O Cluedo é um dos meus jogos de tabuleiro favoritos. Mistura mistério, jogos de chance e relacionamento lógico num evento para toda a família. Bem, a minha paixão por policiais e histórias de detectives é um segredo mal guardado no fim de contas.
Por mais estranho que pareça não existem muitas adaptações de videojogos de Cluedo que sejam leais à estrutura do jogo de tabuleiro e ainda menos aquelas com multiplayer online. Problemas que não fazem parte de Cluedo: The Classic Mystery Game, o videojogo mais recente baseado nesta franquia.
Para quem não está familiarizado Cluedo passa-se numa mansão onde o seu dono, Dr. Black, foi assassinado por um dos seus convidados, que representam os jogadores. O objectivo é descobrir quem foi o assassino, qual foi a arma do crime e qual foi o local do crime antes dos outros jogadores.
Existem várias cartas que representam todos estes elementos relativamente a este mistério: 6 cartas com os suspeitos, 6 com as possíveis armas do crime e 9 com os locais do crime. No início da partida, uma carta desconhecida de cada tipo é guardada num envelope, esta vai ser a solução do mistério que temos de desvendar. As restantes cartas são baralhadas e distribuídas pelos restantes jogadores.
O jogador no seu turno, pode fazer uma sugestão do que poderá estar guardado no envelope de cada vez em que ele se encontra numa sala diferente da mansão. A pergunta vai rodando pelos restantes jogadores até que um tenha uma destas cartas, a carta é apresentada apenas a quem fez a sugestão e o turno acaba. Claro, uma carta não pode estar na mão de um jogador e no envelope ao mesmo tempo! Quando alguém achar que já resolveu o mistério pode fazer uma acusação. O jogador abre o envelope e se a solução estiver correta ganha o jogo, caso contrário é eliminado e não pode voltar a jogar.
Pode-se fazer várias manhas engraçadas à volta disto, como bloquear a porta de uma sala com a nossa peça ou fazer bluff e fazer uma sugestão com uma ou duas cartas que estão na verdade na nossa mão. Então como é Cluedo: The Classic Mystery Game? Surpreendentemente leal na verdade.
A única diferença que salta à vista é a casa de partida dos jogadores. No original todas as personagens têm a sua própria casa, distribuídas por toda a mansão, que por norma já vêm com uma ordem de jogada pré-definida. Nesta versão todos os jogadores começam na cave, no centro do tabuleiro, onde era colocado o envelope da solução na versão original. A razão desta mudança é óbvia, apesar da partida ser à mesma entre 3 a 6 jogadores, o videojogo suporta a escolha entre 12 personagens diferentes, portanto não convém existir lugar dedicado para cada uma delas. Esta mudança também torna o multiplayer online mais justo, já que todos os jogadores começam exactamente do mesmo sítio.
A ferramenta para tirar notas disponível, uma das ferramentas mais importantes de Cluedo, é versátil o suficiente para que seja útil aos jogadores mais experientes. Apontamentos sobre as cartas que são mostradas directamente ao jogador são escritos automaticamente pelo sistema. O mesmo acontece quando um adversário não tem a carta que foi sugerida. Tudo o resto tem que ser assinalado manualmente, como por exemplo, as cartas que foram descobertas por processo de eliminação. Existe a possibilidade para marcar as caixas com números de 1 a 5 que é o suficiente para jogar como deve ser, mas também não se perdia nada dar para introduzir algum texto… Ou colocar algumas notas sobre as cartas que estão na nossa mão.
A qualidade gráfica roça o nível intermédio. Os modelos 3D que compõem os tabuleiros e as peças são extremamente simples, sem grande detalhe inclusive na versão de PC. Agora as ilustrações que acompanham as sugestões e as acusações são outra história, são bem detalhadas e agradáveis de se ver. O videojogo não tem muita variedade de música, mas o pouco que tem enquadra-se bem no ambiente de híbrido de vitoriano/moderno que faz parte das edições mais recentes de Cluedo.
Agora chegamos à parte da crítica que dizemos “Ah… Isto também saiu para telemóvel”. Pelo preço inicial de 1€ a 10€ (dependente da plataforma), apenas recebes o tabuleiro normal, 5 das personagens clássicas: Coronel Mustard, Reverendo Green, Prof. Plum, Scralett e Sra. Peacock, e a nova personagem da edição de 2016, a Dra. Orchid. Outros tabuleiros temáticos, como o homicídio no estúdio de Hollywood ou no faroeste e outras personagens estão bloqueadas por detrás de microtransacções. Queres jogar com versão da Sra. White que pertence a versão base do tabuleiro de jogo? Temos pena, tens que largar no mínimo 2€.
Para ter o conteúdo todo tem que se pagar cerca 40€ mais coisa menos coisa, variando por plataforma e se compras tudo de uma vez ou não. Portanto o preço real do videojogo anda por essa casa de valores. Mas as coisas podiam ter sido piores, até alguns meses era possível basicamente fazer “batota” por um preço, através de umas hint cards… Incluindo em modos online. Mas felizmente este sistema já foi retirado graças às queixas dos jogadores que diziam, com toda a razão, que eram partidas que se pagava para ganhar.
Cluedo: The Classic Mystery Game faz as delícias a qualquer fanático deste jogo de tabuleiro, principalmente quando se joga online com outras pessoas. Algo que parece que vai durar, visto haver crossplay entre todas as plataformas! Mas a típica ganância desmedida dos mercados móveis deixa um péssimo gosto na boca de qualquer um com os custos abusivos que foram implementados.
Cluedo: The Classic Mystery Game já está disponível para IOS e Android, e na Steam para PC.