O Fórum Fantástico deste ano decorreu no fim de semana de 24 e 25 de Setembro, na Biblioteca Municipal Orlando Ribeiro em Telheiras, em Lisboa, e como sempre teve espaço para a banda desenhada nacional. Entre as iniciativas em destaque encontrou-se a H-alt, uma revista que procura apostar em novos talentos lusófonos e não só – procura também criar uma ligação de criatividade luso-brasileira e conta com a participação de autores conceituados.
Entrevistámos Sérgio Santos, o homem por detrás deste projecto, e descobrimos que afinal ainda é mais do que isso.
Como surgiu a ideia da H-alt e de onde veio a motivação?
A H-alt surgiu por não existir com regularidade uma publicação em Portugal onde pudessem surgir colectâneas de pequenas histórias de BD. A ideia seria apoiar jovens autores e sobretudo desenvolver o trabalho colaborativo entre equipas de autores. A temática era suficientemente abrangente porque a ficção especulativa engloba muitos géneros.
Vejo com muita satisfação que desde que a H-alt surgiu começaram a aparecer novas publicações. E outras que estavam adormecidas parece que vão ressuscitar.
Ficção especulativa?!
Ficção especulativa é uma categoria de narrativa de ficção que inclui elementos, cenários e personagens criados a partir da imaginação e de elementos especulativos em vez de ter como base a realidade e a vida quotidiana. Abrange os géneros de ficção científica , fantasia , fantasia da ciência , horror , história alternativa e realismo mágico entre outros.
Agora que o projecto já tem ritmo quais são as ambições para o futuro?
A ideia será a H-alt consolidar-se e tornar-se cada vez mais respeitada nacional e internacionalmente. Aumentar a tiragem da versão impressa e duplicar o público que acede à versão digital. Vejo com alguma satisfação que as diversas parcerias com antologias internacionais e colectivos vão continuar nos próximos tempos.
Mas a H-alt não se esgota na publicação, acaba por ser um projecto extremamente completo. Existem entrevistas com grandes autores internacionais e nacionais ligadas ao mundo da BD, artigos interessantes sobre a temática da revista e BD. Inúmeras iniciativas de promoção e reunião entre os colaboradores que contribuem para a sua consolidação como parcerias entre várias associações, grupos, pequenas editoras e convenções.
A união de esforços é o caminho e não um individualismo estéril que não conduz a nada. A H-alt e a Plasmodium Vivax criaram os prémios Quadradinho Fantástico para premiar as melhores histórias que saem na H-alt. Serão sempre frequentes exposições sobre os trabalhos dos autores que participam na H-alt.
Quantas pessoas estão envolvidas na produção?
O núcleo duro de organização são sobretudo duas pessoas, a maior parte do esforço cabe-me sobretudo a mim. Tenciono com o tempo ir cada vez mais delegando funções.
Já há imenso tempo que deixou de haver tradução de BD serializada em Português e para comprar é necessário procurar lojas especializadas. Será que o gosto pela BD em Portugal tem vindo a diminuir?
As tiragens impressas são cada vez menores. Mas é cada vez mais barato imprimir do que há uns anos. Noto que a BD desde há vários anos é dirigida cada vez mais a um público adulto e conquistou uma maior respeitabilidade do que a que tinha há tempos atrás.
Nos últimos tempos vê-se um maior dinamismo a nível da BD em Portugal, nem sempre correspondente a oportunidades de valorização profissional e compensações monetárias.
Se alguém estiver interessado em explorar BD feita em Portugal onde deve procurar?
Muitas dessas BD’s estão guardadas em gavetas, eternos sonhos adiados à procura de uma esperança que nunca chega por imobilismo. As editoras de BD que publicam autores portugueses têm pouco poder financeiro para ditarem muitos livros e acabam por escolher certezas. Muitos jovens talentos ficam no limbo, daí a importância das antologias para fazerem surgir novos autores.
Será que existe, no geral, a percepção da BD como um meio artístico legítimo?
Sim, cada vez mais, é considerada uma arte mais adulta. Na Bélgica e na França há anos que é considerada. Em Portugal nota-se a mudança de mentalidades.
Agora fácil, qual é o teu top de BD?
Autores: Gosto muito do Frederik Peeters, Hermann, Riff Reb’s, Danilo Beituth.
Livros que me marcaram: A Casa da Samarcanda Dourada, A Ilha Negra, Blacksad.
Ainda mais fácil, Batman ou Super-Homem?
Batman.
Para terminar, se alguém estiver interessado em participar na H-alt como deve proceder?
Podem ir ao site da H-alt e ir à página de contacto.