A Ciência E Filosofia De AGENTS OF S.H.I.E.L.D. | Vamos Falar De Universos Simulados

Será que estamos dentro da Framework?

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Por Gui Santos escritor/a em SOMOSGEEKS.PT
Sou um cinéfilo viciado em narrativa, dado a devaneios pretensiosos, e a ficar constrangedoramente entusiasmado com tudo.

Este artigo contém spoilers da 4ª temporada de Agents of S.H.I.E.L.D..

Oproblema de escrever discussões de Agents of S.H.I.E.L.D., é que nunca tenho espaço para escrever sobre todas as coisas que quereria. Há demasiadas ideias e conceitos que são abordadas na série para expor em discussões que não se querem excessivamente extensas (e eu estico-me a maior parte das vezes).

Portanto convido-te a acompanhares-me numa deambulação pelas ideias de ciência e filosofia que estão subtilmente integradas nesta série de televisão sobre super-heróis, agentes secretos, híbridos humano-alienígenas, espíritos de vingança demoníacos, ciborgues assassinos e inteligências artificiais alimentadas a livros de magia negra

Universos Simulados

A Framework é uma simulação virtual perfeita da Terra. Dentro da Framework todas as partículas são recriadas, todas as leis da física representadas com uma exactidão que as torna quase, ou totalmente, indistinguíveis da realidade. As pobres pessoas de Agents of S.H.I.E.L.D. fechadas dentro da Framework não sabem que estão numa simulação, e vivem as suas vidas na ignorância de que estão num mundo virtual gerado por um computador. Quando a Jemma e a Daisy entram na simulação, têm imensa dificuldade em convencer as outras personagens dessa realidade, e há várias que nunca acreditam nisso até verem provas concretas de que é verdade.

Nós não temos este problema. Pois não?

Então pensa nisto. Como já vimos antes, com o Sunway TaihuLight e o D-Wave 2, o poder computacional ao nosso dispor vai continuar a aumentar quase exponencialmente, de acordo com a Lei de Moore. Uma coisa que gerações futuras poderão fazer com os seus hiper-super-computadores é gerar simulações detalhadas do seu mundo. E se essas simulações fossem poderosas o suficiente, então poderiam conter em si mesmas múltiplas consciências geradas artificialmente. Então é possível que uma vasta maioria de mentes como as nossas não pertençam aos humanos originais, mas sim a pessoas simuladas pelos super-computadores dos descendentes avançados dos humanos.

Moléculas

Esta é a ideia proposta pelo filósofo Nick Bostrom, em 2003, que afirma que por improvável que isto pareça, só há 3 hipóteses:

  1. A civilização humana extingue-se antes de atingirmos esse nível tecnológico;
  2. A civilização humana atinge esse nível tecnológico mas decide colectivamente não criar simulações de realidades (seja porque motivo for);
  3. A civilização humana cria simulações de realidades.

Pelo menos uma destas três hipóteses tem de ser necessariamente verdadeira. E a partir do momento em que assumimos que a hipótese 3 pode ser verdadeira, temos de considerar a hipótese de estarmos nós próprios, neste momento, a viver numa dessas simulações.

A verdade é que não sabemos quanto tempo duramos. Os dinossauros duraram 165 milhões de anos, e nós só estamos cá há 5 milhões de anos. Tanto quanto sabemos é possível ultrapassarmos o aquecimento global, e continuarmos a evoluir. Ou seja, não é impossível, tem uma posibilidade maior que 0. E desde quando é que alguma vez NÃO fizemos alguma coisa? A sério, tenta lembrar-te da última vez que descobrimos uma tecnologia e decidimos que “, não, não vamos brincar com ela”. Há sempre alguém que vai fazer a experiência, seja ela qual for. Mais uma vez, não é impossível. E se assumirmos que pode ser verdade que estas simulações possam existir, então a probabilidade de estarmos numa é extremamente elevada.

Porque se uma é construída, milhares ou milhões podem ser construídas. E dentro dessas simulações, outras simulações podem ser criadas. Aumentando exponencialmente a probabilidade de estarmos, neste momento, a viver uma simulação.

Sim, eu sei que parece uma ideia ridícula, mas Elon Musk, investidor, engenheiro e inventor, presidente da Tesla e do programa espacial independente SpaceX, e votado como o mais provável de se vir a tornar num super-vilão, acredita nesta teoria. Elon Musk afirmou em entrevistas que “há uma possibilidade num bilião de não estarmos a viver numa simulação”.

O problema é que, tal como a Daisy e a Jemma, se tentares convencer alguém disto vão olhar para ti como se fosses doido. Vão exigir provas.

Mas contrariamente a outras ideias ridículas como a Teoria da Terra Plana, que é facilmente refutada, ou a Existência de Deus, que não é sequer possível testar, a possibilidade de estarmos num Universo Simulado é de facto passível de ser testada cientificamente. Os físicos Silas R. Beane, da Universidade de Bona, Zohreh Davoudi e Martin J. Savage, da Universidade de Washington, publicaram em 2012 um artigo propondo uma maneira de provar se estamos a viver numa Simulação ou não. Assumindo recursos computacionais finitos, um Universo seria simulado dividindo o espaço-tempo num conjunto discreto de pontos. Cientistas que estudam Cromodinâmica Quântica, actualmente fazem experiências nas quais geram mini-simulações de núcleos atómicos, e descobriram que tentar simular a realidade a esse nível cria diferenças inevitáveis entre os núcleos simulados e os núcleos reais.

Uma dessas diferenças está na maneira como raios cósmicos de energia-ultra-elevada se distribuem, e que se fosse observada na realidade, seria uma prova a favor de estarmos a viver numa Simulação. Eu nem sequer vou começar a tentar fingir que percebo o que acabei de escrever, mas o ponto é que a possibilidade de estarmos a viver neste momento numa simulação não só não é impossível, como é possível de ser testado experimentalmente, que é mais do que se pode dizer do Reiki, por exemplo.

Como é natural não existe uma resposta definitiva a estas questões, e é por isso que continuam a ser estudadas pela ciência e filosofia. Não sabemos como funciona a nossa consciência, não sabemos se algum dia vamos ter máquinas que pensam como nós, não sabemos se vão merecer direitos. Nem sequer sabemos se vivemos numa simulação ou sequer se as nossas decisões são verdadeiramente livres, ou se somos escravos do Determinismo do universo.

Para mim o que é impressionante é que uma série de super heróis, alienígenas e magia negra tenha conseguido enfiar introduzir tanta filosofia e ciências pelo meio das explosões e robôs assassinos.

Estaremos a viver numa simulação?

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