Qualquer longa-metragem pressupõe a existência de desafios para a equipa envolvida na sua realização. Nas grandes produções, sobretudo, é exigido um elevado grau de esforço e dedicação a fim de transmitir ao espectador um extenso leque de emoções e credibilidade.
Neste invólucro de tenacidade, os actores devem submeter-se a um laborioso processo de transformação, quer a nível psicológico quer, por vezes, a nível físico, para se certificarem de que encarnam o seu papel da forma mais credível possível. Em diversos casos, para se interpretar uma bailarina, há que saber dançar; para se interpretar um nadador, há que saber nadar; para se interpretar um pugilista, há que saber lutar. O actor tem de se tornar a personagem: pensar e agir como ela. Tem de torná-la credível, verdadeira, autêntica… Foi o que se verificou na representação de Jake Gyllenhaal em Southpaw – Coração de Aço, de Antoine Fuqua.
Gyllenhaal interpreta o papel de Billy Hope, um lutador de boxe «faminto por sangue», que vê a sua vida e o sucesso da sua carreira transfigurar-se numa redoma de desespero. Para dar vida a Hope, o actor teve de submeter-se a uma treino intensivo diário que se prolongou por 5 meses, no qual Jake Gyllenhaal pelejou para adquirir por volta de 7 quilos de massa muscular e aprender os movimentos do boxe. Um trabalho árduo mas valoroso, incrivelmente transferido para a sua personagem.
Southpaw – Coração de Aço, é história de Billy Hope, um pugilista amante do boxe e devoto à sua família: a esposa Maureen (Rachel McAdams) e a filha Leila, a quem Oona Laurence dá vida de maneira impressionante. É em Maureen que Hope se apoia, outorgando-lhe o poder de todas as decisões. Por esse motivo, quando um trágico e inesperado acidente põe termo à vida da sua esposa, Billy Hope perde-se em angústia, mágoa e sofrimento. O verdadeiro desafio surge a partir desse momento. O pugilista terá de tomar as rédeas da sua vida, aprender a responsabilizar-se pelas suas ações e lutar para recuperar o respeito da filha. Será Tick (Forest Whitaker), antigo lutador de boxe, um dos elementos essenciais para o auxiliar na busca por redenção.
Apesar dos ligeiros e evidentes clichés e do aparentemente excessivo melodrama, cada cena é doseada numa medida aceitável para evitar a saturação. Kurt Sutter examina as particularidades do psicológico de um homem cuja vida se resume à violência dos ringues de boxe e ao amor incondicional das pessoas que sempre o acompanharam.
Jake Gyllenhaal soube compreender as peculiaridades da personagem a que se entregava. No ringue era agressivo, seguro e implacável. Longe da confusão, Hope estremecia como uma criança quando as situações fugiam do seu controlo. Tal como na vida real, somos seres complexos. Tal como na vida real, somos seres mutáveis. Porém, as mudanças requerem o seu tempo, assim como paciência e coragem… Billy Hope vai modificando a sua atitude perante os outros e a vida ao longo do filme. Contudo, a sensação com que ficamos no final é que ele não mudou, mas renovou-se.
Southpaw – Coração de Aço cria uma analogia entre o boxe, desporto utilizado como pano de fundo, e o percurso do protagonista. Billy «The Great» Hope subia ao ringue para lutar contra um adversário. Na sua vida, Hope lutava para derrotar os seus demónios. No final, o pugilista teve de lutar pelos dois.
