Viram o Tudo Bons Rapazes? E o Casino? Então e o The Departed – Entre Inimigos? Ou se calhar Os Intocáveis?
Se viram qualquer um desses famosos filmes de gangsters, então viram o Black Mass: Jogo Sujo.
Não me interpretem mal! O Black Mass: Jogo Sujo é um bom filme! Bem filmado, excelente cinematografia, óptima direcção de arte, muito atmosférico, com alguns momentos de tensão muito bem construídos.
Só que a história é a mesma de todos os outros filmes de gangsters que já apareceram antes, e que vão continuar a acontecer. Mais uma vez, isto não é uma coisa má! Especialmente se se gostar de filmes de gangsters, e eu até gosto de filmes de gangsters.
A história é exactamente a mesma de todos os outros. Um gangster pequenino começa a crescer, mata muita gente, elimina a competição de formas desnecessariamente violentas, faz acordos sujos com a polícia, ganha imenso dinheiro, torna-se ganancioso, depois a determinada altura começa a trair os próprios comparsas, começa-se tudo a desmoronar e no fim é preso.
As coisas vão acontecendo porque sim, mas nunca há realmente um conflito que precise de ser resolvido, logo não há tensão dramática. Simplesmente estamos a ver eventos a desenrolarem-se sem nunca sabermos bem porque é que nos havemos de importar com eles.
A melhor comparação que posso fazer é com o Golpada Americana, também acerca de um criminoso, também envolvido com o FBI, mas com uma história extremamente divertida e cheia de suspense.
Algumas pessoas poderiam argumentar que este filme é mais interessante porque é baseado em pessoas reais e eventos que aconteceram mesmo, mas eu ainda estou para perceber porque é que isso torna um filme subitamente melhor. Quanto muito aumenta a probabilidade de o filme ser mau, porque a vida real raramente se traduz numa estrutura narrativa de três actos, que é a que funciona melhor para contar uma história interessante.
Na realidade a personagem principal, o James “Whitey” Bulger foi uma figura história bastante interessante, e recomendo que leiam a página da wikipedia sobre ele! Se tiverem mesmo curiosidade podem até ir ler um AMA feito por um dos jornalistas que denunciou o seu envolvimento com o FBI.
Mas estou a afastar-me do que interessa.
O filme vale pela interpretação do Johnny Depp! O Johnny Depp está fantástico neste filme, mas não precisavam que eu vos dissesse isto pois não? O Johnny Depp está fantástico em qualquer papel em que não precise de cantar.
Finalmente ele faz um papel no qual não tenha de ter piada ou ser bizarro, e é um gosto vê-lo a fazer algo que não seja o que estamos habituado a vê-lo fazer ultimamente.
Não está irreconhecível, a caracterização não o muda ASSIM tanto, mas está definitivamente diferente.
A interpretação dele é definitivamente o ponto mais forte do filme, e que interpretação! Ele vende a sua personagem tão tão bem! É absolutamente assustador a maior parte do tempo, transmite uma violência tremenda, e sempre de forma muito subtil, muito desassumida. Quase nunca levanta a voz, mas os seus olhares são aterradores.
Definitivamente uma das suas melhores interpretações!
Depois temos um elenco de secundários famosos, todos eles muito competentes e no geral bastante desaproveitados.
O Joel Edgerton faz de agente do FBI corrupto, e faz muito bem. É quem tem mais tempo de ecrã depois do Johnny Depp, e a sua interpretação é sólida.
Depois temos o Bedlington Crackerdong a fazer de irmão do Whitey Bulger, o Kevin Bacon como outro agente do FBI, o Adam Scott (do Parks and Recreation) como outro agente do FBI, o Corey Stoll (do Homem-Formiga) como procurador público, o Peter Sarsgaard como um bufo e o Jesse Plemons (do Breaking Bad) como capanga. Todos eles com excelentes interpretações que infelizmente duram muito pouco tempo.
O realizador, Scott Cooper, já tinha feito outros dois filmes (Para Além das Cinzas, e Crazy Heart) que eu não vi, mas que assumo que estejam filmados de maneira competente. Talvez? Não sei, só vendo. Porque este filme realmente só me diz que o Scott Cooper é um realizador que não comete erros, mas isso é diferente de ser um bom realizador.
Em última análise este é um filme que eu sei que daqui a um ou dois anos vou estar a pensar se o vi ou não, porque para além do Johnny Depp não tem nada de memorável.
