“Honor”
Ah, …como eu tenho saudades de quando The Walking Dead me conseguia enganar. É verdade que quanto mais ignorantes mais felizes somos. Eu era feliz. Era feliz a ver as temporadas de The Walking Dead em que os únicos episódios bons eram os do começo e os do fim, com palha pelo meio. Eu era ignorante. Fechava os olhos para a palha porque os episódios bons eram brutais!
E os episódios bons continuam a ser brutais! Mas já não sou ignorante, infelizmente. A sério, gostava de continuar ignorante para conseguir me deslumbrar com esta série que já faz parte da minha vida há 8 anos. Mas esses tempos já não voltam. Este episódio foi muito bom, mas esta temporada foi a gota de água para mim. Abri os olhos para a realidade. The Walking Dead virou um zombie. E como todos sabemos, não há cura para os zombies (no universo de The Walking Dead pelo menos).
A morte do Carl gerou uma onda de vários espectros pelos fãs. Há os fãs da série que detestam a personagem e bradaram aos céus a sua satisfação com a morte do Carl, há os fãs que lêem a BD e este é mais um infeliz desvio da fonte, há os fãs que adoram a personagem e juraram não ver mais a série depois da morte do Carl. E o que este episódio faz muito bem é mostrar que a morte do Carl não foi uma jogada de publicidade. Este momento reverberou por imensas personagens e vai moldar os acontecimentos futuros.
Assistimos neste episódio a um momento de mudança na história. A morte do Carl chegou com muito significado. A esperança foi o principal aspecto. A esperança de mudança, de que somos capazes de mais, de perdoar, de relegar a violência. Aliás, esses têm sido os temas da série. Mas agora ficaram associados a um momento transformador, que de certo dará mais significado ao que irá acontecer. E se acompanhas a BD, até encaixa bem com o final deste arco. Foi também muito poderoso ficarmos a saber que as cenas do futuro são as esperanças do Carl, com todos juntos, em paz. É uma visão idílica, é verdade, mas é com base nisso que temos de viver.
Paralelamente temos a jornada do Morgan que está cego de violência. Tão cego que descarta a sua vida e a dos outros. No caso do Morgan o momento de mudança deu-se de forma mais forçada, mas o interessante foi ver as consequências dos seus actos. E não foi o que mais esperávamos. A cultura da violência transformou uma alma inocente numa alma corrupta. Estou a falar como é óbvio do Henry. Foi um momento muito poderoso quando Morgan decide que vai matar o Gavin e Henry mata-o primeiro, com uma frieza arrepiante.
Violência gera violência. Morgan traiu tudo aquilo em que acreditava, e não digo que não tivesse razão, e o resultado foi a destruição de algo tão sagrado como uma criança. E tudo isso faz paralelismo com a jornada do Carl e com a cena em que ele mata a criança na prisão. Esta cultura violenta torna o acto de assassinar demasiado fácil. É tão fácil que uma pessoa perde-se e deixa de ser quem é. Carl teve o discernimento de se conseguir salvar e Morgan tem o dever de salvar o Henry. Se não for pelo Carl que seja pelos seus próprios filhos, que poderiam muito ser o que o Henry é.
Este episódio foi muito bom, cheio de camadas, e com um óptimo desenvolvimento de personagens. Infelizmente os próximos episódios serão um bocejar do principio ao fim, com o último episódio da temporada a ser explosivo. Esta é a formula de The Walking Dead. Forma essa que já não engana ninguém, muito menos os fãs. A série está a cair a pique e só espero que acabe antes de bater no fundo.