AGENTS OF S.H.I.E.L.D. | Discussão T05 E18

Nem todos os episódios merecem caps-lock histriónicos.

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Por Gui Santos escritor/a em SOMOSGEEKS.PT
Sou um cinéfilo viciado em narrativa, dado a devaneios pretensiosos, e a ficar constrangedoramente entusiasmado com tudo.

“All Roads Lead…”

OHMEUDE- não? Não? Estão a dizer-me que não… E é difícil discordar. Até eu, fã incondicional e defensor de Agents of S.H.I.E.L.D. tenho de concordar que agora já não são todos os episódios que merecem caps-lock histriónicos.

Não é que este episódio tenha sido mau! De maneira nenhuma. Não teve erros flagrantes como teve o episódio anterior, e para ser honesto teve momentos extremamente bons mais para o fim. É televisão competente, mas no geral este episódio não foi tão absolutamente entusiasmante e denso de momentos espectaculares como outros. Mas tendo em conta que este foi o 5º episódio antes do fim da temporada, eu estava à espera que as coisas estivessem numa escalada épica.

Ou então é só impressão minha, ou porque eu estava de mau-humor quando vi o episódio. Não sei. Diz-me tu.

O episódio abre com o Talbot, depois de ter sido activado como agente infiltrado da Hydra. O Talbot continua relativamente confuso e um pouco desorientado, mas agora com a informação nova de que ele levou uma lavagem cerebral da HYDRA, essa postura dele que antes gerava pena, agora transformou-se numa coisa creepy. Até mesmo mais tarde, quando está a interagir com a Robin e a Mãe, esta creepiness mantém-se mas a interpretação do Adrian Pasdar continua excelente, e continua a transmitir a sensação de um homem destroçado que está com tremendos conflitos internos, conseguindo gerar empatia pela personagem. Esta empatia é outra vez desafiada mais tarde no episódio quando ele estrangula a Mãe para raptar a Robin, tornando a personagem do Talbot ainda mais trágica, porque sabemos que aquilo não é ele.

E chiça que este sub-enredo do Talbot fica ainda mais pesado e dramático! Quando o Talbot está prestes a levar a Robin para fora da base da S.H.I.E.L.D., o Mack e o Coulson apercebem-se que ele mexeu com as câmaras de segurança e vão interceptá-lo e esta cena final está muito bem escrita e interpretada. Quando o Coulson o tenta convencer que ele foi programado pela HYDRA, o Talbot parece perceber isso e sente-se incapaz de lutar contra isso e mete a pistola à cabeça. Posso estar enganado, mas isto é talvez das cenas mais pesadas que vimos na série até agora, e o desespero na cara do Talbot é tão credível. As coisas ficam ainda pior quando o Coulson diz ao Talbot para apontar a pistola para ele. Lembra-te que apenas há 1 ou 2 episódios o Coulson estava com comportamentos auto-destrutivos porque sabe que vai morrer, e agora vejo isso de novo na cara dele. São dois homens que passaram por experiências extremamente traumáticas, a tentarem resgatar uma situação desesperada com atitudes que não são as mais racionais, e isso surge de uma maneira orgânica e não-forçada.

Mais cedo no episódio há outros indícios deste período emocionalmente difícil para o Coulson, quando ele tenta conversar com a May por ela lhe ter dito que o amava. Apesar de a apanhar no corredor ele não consegue verbalizar o que sente, perdendo mais uma oportunidade de se reconectar com ela de uma maneira construtiva. Pergunto-me se este vai-não-vai entre o Coulson e a May vai acabar por ter algum género de resolução. Nem digo que tenha de ser uma resolução positiva, mas precisa de se resolver.

Paralelamente, estou a adorar o desenvolvimento da relação entre o Deke e a Daisy, sobretudo porque parece tão unilateral. Ele fica deliciosamente embaraçado e a dizer parvoíces quando está ao pé dela, e a escrita e interpretação vendem isso muito bem, sem se tornar exagerado ou patético (quer dizer, épatético, mas é propositadamente patético). Isto gera posteriormente cenas hilariantes como aquela com o Deke, o Mack, e o Coulson a discutirem as suas vidas amorosas. Há qualquer coisa de incrivelmente relacionável em ver três homens a queixarem-se das suas relações, e é uma maneira engraçada de a série abordar directamente esses assuntos num momento que não parece forçado, em que as personagens estão relaxadas.

É muito giro ver o Mack frustrado e o Coulson a admitir os seus problemas, e a maneira como falam com o Deke, com uma condescendência amistosa é hilariante. O Deke está rapidamente a tornar-se numa das minhas personagens preferidas e a interpretação do Jeff Ward é muito carismática, com imenso sentido de timing cómico. Honestamente não me canso das piadas do peixe fora de água, que são infinitamente alimentadas pelo facto de ele ter vivido num futuro espacial distópico, e o detalhe de ele explicar a cena de que no futuro as pessoas mostram interesse romântico deixando um limão na almofada da outra é mais um exemplo disso. É genial quando mais tarde no episódio o Deke aparece muito naturalmente com um limão na mão e ninguém diz nada acerca disso.

Entretanto na base da HYDRA o Creel está reduzido à loucura, com a constante luta entre o Dr. Frankling e o Ian Quinn a discutirem dentro da sua cabeça. A representação do sofrimento do creel é desconfortável, e ele a bater com a cabeça na parede é outro momento surpreendentemente pesado neste episódio. Ver o Creel desta maneira preocupa ainda mais a Hale, que sabe perfeitamente que a Ruby está determinada a infundir-se com o Gravitonium. É nesse momento que a Daisy e a May entram na base da Hydra para tentarem descobrir o que se está a passar. Vê-las a darem porrada nunca deixa de ser satisfatório, e esta é mais uma cena muito bem coreografada. Mas depois a Hale rende-se e pede-lhes ajuda. A Hale continua irritantemente razoável e lógica, e consegue verdadeiramente convencer-me que a principal motivação dela é o bem-estar da Ruby. A Hale revela-lhes onde é que a Ruby e o Strucker estão com a Simmons e o Fitz.

Adoro ver a Daisy a tomar decisões. Este episódio já a mostra mais confortável com o seu papel de liderança, e isso funciona ainda melhor do que eu estava à espera. Sinto mesmo que isto já estava há muito tempo para acontecer, há um à-vontade da personagem nesta posição que subitamente parece extremamente natural.

Enquanto todas estas coisas acontecem, a Ruby, o Strucker, a Simmons, e o Fitz estão lá no complexo industrial a repararem a máquina que vai fazer a infusão do Gravitonium. Há vários momentos tensos entre eles, com a Ruby a pressioná-los para trabalharem mais depressa. Continua a ser interessante ver o Fitz e a Simmons chamarem atenção para o facto de que se morrerem quebram o loop temporal, e mais uma vez mostram que todas as circunstâncias os compelem a não o fazer (para ser honesto, não querer morrer é um impulso forte). Eventualmente reparam a máquina e a Ruby mete-se dentro dela para triunfantemente se infundir com o Gravitonium, e tal e qual como a Simmons a avisou, as coisas correm mal e ela parece entrar em sofrimento quase imediatamente, com o Strucker despassarado sem saber o que fazer. A Hale, a May, e a Daisy chegam enquanto as coisas estão a correr mal e param o processo.

E é aí que as coisas começam a ficar estranhas muito depressa! A Ruby sai da máquina a flutuar de uma maneira bizarra, claramente já a exibir poderes do Gravitonium. Há qualquer coisa de bizarro na maneira como ela está a li a flutuar inerte, complementado pela ausência de música. Ela cai ao chão e começa imediatamente a queixar-se que está a ouvir vozes a discutirem, tal como o Creel. Quando o Strucker se aproxima dela para a confortar, e ela aparentemente levanta a mão para lhe afagar a cara, do nada esmaga-lhe o crânio como se fosse uma lata de coca-cola! Chiça que aquilo foi desagradável! O efeito especial e o efeito sonoro foram particularmente horrorosos, e isso é complementado pelo facto de ter parecido completamente acidental por parte da Ruby! Ela parece surpreendida por tê-lo feito, e chocada com a facilidade com que matou o Strucker, que até agora era uma das poucas pessoas com quem ela se parecia importar.

O pânico só cresce a partir daqui, e a Ruby começa a ficar desorganizada. O desespero da Hale a tentar acalmar a filha, e a Daisy a tratá-la como se fosse uma bomba prestes a rebentar estão particularmente bem representados, e transmitem a urgência e perigo iminente da situação. O pânico da Ruby, a querer que lhe tirem as vozes de dentro da cabeça é muito desconfortável de ver. Há qualquer coisa na interpretação da Dove Cameron que me fez empatizar com o desconforto extremo em que ela está, e a clara impotência da mãe dela também é muito relacionável.

Depois a Yo-Yo, que continua limitada na utilização dos seus poderes porque interferem com as suas próteses mecânicas, chega à cena e AW SHIT!!! A Yo-Yo cortou-lhe o pescoço!!! Eu NÃO estava à espera disto! Pensava genuinamente que a Ruby ia acabar por ser a principal antagonista, e que ia ser ela a responsável pela destruição da Terra. A Daisy parece chocada com a decisão da Yo-Yo, mas, graças à escrita, torna-se compreensível porque é que ela o fez. Não só a Ruby cortou-lhe os braços, como a Yo-Yo teve a experiência traumática passada no futuro que a convence que é absolutamente necessário quebrar o loop temporal a qualquer custo. A própria Yo-Yo parece perturbada por tê-lo feito, mas declara que salvou o mundo.

Há ali um pormenor estranho, quando vemos uma luz branca a sair do corpo dela, que atordoa toda a gente, e permite a Hale fugir. Não sabemos ainda o que é que isto significa, mas também acredito que a situação ainda não se resolveu. O Fitz tem vindo a dizer imensas vezes que não é possível mudar o tempo, e parece-me demasiado fácil a solução ter sido simplesmente matar a Ruby. Numa cena durante o episódio a Robin aponta para um desenho da destruição da Terra e diz que vai acontecer em breve, portanto cheira-me que agora a equipa vai ficar a pensar que o problema está resolvido, quando as coisas vão continuar a desenrolar-se debaixo do nariz deles.

Na cena pós-créditos vemos de novo a Hale a ir ter com os Kree (eu já me tinha esquecido que eles existiam) e sugere que o Qovas os mate. Exactamente da mesma maneira como anteriormente víamos que a principal motivação da Hale era proteger a filha, agora que ela morreu a Hale parece reverter para toda a sua fúria vingativa alimentada por anos de treino e ambição Hydra. Estamos claramente a avançar para o fim da narrativa e para o culminar deste conflito todo.

Vamos ver se isto vai ser épico como merece ser. (pelo promo parece que sim!!!)

O problema do loop temporal ficou resolvido?

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