Filmes do género romance dificilmente captam a minha atenção por usualmente terem por base uma relação amorosa ao invés desse vínculo ser um complemento à trama. Ainda assim, Viver Depois de Ti soube cativar o público. A escolha da famosa Emilia Clarke da série A Guerra dos Tronos e Sam Clafin da saga Hunger Games como personagens principais foi um chamariz perspicaz.
Viver Depois de Ti é baseado no livro de Jojo Moyes com o mesmo título, publicado em 2012. É a estória de William Traynor (Sam Claflin) e de Louisa Clark (Emilia Clarke), dois jovens vindos de estratos sociais distintos e com personalidades contrastantes. Will é um jovem frio e revoltado devido ao acidente que o deixou tetraplégico. Lou é uma jovem excêntrica e alegre. É quando William está decidido a pôr termo à sua vida e Louisa perde o emprego que todas as condições se proporcionam para o encontro dos dois. Como em qualquer romance, a vida de ambos estaria prestes a mudar para sempre.
Na premissa desta estória reconhecem-se elementos análogos à d’A Bela e o Monstro ou até de Encantada da Walt Disney Pictures. Com efeito, Louisa assemelha-se a uma personagem retirada de um conto de fadas. Veste-se de forma extravagante, é dotada de uma personalidade genuína e o sorriso acompanha-a na maior parte do tempo. Will é o príncipe encantado, mas ainda demasiado amargurado com a vida para acreditar em tais contos de fadas. Será com a companhia um do outro que os dois aprenderão a ver a vida sob prismas diferentes.
O primeiro ponto de transição inicia-se quando Lou é contratada para cuidar de Will. Na altura, depara-se com uma atitude distante e desagradável da sua parte. Will, por sua vez, é confrontado com uma aura criativa e cheia de energia vinda da jovem. Sem qualquer espanto, sendo este um filme assumidamente romântico e previsivelmente previsível, os dois apaixonam-se. Cria-se assim a ilusão do jovem estar a recuperar a vontade de viver. De facto, o enredo foca-se na demanda de Lou por dissuadir Will de querer ser eutanasiado. Compreendemos que o tema controverso deste filme se prende efetivamente à liberdade de escolha. Um retrato, aos olhos da autora, do imenso sofrimento que uma tragédia pode causar. Sofrimento esse capaz de abalar para sempre a sanidade e felicidade de quem a sofreu, ao ponto de a incitar a optar pela morte. É o que acontece com William Traynor.
Admiro a coragem da autora Jojo Moyes e da realizadora Thea Sharrock por tratarem de forma tão crua quanto doce um tema de tal maneira polémico e delicado como a eutanásia. Viver Depois de Ti é um conto de fadas envolto em realidade. Existe esperança, amor, revolta, desespero e todo um leque de sentimentos reais para quem sofre diariamente. Existe uma frieza maravilhosamente terna neste filme e é isso que o distingue de adaptações para o grande ecrã de obras como as de Nicholas Sparks, por exemplo.
A interpretação de Emilia Clarke é surpreendente quando se tem tão presente a sua personagem em A Guerra dos Tronos.
É uma estória delicada e ternurenta acompanhada de uma cinematografia harmoniosa. Porém, e embora se destaque em alguns pontos, é só mais uma estória na imensidão de adaptações de romances para cinema. Surpreende, contudo, a interpretação de Emilia Clarke. Quando se tem tão presente a sua personagem em A Guerra dos Tronos, a expressividade que lhe flui a nível corporal neste papel assalta-nos de surpresa. A participação de Matthew Lewis também não passa despercebida. Feliz ou infelizmente há papéis que marcam os atores para toda a vida. Para seguidores da saga Harry Potter, Lewis foi, é e será o eterno Neville Longbottom.
Em suma, Viver Depois de Ti é cativante o suficiente para entreter. Transpira esperança e ternura, embora a temática em que se insere pareça não o permitir. É pena que seja apenas mais um entre os milhares de filmes românticos que voam com o tempo, não deixando qualquer rasto da sua passagem.