“He Gone”
Raios para esta série que não pára de ficar melhor. A sério que eu faço um esforço consciente para não estar sempre no registo de “OHMEUDEUSESTASÉRIEÉINCRIVEL” mas com episódios destes começa a tornar-se difícil.
Lembras-te quando eu ao início dizia que a série era lenta, as coisas pareciam confusas e algo desconectadas umas das outras, e que havia algumas importantes divergências em relação ao material original? Pois bem, o ritmo melhorou espectacularmente, e toda a lentidão inicial foi mais do que justificada pela conexão que eu sinto a estas personagens agora. As divergências ao material inicial fazem com que a série seja de facto MELHOR que o original, pelo menos até agora. As personagens são mais interessantes, mais ambíguas, muito mais relacionáveis.
Igualmente, ao início eu tinha dúvidas sobre se a série teria coragem para pegar em coisas que estavam no material original mas que poderiam eventualmente ser demasiado violentas ou perturbadoras para aparecer em televisão, mas agora não só estou convencido que a série vai mesmo pegar nessas coisas, como tenho genuinamente medo de as ver num ecrã, de tão perturbadoras que são.
Não queres ver o Eugene no Inferno? Eu quero, mas ao mesmo tempo não quero. Quero proteger-me da maneira depravada como esta série provavelmente vai representar o Inferno e o que acontece ao Eugene lá, mas uma parte de mim não consegue deixar de querer saber o que acontece.
O início deste episódio é mais uma vez brilhante. A sobreposição de um hino cristão absolutamente clássico às imagens do Jesse a preparar a sua missa é uma decisão artística excelente, e a transição para o grande plano do pedaço de chão de onde o Eugene desapareceu é igualmente boa. A seguir temos uma cena que só tem 3 elementos: um grande plano da recriação em miniatura do ataque ao Álamo que o Odin Quincannon tem no escritório, com um zoom para a sua cara enquanto ele calmamente bebe um whiskey à janela, os sons torturados das vacas a serem mortas no matadouro que ele ouve através do intercomunicador, e uma nota musical de fundo que vai crescendo em intensidade até se sobrepor a tudo o resto. Fiquei cheio de arrepios. A cena cresce em intensidade de uma forma brilhante, só à custa da composição e do som. Genial.
A sério, esta série está tão bem escrita e tão bem filmada que eu podia escrever textos acerca de qualquer uma das cenas. Não vou fazer isso. Não precisam de agradecer.
As minhas coisas preferidas neste episódio:
A representação da infância da Tulip e do Jesse. Percebamos muito melhor a sua proximidade emocional, percebemos que a sua relação é muito mais de irmãos do que de namorados, e isso dá toda uma nova dimensão ao facto de a Tulip chamar namorado ao Jesse. Percebemos o estigma social com que a Tulip cresceu, maravilhosamente representado pela cena inicial em que ela persegue os miúdos que roubaram as calças ao tio bêbedo. Aquele plano tem uma composição fantástica, parece um quadro religioso renascentista.
As relações inter-pessoais entre as personagens principais adensam-se, e a conversa entre a Tulip e o Cassidy é particularmente tensa e bem construída. Num único diálogo é reforçada a relação forte que cada um deles tem com o Jesse, e ao mesmo tempo que essas relações podem não ser tão fortes como ambos pensam. De igual forma, nota que o Cassidy disse que tinha feito amor com a Tulip, e não “fuck“,”shagged” ou “banged” que seriam mais de acordo com a sua personagem, e a resposta dela é que não o fizeram. Woooo, isso dói.
Odin Quincannon confronta Jesse com o resultado da aposta que tinham feito, que se ele não se tornasse um cristão devoto depois de ter ido à missa, Jesse lhe daria o terreno da igreja. Apesar de isso não ter acontecido, e ainda não percebemos de que maneira o “Serve God!” que o Jesse comandou se vai manifestar, Jesse recusa. Por esta altura já percebemos que o Odin Quincannon não aceita um “não” com facilidade.
A sério que eu faço um esforço consciente para não estar sempre no registo de “OHMEUDEUSESTASÉRIEÉINCRIVEL” mas com episódios destes começa a tornar-se difícil.
A cena do jantar entre o Jesse, o Cassidy e a Tulip é deliciosamente desconfortável, com a Tulip a esforçar-se imenso por criar um ambiente familiar, e a perceber que esse ambiente familiar simplesmente não resulta. No meio dessa tensão aparece o Xerife à procura do seu filho. A maneira atabalhoada, embaraçada, confusa e genuinamente preocupada com que ele lhes pergunta se o viram enche-me de empatia por esta personagem que até agora era relativamente desagradável. Raios, estou mesmo preocupado com o Eugene.
Nunca é bom sinal quando o vampiro drogado é o compasso moral da história, e nem mesmo o Cassidy consegue chamar à razão o Jesse, quando o confronta com o facto de que ele condenou o Eugene ao inferno. O para-a-frente-e-para-trás desse diálogo entre os dois é particularmente bom, com o Jesse alternadamente genuíno e alheado da responsabilidade das suas acções, e o Cassidy crescentemente frustrado com isso. A cena culmina de forma extremamente intensa, com o Cassidy a expôr-se propositadamente ao Sol e explodindo em chamas, depois de atirar um extintor aos pés do Jesse.
Não temos a certeza do resultado dessa cena, mas quando o Jesse volta para dentro, a Emily finalmente começa a revelar alguns dos seus sentimentos por ele. Por momentos pensei que ela ia dizer que o amava, mas fica-se por um “I’ve just always believed in you” ao que ele responde, friamente, “That was stupid“.
O Genesis está claramente a comer o Jesse por dentro, e isso vê-se no fim com a intensidade e desespero com que ele está a levantar as tábuas do soalho da igreja e a cavar para tentar salvar o Eugene.
No fim, Odin Quincannon aproxima-se com as tropas dos seus trabalhadores armados, e uma escavadora da igreja do Jesse. O Donnie vai vestido com um uniforme da Guerra Civil, e a igreja à distância é extremamente reminiscente do Álamo da sequência de abertura do episódio. Algo grande vai acontecer!!!