familiar. Continuo a achar muito enternecedor a dinâmica dele com as crianças, até ao pedir perdão a Kevin por não lhe dar a atenção que ele tanto quer. É um pai com falhas e, como afirma no episódio, é a primeira vez que está neste papel… Logo com três crianças. Mas ele não é o único que está a aprender como ocupar o seu lugar da melhor maneira. Rebecca depara-se com dúvidas em relação ao pequeno Randall: será que por ele ser negro precisa de usar protector solar? Mas esta chega a mostrar um momento de humildade quando uma mulher negra oferece dicas em como poder ajudar o seu filho. Randall, por sua vez, sente-se tão desligado da comunidade negra que chega a apontar num bloco de notas cada nova pessoa da sua raça que encontra, tendo sempre esperança que alguma delas seja o seu pai biológico.
Num episódio que lida com um dia corriqueiro na vida dos Pearsons, nunca pensei conseguir criar tantas pontes entre o passado e o presente de cada um deles.
Kate, como tem vindo a acontecer até agora, continua demasiado embrenhada no seu problema para ter uma noção mais abrangente tanto das suas acções como do que se passa à volta dela. Ela não se apercebe, a certo ponto ao conhecer a ex-mulher de Toby, que cai no erro de a julgar exactamente como se acha julgada pelo resto do mundo: pela aparência, por achar que ela é demasiado bonita e elegante sem saber o tipo de pessoa que é no interior. Acha-se imediatamente inferior sem saber como esta tinha tratado Toby e como o fim da relação de ambos deixou nele um grande número de cicatrizes ainda por sarar. No entanto, é importante perceber que Kate teve que lidar com este problema toda a sua vida, chegando a ser rejeitada por outras crianças que tinham vergonha de brincar com ela. Se colocarmos na balança todos os anos nos quais teve que enfrentar este problema, torna-se mais fácil compreender os seus medos. Kevin, por outro lado, era a criança menos problemática dos três e, por isso mesmo, sentia-se também a mais ignorada.
Mais uma vez, os momentos que mais gostei voltam a girar em torno da família de Randall. Acho muito importante que tivesse abordado o tema “racismo”, mostrando dois lados distintos de como alguém que está no lugar da vítima pode decidir reagir: com raiva, como William que acaba por estar sempre zangado ou tomando uma posição mais passiva, como Randall. Ao contrário do que talvez isso faça entender, Randall ao ser mais passivo e calmo em relação ao racismo não o torna imune, não faz com que ele não sinta a dificuldade que este tipo de situações trazem. Mas a maneira como ele age em relação a isso fez-me lembrar Jack: ele opta por ensinar às suas filhas a melhor maneira de reagir. E nós conseguimos perceber o modo positivo que isso tem nada vida delas quando a mais velha está a actuar numa peça de teatro na escola como a Branca de Neve. O racismo provavelmente será algo com que ela terá de lidar no seu futuro mas, como Randall disse, é bonito ver que é algo que está tão longe da sua preocupação que ela não acha estranho estar, como uma criança negra, a fazer o papel da Princesa Branca de Neve.
Chego ao final do episódio só com uma coisa em mente: acho que já me estou a tornar irritante de tanto adorar esta série.
https://www.youtube.com/watch?v=7MDxQSOjayU