Os critérios de tradução para títulos de filmes estrangeiros continua a ser um mistério por resolver. O enredo de Orgulho e Preconceito e Guerra desenrola-se durante o século XIX, numa Inglaterra caótica e em alerta devido a um vírus que se propagou, transformando grande parte da população em zombies. Surpreendentemente, o título original deste filme é Pride and Prejudice and Zombies, dando especial ênfase aos zombies, ou não fosse toda a visão de Seth Grahame-Smith, inspirada no universo de Jane Austen, convergir nesse pequeno (grande) detalhe. Talvez «guerra» seja mais apelativo que «zombies», se o público-alvo não estivesse explicitamente direccionado para os apreciadores de filmes apocalípticos onde os mortos-vivos proliferam a um ritmo desmesurado.
A história gira em torno de uma família da qual fazem parte um casal e as suas 5 filhas. A propagação do vírus responsável por transformar pessoas em zombies obrigou a que vários dos não infectados fossem enviados para o Japão ou para a China, a fim de se prepararem para um possível ataque. As irmãs Bennet são treinadas na China, sendo confrontadas no seu regresso com a urgência da mãe em casá-las com um homem de boas famílias. Nesta necessidade premente de serem desposadas, Elizabeth (Lily James), a mais vigorosa e independente, e Jane (Bella Heathcote), considerada a mais bela e desejada, destacam-se entre as demais irmãs.
Embora Burr Steers, o realizador e argumentista, apresente um conceito diferente da adaptação cinematográfica do livro Pride and Prejudice, de Jane Austen, realizada por Joe Wright em 2005, a delicadeza e elegância de Keira Knightley continua presente. Ainda assim, Lily James encarna uma Elizabeth igualmente encantadora, tão frágil quanto corajosa, fascinando-nos com a sua beleza, inteligência e determinação. Infelizmente, o romance com Darcy (Sam Riley), nesta versão um caçador de zombies, tão arrogante quanto implacável, é pouco elaborado, bem como a própria personagem. Sente-se a química entre os 2 actores e personagens, mas pouco, e deixa um travo amargo pensar que este filme poderia ter sido mais polido, melhor estruturado e mais desafiante do que aquilo que é.
Todavia, sobressaem os fantásticos figurinos de Julian Day, especialmente os das 5 irmãs. Curioso e notável notar como as roupas de Lily James surgem sempre com cores mais fortes e chamativas. Uma escolha acertada para realçar não só a personagem como a sua personalidade. A Bella Heathcote, por outro lado, são oferecidos figurinos mais leves, de tons suaves a lembrar uma princesa.
Burr Steers terá tentado adornar Orgulho e Preconceito e Guerra de tantos estilos que acabou por deixar aquém das expectativas todas as premissas às quais parece ter querido propor-se. A intenção de procurar a sátira ao serpentear pelos pressupostos de um filme de época, investindo no terror complementado com a acção e enamorando o drama até se deleitar no romance, dotou o filme de apontamentos interessantes mas a procura de complexidade esvaziou-o em desenvolvimento. A determinada altura, isto é, no início do filme, acreditamos ter à nossa espera um leque de surpresas aterrorizadoras, mas essa ideia rapidamente se desfaz, bem como ansiamos por um romance estimulante que nada terá de significativo. A previsibilidade adensa-se com o decorrer dos acontecimentos, talvez por não ser dado o destaque merecido a alguns, apressando-os em momentos vagos e fugazes, descredibilizando a acção. As personagens secundárias, por sua vez, parecem meros adereços. Não me coíbo de referir Lena Headey, cuja relevância na trama é mínima e a pala no olho é absolutamente distractiva…
Orgulho e Preconceito e a «Revolta dos Zombies» suscita curiosidade pelo simples facto de se associar à obra de Joe Wright e por ser a adaptação cinematográfica do sucesso de Seth Grahame-Smith. Poderia ter sido um filme cativante, de facto, mas cai na banalidade hollywoodesca.