Crítica | Homem Irracional

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    Woody Allen é um realizador de referência, e mais uma vez dá-nos uma obra cinematográfica cheia de mestria.

    Este filme marca um regresso de Woody Allen a um tom mais pesado, lidando com temas como a depressão, o suicídio e o homicídio. No entanto, apesar de pesado o filme consegue ter um aspecto leve e é filmado quase como se fosse uma comédia. Há uma quantidade surpreendente de cenas que são cómicas, apesar de não haver piadas propriamente ditas.

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    A narrativa tem a estrutura de um murder-mistery, de que Woody Allen gosta tanto, mas contado de forma invertida. Ou seja, contrariamente ao habitual, o público rapidamente descobre quem é o assassino, e cabe a todas as outras personagens resolverem o mistério. A acção decorre de forma extremamente natural, nunca é previsível, e a narração em voice-over das duas personagens principais nunca parece forçado.

    A história centra-se à volta da ideia de como a sorte é uma força determinante na vida, com as personagens estando à mercê dos acasos aleatórios que acontecem nas suas vidas. O filme funciona como uma nova abordagem à mesma narrativa presente no seu filme Match Point de 2005. Há todo um tom de gozo misturado com ideias muito pesadas que tornam esta história extremamente interessante.

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    Joaquin Phoenix é o avatar de Woody Allen, sendo esta a primeira vez que trabalham juntos. Representa a personagem de um professor de filosofia numa espiral descendente de alcoolismo, auto-destruição e Sartre, e tem uma interpretação brilhante. A sua personagem é muito reminiscente das caricaturas atormentadas e introspectivas que Woody Allen fazia de si mesmo nos seus primeiros filmes, sobretudo em Manhattan (1979).

    Emma Stone, que já tinha trabalhado com Woody Allen em Magic in the Moonlight (2014), está excelente no seu papel. Representa o papel de uma estudante universitária que se apaixona pela personagem de Joaquin Phoenix e fica determinada a mostrar-lhe a alegria de viver. Emma Stone emula perfeitamente a personagem feminina típica de Woody Allen, que há décadas teria sido dada à Mia Farrow ou à Diane Keaton.

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    A realização é impecável. Aliás, a imensa qualidade de toda a história e de todos os planos quase que passa despercebida, porque Woody Allen consegue dar a impressão que fazer obras-primas de cinema é fácil.

    A música de soft-jazz dos anos 50 é a típica de Woody Allen.

    Só tenho um (talvez dois) apontamentos negativos a fazer a este filme: é mais um filme de Woody Allen, sem tirar nem pôr, o que é óptimo para quem já gosta de Woody Allen, e mau para quem não gosta. A última cena de todas poderia ser perfeitamente descartada, mas quem sou eu para pôr em causa um gigante do cinema como Woody Allen.

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