Crítica | Attack On Titan

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    Attack on Titan é uma manga/anime de grande sucesso e popularidade mundial, e este filme live-action é a mais recente tentativa da indústria cinematográfica Japonesa a tentar transportar esses dois meios para o grande ecrã.

    Attack on Titan do realizador Shinji Higuchi é o primeiro volume de uma série de duas partes, que será seguido por uma sequela com o título óbvio de Attack on Tittan: End of the World.

    À superfície, este filme realmente parece-se com Attack on Titan. Ao longe engana. Se alguém descrever este filme por alto faz realmente lembrar a anime e a manga que os fãs adoram – há muralhas, Titãs que comem pessoas, Three Dimensional Maneuver Gear, e algumas das personagens têm o mesmo nome.

    Mas é aí que as parecenças desaparecem, pois o filme mal acabou de começar e percebe-se que vai ser algo completamente diferente do que era esperado.

    Attack on Titan é um insulto.

    É óbvio que certas mudanças ao source material são necessárias para fazerem um filme melhor. Mas as mudanças aqui só tornaram tudo pior.

    Não vale a pena falar muito sobre o enredo, pois é parecido com o que já se viu – o Colossal Titan abre um buraco na muralha e Titãs aparecem depois para um festim, e mais tarde é decidido que se deve tapar o tal buraco. Todas as mudanças que foram feitas então apenas acontecem devido a todas as outras que decidiram fazer ao mundo em que a história decorre e às próprias personagens.

    Porque enquanto a manga e anime parecem tomar lugar num RPG Japonês retratando a ideia deles de como era a época medieval Europeia, este filme passa-se num futuro pós-apocalíptico. Sim, a anime transmite essa ideia, e surge para quem vê a teoria que talvez tudo se passe no futuro distante, em que a humanidade devido ao aparecimento dos Titãs regrediu até à Era das Trevas, mas aqui toda a subtileza foi atirada janela fora.

    Vê-se ao longo do filme blocos de apartamentos em cimento, camiões blindados, bazucas, helicópteros destruídos, bombas daquelas lançadas por aviões, engenhocas, lanternas com bateria, explosivos, pianos partidos, etc.

    É também um mundo distópico, em que por alguma razão nunca explicada as pessoas não se podem casar com quem querem, e a Military Police Brigade anda de um lado para o outro com óbvios uniformes pretos Nazis, completos com uma fita vermelha no braço. A mudança é evidente e ridícula já que estes são os seus uniformes na anime e manga:

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    A Military Police Brigade é corrupta na source material, mas não são tão maus como a S.S.. Ou o facto de originalmente a história se passar na Alemanha levou a este tipo iconografia? As fitas vermelhas também são uma criação para o filme, como se a fita vermelha no braço não fosse suficiente.

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    E para quem já viu a anime ou está a par da manga, há mais um motivo para saber logo nos primeiros segundos do filme que provavelmente não vão conseguir gostar dos 90 minutos que se seguem – a origem da muralha é completamente alterada.

    Outra mudança óbvia é que o famoso 3D Maneuver Gear só foi inventado depois do primeiro ataque.

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    Mas seria de esperar que criaturas com tanto mistério na sua origem e comportamento – e que nem falam – não precisariam de ser alteradas, mas até elas sofreram mudanças. Aqui os Titãs são sempre pálidos, quase espectrais, não interessa a luz; existem imensas mulheres quando deveriam ter ficado todos surpreendidos quando aparecesse a Female Titan pela primeira vez; e em vez de terem uma boca enorme cheia de dentes, todos eles parecem sofrer do trope Glaslow Grin, com cortes nos cantos das bocas como o Joker em O Cavaleiro das Trevas.

    O seu comportamento também é bizarro, pois apesar de na anime eles apenas grunhirem ou gritarem ocasionalmente, os Titãs do filme passam a maior parte do tempo a soltar risadas assustadoras e arrepiantes. E a forma como comem as pessoas também foi alterada – é compreensível que gostassem de mostrar sangue para tornar o filme mais adulto, mas os Titãs parecem realmente interessados em rasgar as pessoas antes de as levar à boca, ao ponto em que se vê mais disso do que eles a alimentarem-se. Uma cena particularmente estranha é quando um grupo de Titãs ataca pelo telhado uma igreja cheia de gente e vêem-se rios de sangue a jorrarem por baixo das portas trancadas, parecendo que eles estão a esmagar as pessoas em vez de as comerem.

    E o Titã Bebé não faz qualquer sentido, principalmente porque praticamente duas cenas antes falou-se de que os Titãs não têm órgãos sexuais e ninguém faz ideia de como eles se reproduzem. Mas este bebé gigante é uma metáfora perfeita para as mudanças deste filme – enormes, ilógicas e perturbadoras.

    Mas quem sofre mais são sem dúvida as personagens. Algumas têm o mesmo nome que as de Attack on Titan, mas não são as mesmas pessoas. Nem vale a pena discutir porque são todos Japoneses em vez de brancos com nomes Europeus, já tudo foi dito nos meses antes da estreia do filme.

    Algumas personagens nem aparecem – o pai de Eren nem sequer é mencionado, e é uma das personagens mais importantes da história apesar de basicamente só aparecer na primeira temporada em flashbacks. E outras são ridículas – existe uma personagem que ataca os Titãs com um machado gigante, no chão, e é forte o suficiente para atirar um deles para longe alguns metros.

    O que se manteve mais inalterado foi Armin, que continua medricas e influenciável, com grandes conhecimentos do mundo para lá das muralhas, com a diferença de que aqui tem jeito para fazer engenhocas e quer fazer disso a sua vida.

    Levi, o destemido líder da Special Operations Squad, preferido de muitos fãs, aqui não existe. Foi substituído por Shikishima e nem a capa verde os dois têm em comum. Shikishima é convencido, irritante, com a mania que é engraçado, e até um pouco arrepiante quando resolve atirar-se à Mikasa em frente de Eren – a cena da maçã é particularmente horrível. Esta é uma personagem que está disposta a ver pessoas serem comidas e não faz um esforço muito grande para matar os Titãs que atacam, e quando Eren perde a sua perna manda uma boca e vira costas em vez de o ajudar.

    Enquanto originalmente Eren é capaz de começar uma luta com os guardas por estes estarem a beber e não serem capazes de defender as pessoas caso houvesse um ataque de Titãs, aqui parece nem realmente acreditar na sua existência, como se fossem uma invenção do governo para os manter dentro das muralhas, ou pelo menos que estão seguros já que não havia um ataque há mais de 100 anos. Também está sempre disposto a começar a andar à porrada, mas em vez de precisar de ser salvo por Mikasa, aqui parece um mestre de artes marciais, dando saltos acrobáticos para dar joelhadas na cara das pessoas em câmara lenta. As suas motivações para se juntar ao exército também não são as mesmas – não por raiva aos Titãs, mas por sentimentos de culpa.

    E Mikasa? Há uma Mikasa neste filme, mas é completamente irreconhecível. Neste caso, as suas mudanças, de facto, fazem sentido devido a tudo o resto que mudaram na história – são o resultado da sua origem ser diferente, e também de ter sido deixada para trás depois do primeiro ataque de Titãs, acabando por receber o seu treino exclusivamente de Shikishima. Como não foi raptada e salva por Eren e não foi obrigada a lidar com terceiro raptor, ela no início do filme é sensível, e em vez de andar a salvar Eren das bulhas que ele começa, é Eren que a protege quando se metem com ela. Depois do ataque inicial, a personagem desaparece e é presumida morta, até surgir mais perto do fim do filme como Goddess – uma lenda urbana entre os soldados, por ser a segunda melhor guerreira de sempre. E depois de tanto tempo separada de Eren, Mikasa quando o vê ignora-o, nem sequer lhe dirige a palavra, e mais tarde ataca-o por estar a fazer barulho? Além disso, deixa que Shikishima se atire a ela, dando-lhe uma maçã à boca enquanto praticamente a abraça por trás, ao mesmo tempo que olha para Eren, como se lhe quisesse fazer ciúmes? E quando Eren perde a perna, olha para ele e em vez de o salvar, vai matar mais Titãs? Quem é esta pessoa? Certamente não é a Mikasa que nenhum fã conhece.

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    É insultuoso.

    E mesmo que os fãs sejam capazes de deitar fora as suas expectativas antes de começarem a ver o filme, ou para alguém que nunca ouviu falar da história e nunca leu a manga ou sequer viu a anime, Attack on Titan continua a ser um mau filme.

    Para um filme que não está a adaptar nenhuma anime ou manga – não está mesmo – este filme realmente parece uma adaptação, com cenas a passarem demasiado rápido, e havendo sempre uma constante sensação de que se está a perder coisas, como se houvesse saltos no tempo, apesar de tudo se desenrolar em praticamente três dias. As personagens também não são bem explicadas, e as motivações da maior parte delas desconhecidas, como se os cineastas por trás do filme tivessem achado que o público já as conhece bem, o que é impossível depois de todas as mudanças.

    A cinematográfica do filme é inconstante, por vezes belo, outras feio – e como se fosse de propósito para irritar os fãs, a cena mais bem filmada é a já mencionada cena da maçã –, o tom do filme anda por todo o lado – a cena de «Queres tocar nas minhas mamas, Eren?» é particularmente boa para ranger os dentes –, e os efeitos especiais são risíveis em 2015.

    O Colossal Titan tinha melhor aspecto na publicidade do Subaru, e dá mais para revirar os olhos do que sentir medo. E a luta final, entre Eren em forma de Titã e os Titãs, parece saído de um episódio de Power Rangers dos anos 90, com pessoas em fatos à porrada no meio de uma cidade em miniatura. O CGI também é péssimo, e o fundo verde em que certas cenas foram filmadas é óbvio.

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    A banda sonora também é estranha e mal usada, feita de coros, ou clássica, ou com guitarras elétricas e batidas pulsantes durante as cenas de ação. É tão má que literalmente distrai.

    Há a possibilidade de alguém alguma vez fazer um bom filme de Attack on Titan. Este não é esse filme. E pelas cenas que se vêem nos créditos do filme, Attack on Titan: End of The World também não será.

    Lê mais sobre Attack on Titan.

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    4 COMENTÁRIOS

      • Já disseram que a manga está cerca de 60%terminada e que já não dura muitos mais anos, de que estão à espera? A desculpa é que tinham adaptado muito da manga para anime e estavam à espera que saísse mais, mas e agora? Em vez de mais episódios recebemos isto aqui. tsk tsk

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