Channel Zero continua a produzir conteúdo de qualidade em mais uma temporada, desta vez intitulada “No-End House”. A primeira temporada, “Candle Cove”, foi um óptimo começo e deixou-me entusiasmada para ver o que viria a seguir; porém, houve alguns componentes de “Candle Cove” que me desapontaram na altura: a qualidade dos actores, a falta de lógica de partes do enredo, o terem deixado elementos importantes por explicar.
“No-End House” parece-me seguir a linha ideológica de Channel Zero na perfeição, mas é uma evolução, um passo em frente, e gostei muito mais de ver estes seis episódios do que os da primeira temporada. Sabendo que estão confirmadas uma terceira e uma quarta temporadas, as expectativas por aqui estão em alta – poderá Channel Zero continuar a evoluir, ou chegou ao seu pináculo?
Não nos podemos queixar da qualidade dos actores desta vez (se bem que nos possamos queixar da personalidade das personagens, como fiz mais do que uma vez ao longo das discussões). O maior destaque pertence a John Carroll Lynch, o simultaneamente aterrorizador e adorável Mr. Sleator, que fez um papel maravilhoso do início ao fim e tornou esta temporada credível. Um mau desempenho da parte dele teria estragado tudo. As nossas outras três personagens principais também estiveram óptimas, começando por Amy Forsyth como Margot Sleator, uma heroína que apesar de fazer lembrar imenso a Bella de Crepúsculo tem as suas qualidades redentoras, como… Uhm… Pronto, são poucas, mas isso não é culpa da actriz e sim dos escritores!
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O criador Nick Antosca pode não nos ter dado uma heroína forte em Margot, mas compensou com aquela que é para mim a melhor personagem da temporada, Jules, interpretada maravilhosamente por Aisha Dee. É a personagem na qual vemos o maior desenvolvimento pessoal, uma evolução gradual e credível, e o repertório emocional inesgotável de Aisha Dee torna isto possível (para além disso, ela tem o cabelo mais lindo que já vi em qualquer ser humano).
A outra destas três personagens é o horroroso Seth, interpretado por Jeff Ward – se achas que estou a dar algum spoiler sobre a história ao chamar-lhe horroroso, faz uma pesquisa de imagens no Google por “Seth Channel Zero” e diz-me que essa não é a cara mais creepy que já viste num homem. Foi uma tragédia esta temporada ter saído mais ou menos ao mesmo tempo que o filme IT, porque é impossível ver um sorriso do Seth e não pensar no palhaço Pennywise. Outra personagem que vale a pena destacar é JD, interpretado por Seamus Patterson, que fez com que nos apaixonássemos pela sua personagem de geek tímido a tentar encontrar a sua voz.
O conceito, desta vez, baseado na creepypasta da autoria de Brian Russell, centra-se à volta de uma casa. É algo que poderia perfeitamente existir em 2017 – é uma espécie de casa assombrada que surge de um dia para o outro depois de ter sido misteriosamente publicitada nas redes sociais e na televisão. Desta maneira, através de vídeos curtos e de rumores, a Casa chama imensos jovens curiosos que decidem entrar para experienciarem o terror verdadeiro em seis salas consecutivas, cada uma mais assustadora que a anterior. Há, claro, o rumor de que as pessoas que chegam à sexta divisão nunca mais são vistas… Mas isso não pode ser verdade, ou pode? O conceito atraiu-me pela sua adequação ao mundo moderno, e também porque eu seria exactamente o tipo de idiota que iria entrar nesta casa e nunca mais ser vista.
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Sem querer revelar demasiado, tenho que dizer que vejo uma linha ideológica que está a ser seguida pela série, uma temática central que continua desde “Candle Cove” – a memória. As nossas recordações de infância; os artefactos e artifícios criados pelas mentes jovens baseados nas experiências traumáticas e decisivas dos seus passados… E a natureza das recordações em si. Em “Candle Cove”, falamos muito sobre recordações artificiais e memórias editadas pelo tempo e pela lógica; em “No-End House”, vamos focar-nos no papel que as nossas recordações têm em formar aquilo que nós somos, e não apenas em se seríamos as mesmas pessoas se tivéssemos algumas recordações chave diferentes, mas também em se, sem recordações, seríamos humanos de todo.
Em resumo, recomendo esta série a qualquer pessoa que se sinta atraída pelo género de terror e thriller. Sendo que cada temporada é independente da anterior, esta é uma história isolada, e não é necessário ver a primeira temporada de todo (de facto, recomendo que vejas esta primeiro!). O facto de serem apenas seis episódios de quarenta e cinco minutos cada um também ajuda a que seja impossível perder o interesse naquilo que é de resto uma história que se desenvolve rapidamente e que nos surpreende em diversos momentos. Claro, fica novamente o aviso: não vejas esta série enquanto estás a comer, especialmente a partir do segundo episódio… E especialmente se gostares de comer romãs.
A terceira temporada de Channel Zero vai-se chamar “Butcher’s Block” e pelo teaser de vinte segundos que foi divulgado, vai ser ainda mais perturbadora que as anteriores. Esta é baseada na creepypasta de Kerry Hammond, “Search and Rescue Woods”, e quando estrear em 2018, estarei aqui à espera para me arrepiar contigo!