“The Big Three”
Um dos meus maiores medos ao terminar o episódio piloto desta série foi, após a grande reviravolta no final, pensar que a fluidez da história e o interesse geral pelas personagens pudesse diminuir com o continuar da história. Não é comum em qualquer tipo de série de drama familiar ter no seu primeiro episódio um plot twist que nos deixe de queixo caído. Mas This Is Us teve. Foi um desses raros casos que conseguiu surpreender, e ainda melhor, parece não ter intenção de baixar as expectativas… Por agora.
Esta série é, como já mencionado, um drama familiar e como é tão comum dentro género, o tipo de dinâmica existente entre as personagens está presente nos seus problemas do dia-a-dia e como as personagens enfrentam esses problemas apesar das dificuldades. Este episódio tocou num tema que, de uma maneira ou outra, aplica-se a todas as personagens principais: os vícios. Quer esses vícios sejam referentes a estupefacientes ou mais pessoal como o vício de ser demasiado bom, vemos isto surgir naturalmente na narrativa – o que, deixa-me dizer, é incrivelmente satisfatório!
Fiquei também contente por ver que este episódio não nos desapontou em relação às questões que ficaram pendentes do anterior: ser pais de trigémeos traz dificuldades à dinâmica do casal? Vimos a relação de Kevin e Kate, mas como é a relação de ambos com Randall? Será que o pai biológico de Randall está a aproveitar-se do filho, tendo em conta o seu passado como toxicodependente?
A primeira cena que vemos no episódio mostra Rebecca e Jack no seu ambiente familiar passados oito anos desde o nascimento dos gémeos e adopção de Randall. É um momento ternurento, onde começamos imediatamente a receber a informação necessária para as minhas perguntas anteriores. Jack é um pai cuidadoso e os seus filhos parecem todos adorá-lo. Ele recita com os pequenos uma espécie de mantra que eles mantêm até à sua idade adulta.
“First came”
Kevin: “Me!”
“And mom said”
Kevin: “Gee!”
“Then came”
Kate: “Me!”
“And mom said”
Kate: “Whee!”
“Then came”
Randall: “Me!”
“And mom said”
Randall: “That’s three!”
“The big three!”
Rebecca não lhe fica atrás, mas percebemos que existe uma certa tensão entre o casal. Os motivos por detrás disto não são difíceis de entender: ser mãe ou pai de três crianças não é uma tarefa exactamente fácil. Se adicionarmos a isso a ausência constante de um dos pais e o abuso de álcool por parte do mesmo, a situação ainda mais se complica. Este é o principal problema de Jack e numa conversa com o seu melhor amigo Miguel (Jon Huertas), este aconselha-o a dar valor à esposa que tem e a todas as suas qualidades porque Jack casou-se com alguém que está muito acima do seu patamar e ele não deveria “dar-lhe motivos para se aperceber disso”. Ele tenta redimir-se ao chegar a casa – como se costuma dizer: podre de bêbedo – com um presente na mão, mas a sua esposa rapidamente lhe tira o tapete de baixo dos pés. Confronta-o sobre a sua ausência até tarde na noite, sobre o álcool e sobre deixar tudo para ser ela a tratar.
Claro que, sendo o tipo de série que é, não nos iria deixar sem ver algum tipo de cena de reconciliação, e é isso que acontece. Em mais um momento fofinho, vemos que Jack dormiu à porta do seu quarto por não querer estar longe da sua esposa e admite querer redimir-se, ela abraça-o e perdoa-o e aceita o seu presente (um fio com uma lua).
O meu maior desapontamento no decorrer do episódio talvez seja a história de Kate – bem como uma das minhas preocupações no que toca ao argumento. Embora o seu problema com o excesso de peso, tal como com qualquer pessoa que tenha esta experiência, seja um factor que está presente em toda e qualquer acção no seu dia-a-dia, tenho algum receio que não consigam desenvolver todas as facetas desta personagem para além do seu “vício”: que, curiosamente, é exactamente tornar o seu peso assunto presente em qualquer ocasião, sem limites. Até o seu (quase) namorado, Toby (Chris Sullivan) que enfrenta o mesmo problema que ela acha que este factor não deveria determinar todas as decisões que ela toma – como ir a uma festa de uma produtora a pedido do seu irmão Kevin.
E Kevin? Bem, no episódio anterior o Kevin tinha desistido do seu presente papel numa série de comédia ridícula de uma maneira, digamos, dramática. No entanto os actores quando têm um contrato com uma produtora, não podem simplesmente desistir do seu emprego porque estes contratos abrangem anos de “fidelização”. As consequências de levar a sua avante pode resultar em impedimento de trabalho até ao prazo de término do contrato. E é aqui que outra das minhas perguntas se responde… Em várias cenas deste episódio vemos que ambos os rapazes, Kevin e Randall, têm uma ligação mais conflituosa entre si do que cada um individualmente com a sua irmã. Randall, na escola, é gozado por ser a criança negra adoptada. Randall, por outro lado, por querer integrar-se com os seus colegas chega a juntar-se a eles nos seus abusos. Mas ainda assim, é a Randall que Kevin telefona para pedir conselhos e chega admitir não ter sido um bom irmão mais velho.
Tenho que admitir que Randall é o meu favorito. Gosto da sua personalidade e da sua bondade quase ingénua. Embora a sua esposa suspeite do pai biológico de Randall (a quem lhe foi oferecido como estadia temporária o quarto da filha mais nova) e do facto de este o ter abandonado à nascença, Randall não consegue colocar de parte este homem que diz estar a morrer. Felizmente, vimos a descobrir que as suspeitas são falsas. William (Ron Cephas Jones), diz estar mesmo doente. E o dinheiro que pede todos os dias e as longas horas que passa fora de casa devem-se a querer alimentar a única companhia que teve durante anos mas que vive a horas de distância de autocarro: o seu gato.
E eis que, no desfecho deste momento, acontece (MAIS UM) plot twist. As crianças gritam que os avós as vieram visitar e eis que surge Rebecca… E Miguel. Miguel! O melhor amigo de Jack! Ela ainda usa o colar que ele lhe ofereceu. Mas agora a pergunta fica: o que aconteceu a Jack?! Pessoalmente, acho que tenha sido a sua morte, visto que Rebecca ainda usa ao pescoço o fio que ele lhe ofereceu. Mas, claro, posso estar completamente errada e no final deparar-me com um terceiro momento inesperado.