A presença de Dwayne Johnson é uma constante na adaptação ou reconstrução cinematográfica de títulos de videojogos, séries ou filmes de há uma ou duas décadas. As mais recentes provas são Baywatch: Marés Vivas (2017) ou Jumanji: Bem-Vindos à Selva (2017), sobre os quais podes ler as críticas aqui e aqui, respectivamente. Mas enquanto num imperava o drama e no outro a fantasia, em Rampage: Fora de Controlo domina a ação.
Rampage – Fora de Controlo remete para uma série de videojogos desenvolvidos pela Midway Games no qual os jogadores assumiam o controlo de monstros gigantes e deveriam sobreviver aos ataques de forças militares. O engodo do filme é essencialmente este. Aprofundando a premissa, a qual necessitou da colaboração de quatro argumentistas, estes monstros são animais vítimas de uma modificação genética. A mutação confere-lhes características aterradoras, como um crescimento exacerbado e instintos violentos incontroláveis.
Pela sinopse e trailer sugestivos, não restam dúvidas de que o filme realizado por Brad Peyton é uma explosão de ação, efeitos especiais e Dwayne Johnson. A questão que se coloca é, serão estes elementos suficientes para o suportar?
Embora cada filme protagonizado por Dwayne Johnson se distinga do outro em conteúdo, a performance do ator permanece imutável. A sensação é a de se estar diante da mesma personagem. Uma personagem mergulhada em clichés éticos e que, numa apreciação global, é a menos cativante psicologicamente. Efetivamente, embora o ator seja o chamariz para qualquer um dos filmes mencionados, os holofotes nem sempre o acompanham. Seja a perder o protagonismo para Zac Efron ou o carisma para Jack Black, Dwayne Johnson acaba por vestir a pele das personagens menos memoráveis.
[irp]
No filme, o ator interpreta Davis Okoye, um primatólogo adverso a relações humanas em prol do contacto com animais. Okoye nutre uma bonita amizade com George, um King Kong albino extremamente inteligente e o último da sua espécie. Quando uma experiência misteriosa se apodera desta criatura amistosa e a transforma num monstro descontrolado, Okoye terá de descobrir o responsável pelo desastre e impedir que o seu país seja destruído. No fluxo deste enredo, Naomie Harris adquire um destaque repentino e, mais à frente, Jeffrey Dean Morgan dá-lhe a mão.
De facto, um dos maiores choques narrativos de Rampage – Fora de Controlo é o modo como se inicia tão tranquilamente e num instante irrompe num ritmo vertiginoso. Surgem personagens, desaparecem personagens, emergem enredos laterais e o desenrolar dos acontecimentos, embora bastante perceptível, segue um rumo turbulento. Nas cenas de ação, que ocupam uma parte significativa do filme, se não a sua maioria, os movimentos de câmara são demasiado instáveis, os sons ruidosos e a montagem frenética. O espectador nem sempre compreende o que está a ver ou o que o filme quer que ele veja.
Os diálogos lamechas e as piadas intermináveis cortam o impacto emocional do filme e retiram-lhe energia. A quantidade de valores morais e éticos a transbordar das palavras forçadas dos atores não encaixa no arranjo do filme. A tentativa de incentivar à lágrima através de imagens e diálogos manipuladores não funciona. De facto, Rampage – Fora de Controlo em pouco funciona. Até a qualidade dos efeitos especiais é questionável, considerando filmes de técnica tão aprimorada como Planeta dos Macacos: A Guerra (2017) (podes ler a crítica aqui).
Portanto, este é um filme que se resume a três monstros a destruir prédios e militares a tentar abatê-los. Na sua qualidade de filme de ficção científica, abraçado pelo modelo de Hollywood, Rampage – Fora de Controlo está dentro dos parâmetros. Contudo, não oferece precisão quer na sua execução técnica quer na sua estrutura narrativa.