“Behold… the Inhumans” “Those Who Would Destroy Us”
Depois de muita espera, muita especulação, depois de um filme anunciado que foi cancelado, depois de rumores de inclusão na timeline do MCU, finalmente chega-nos Inhumans, pelo showrunner Scott Buck, responsável por Punho de Ferro na Netflix. Inhumans foi produzido em colaboração com a IMAX tendo sido filmado com câmaras especiais propositadamente para esse efeito, e os dois primeiros episódios, que vamos discutir hoje, foram estreados nos cinemas IMAX no final de Agosto.
Esta colaboração com a IMAX nota-se, e logo nas primeiras cenas do primeiro episódio é notório que as imagens da série têm uma qualidade e nitidez impressionante. É provavelmente por causa disso que o Hawaii foi escolhido para local de filmagens, e há ali uns close-ups e uns slow-motions muito bonitps. Infelizmente as coisas positivas da série quase que se esgotam aqui. Esta primeira sequência que nos mostra uma rapariga inumana a ser ajudada por Triton já nos mostra um bocadinho dos diálogos mecânicos e forçados que o resto dos episódios têm, mas não nos vamos adiantar.
E wow! Eu não estava à espera de uma cena de sexo logo a abrir! Mas ok, vamos com isso. A Medusa e o Raio Negro são interrompidos no seu momento de intimidade convenientemente escondido pelos cabelos dela, por uma chamada nos seus fitbits, e temos o primeiro grande plano de Attilan, a cidade Inumana na Lua. Sabes o que é arquitectura Brutalista? É um estilo arquitectónico que floresceu nos anos 50 e que adopta ângulos rectos e concreto exposto, e que foi intensamente criticado por ser extremamente feio.
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Por motivos que me escapam completamente, alguém decidiu que seria uma boa ideia desenhar a cidade de Attilan com um estilo Brutalista, que só fica ainda mais feito quando mostrado em formato IMAX. Parece que estão a querer enfiar-nos o feio pelos olhos adentro. E esta intro é tão má!!! É o que acontece quando se deixa a equipa de marketing fazer a intro, ali com o Lockjaw muito conspicuamente forçado no canto a dar à língua.
*Suspiro*
Tudo está bem no reino de Attilan até que um rover de exploração lunar bate contra a barreira invisível que protege a cidade. Também acho piada que o Centro de Controlo Aeroespacial seja meia dúzia de secretárias num armazém abandonado. À custa deste incidente a família real Inumana reúne-se para lidar com o problema, e vemos pela primeira vez o nosso elenco de personagens principais reunido. E é um grande e sólido meh. As roupas são insípidas, o cenário é branco e vazio, sem nada de especial para onde se olhar. Parece preguiçoso.
Isto gera toda uma discussão extremamente expositiva sobre o que é que acontece quando os Humanos decidirem investigar e descobrir que há uma cidade escondida na Lua, e vemos pela primeira vez Maximus, interpretado por um Iwan Rheon que entregou a sua interpretação pelo telefone, a tentar provocar o Raio Negro a ter uma reacção ou a dar uma resposta ao problema, mas não acontece nada.
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Vemos uma cerimónia de transformação de Terrigenesis que dá mais uma oportunidade para as personagens nos darem mais um bocado de exposição e mostrarem o quão unidimensionais são. A Crystal, a princesa, é teletransportada pelo Lockjaw para dentro da sala. Tenho de admitir que o CGI do Lockjaw está bem feito, e que a sua interpretação é melhor do que a da Isabelle Cornish que faz de Crystal. Provavelmente porque máquinas de fumo são mais baratas do que CGI, não vemos o processo de terrigénese que tínhamos visto em Agents of S.H.I.E.L.D. com o casulo de pedra a formar-se, e a rapariga sai com umas asas de borboleta que sabe usar imediatamente. O rapaz aparentemente não tem sorte, mas quando o Maximus lhe toca ele tem uma visão ominosamente premonitória, que provoca no Maximus um ar de obstipação neutra.
Aparentemente os Inumanos são divididos em castas conforme os poderes que recebem devido aos recursos limitados da sua vida na Lua, cortesia do discurso expositivo do Iwan Rheon, que se esqueceu que devia estar a actuar e não só a ler o teleprompter. Esta é uma ideia engraçada porque esperaríamos ver dos Inumanos uma sociedade extremamente avançada, mas há claramente aqui algum tipo de opressão social contra a qual o Maximus parece estar a querer lutar. O que o tornaria uma personagem interessante e ambígua, só que eu acho que essa ambiguidade não é propositada, e é mesmo só incapacidade dos escritores de caracterizarem bem as suas personagens.
Na cena do jantar da família real há algum género de piada com o Karnak e o Gorgon, mas é bastante fraquinha. O jantar é interrompido pelo Maximus que traz com ele um gajo com um projector nos olhos que lhes mostra que o Triton aparentemente morreu. E chateia-me imenso que ninguém tenha reacções fortes a isto! Continuam todos só com ares neutros e aborrecidos a olhar para o vazio.
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O Gorgon é enviado à Terra para resgatar o Triton, e o Raio Negro vai para a sua sala vagamente circular do silêncio para meditar e porque isso é conveniente para o enredo. Vemos um flashback enfiado à pressão que eu não percebo bem o que é que era suposto explicar. A Medusa e o Maximus têm um diálogo que aparentemente é suposto ser muito intenso, e que tenta dizer alguma coisa, mas está escrito de maneira tão convoluta e pretensiosa, a pensar que é tão esperta, que o sentido torna-se pouco claro.
Não há intensidade nenhuma no diálogo entre o Maximus e o geneticista. É tão aborrecido e expositivo! A segurança mata o geneticista, e mesmo quando chama ao Maximus de Rei fá-lo num tom monocórdico e a única reaçcão que tira do Maximus é um levantar de ombros e um sorriso mal morto.
Entretanto na Terra o Gorgon está a ser atacado por soldados, e o Karnak está a ser atacado pelos agentes do Maximus que estão a executar o seu golpe de estado. Agora, tenho de admitir que o Gorgon é muito badass, e aquela cena de luta do Karnak com os seguranças é gira, ao som de uma cover de “Break On through to The Other Side” dos Doors. Mas fiquei completamente confuso com o que aconteceu na realidade. O poder dele é voltar atrás no tempo? Prever o resultado de eventos? Ser muito inteligente?
Tenho de admitir que a Medusa a usar os poderes para se defender é giro, mas a utilização da “Paint it Black” dos Rolling Stones parece um bocado aleatória, e continua a irritar-me toda a gente ter um ar tão aborrecido! Ela é derrotada e o Maximus corta-lhe o cabelo de uma maneira que parece exageradamente dramática. A sério que era preciso usar câmaras lentas para mostrar o Maximus a fazer caras dramáticas enquanto usa uma barbeadora eléctrica?
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A Crystal vai apanhar a Medusa com o Lockjaw e teletransporta-a para a Terra, como já tinha feito ao Karnak. Entretanto o Maximus vai confrontar o Raio Negro e provoca-o de novo a usar a sua voz. Vemos o flashback do Raio Negro a matar os pais quando diz um “why” de adolescente angustiado, e depois fica com um ar aborrecido a olhar para a parede manchada atrás deles. No último momento, quando o Raio Negro parece que vai usar a sua voz, o Lockjaw arrasta-o para a Terra, e o Maximus captura a Crystal e anuncia a sua ascensão ao trono…de forma aborrecida.
No segundo episódio todos os membros da Família Real Inumana estão em lugares convenientes para o enredo, e a Crystal é apanhada da maneira mais banal de sempre, literalmente com um acenar de mão de uma pessoa que faz adormecer o Lockjaw.
A medusa a falar com o Raio Negro através do comlink é tão estranho. Por algum motivo ela está só com os braços caídos a olhar para o vazio enquanto fala com ele, sem nenhuma expressão corporal. E é bom saber que os commlinks inumanos apanham rede na terra.
O Karnak diz que precisa de encontrar o seu rei e prontamente cai e desmaia, numa cena que dura menos de 30 segundos. Tenho dificuldade em descrever quão mau isto é. Detesto complicações aleatórias, e isto serve apenas para criar dificuldades ao poder do Karnak. Mais à frente vemos o Karnak aparentemente a andar em círculos, quando descobre o tronco coberto de madeira de quando acordou anteriormente, e questiona-se em voz alta “What’s Happening to me?“. Os teus poderes falharam porque levaste com o enredo na cabeça, foi o que aconteceu. Também cheguei à conclusão que o nome de super-herói do Karnak é Capitão Exposição.
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O Maximus, de uma forma muito monocórdica dá a entender que a Crystal tem uma visão privilegiada do mundo, e que os seus pais não gostavam da família real. Pede-lhe que ela se junte a ele e o proclame ao resto do povo como rei, mas ela recusa, dizendo que ele lhe mete nojo porque é só um humano. Tão querido, eles estão a tentar criar uma metáfora para o racismo ou discriminação de minorias, pondo os humanos como grupo oprimido para criar uma mensagem moralista. Fico com a impressão que o Scott Buck acredita mesmo que estava a ser esperto quando escreveu isto. E porque é que os cenários são tão vazios e cinzentos? Não havia direcção de arte para, sei lá, pendurar umas tapeçarias nas paredes? Qualquer coisa!
O Gorgon enfia-se no mar sem saber nadar? Estava a tentar suicidar-se? Estava a tentar ir atrás do Triton, mas esqueceu-se que não sabia nadar? Porque raio!!! Ah, mas pronto, convenientemente aparece um surfista para o salvar. O diálogo que ele tem com os surfistas é tão parvo! Não faz sentido nenhum ele estar a revelar tudo! Ou será que a personagem do Gorgon está propositadamente escrita para parecer estúpida?
Entretanto a investigadora aeroespaial, e rejeitada do CSI, está a juntar peças num raciocínio rebuscado em frente a muitos ecrãs, quando o seu chefe previsivelmente a manda parar. Ela aceita dizendo que se calhar até precisa de uma pausa. OH MEU DEUS ISTO É DOLOROSAMENTE ÓBVIO!!! Não, porquê é que estão a fazer-me isto?
O Karnak acorda da sua queda absolutamente desnecessária e volta a dizer que precisa de encontrar o seu rei, porque o Scott Buck acha que somos estúpidos e não nos lembramos o que é que ele poderia querer fazer nesta altura. E eu estou a gostar dos efeitos visuais dos poderes do Karnak, e acho que finalmente descobri que o super-poder dele é dizer coisas óbvias. A série está cheia de cenas desnecessárias. Vemos a Medusa no autocarro de volta ao centro da cidade a ver-se no reflexo da janela e com os olhos a lacrimejar por já não ter os eu cabelo. Isto não tinha já tudo sido estabelecido antes? Não sabíamos já que ela ia para a cidade? Porquê repetir essa informação outra vez?
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Ok, eu não tinha a certeza se o Gorgon estava a ser escrito para ser propositadamente estúpido, mas tenho a certeza que a Crystal foi escrita para ser propositadamente estúpida. A conversa dela com a Medusa é mais uma vez monótona, e sem nenhum tipo de reacção emocional forte ao facto de descobrirmos que a Crystal caiu que nem uma patinha na armadilha. Só merecemos um levantar dos ombros, como quem diz “Oh, fiz merda. Outra vez. Que incómodo”.
Ah, que merda! Uma cena de 15 segundos para o Gorgon dizer que é um lutador e para receber sabedoria de dois tostões dos nativos? “Bring the fight to you“. Isso é o melhor que conseguem escrever? O Maximus continua obstipado enquanto manda a Auran capturar a família real. Eu sei que o Iwan Rheon é um bom actor, já o vi numa data de coisas. E estes diálogos são péssimos, mas mesmo assim ele torna-os ainda piores do que o que são. É da direcção de actores? Estou a imaginar o Scott Buck a dizer, “Não, mais aborrecido! Não, ainda mais aborrecido! Como se estivesses a fazer a lista da lavandaria ao mesmo tempo que mandas matar o teu irmão”. A Auran vai falar com um tipo numa parede (que até é uma ideia engraçada), mas a melhor motivação dele para não a querer ajudar é que dói.
O Raio Negro, durante este tempo todo tinha estado no beco, e decide que precisa de um fato novo. O Anson Mount é daquela escola de actores que usa sobretudo as sobrancelhas para interpretar, mas nem aí consegue ser um bom actor. Esta cena dele na loja de roupa e depois a fugir da polícia é sobretudo constrangedora, e a maior parte da piada vem das caras inadvertidamente parvas que ele faz para tentar interpretar sem falar. Acho piada que o Raio Negro tenha aprendido todos o seu estilo de combate a partir dos Apertos de Nervos do Spock. Mas ok, esta cena até tem uma resolução fixe! Quando um dos polícias o acerta com um taser, isso faz com que ele liberte um gemido que atira um carro da polícia 20 metros no ar! Isso é badass! Se há alguma coisa que pode redimir esta série, vai ser ver o Raio Negro a usar os seus poderes ao máximo! Não, estou a brincar, não há nada que redima esta poia flamejante.
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O Maximus usa os novos poderes do Bronaja para descobrir que o Conselho Genético está a conspirar contra ele. Ok, esta cena dele a intimidar o Conselho e a dizer que as últimas palavras do Kitang foram ele a estrebuchar, e que quer que o Conselho mantenha essas últimas palavras em mente é gira. Há aqui de facto alguma espirituosidade e psicopatia que eu acharia piada no Maximus, se fosse mais bem explorada. Ele vai voltar a tentar convencer a Crystal, e percebemos que os pais dela foram mortos pelos pais do Maximus e do Raio Negro porque estavam a tentar destronar o sistema de castas. Esta cena do vilão que acredita que é um salvador está um bocadinho batida, mas apesar disso ainda é a ideia mais interessante até agora. E sim, está decidido, a Isabelle Cornish é mesmo a pior actriz desta série
A Medusa mata a Auran. E pronto, acabou a história da Auran. Porque é que o Scott Buck insistiu anteriormente em estabelecer a Auran como alguém tão bom a lutar que lhe bastava ir sozinha, se depois era só para a matar em menos de 10 segundos? Acontecem mais meia dúzia de coisas um bocado inconsequentes e no fim o Maximus faz um discurso tããããooo aborrecido. Na cena pós-créditos a Auran faz um bocadinho de Yoga e fica melhor.
E pronto. É isto. O MCU atingiu oficialmente o seu ponto mais baixo. Inhumans é um contentor de lixo fumegante, feito à pressa, da maneira mais barata possível. Eu já nem quero que o Scott Buck seja despedido, quero que a pessoa que o contratou seja despedida! Infelizmente há mais 6 episódios que eu estou contratualmente obrigado a ver, portanto se me quiseres ver a retorcer de dor todas as semanas, continua a ler as discussões!