“RVL 6768”
Esta nova série do canal SyFy tem tudo para agradar a espectadores modernos – desastres naturais, fenómenos paranormais, “zombies” e armas. Os criadores William Laurin e Glenn Davis não estão a apostar na subtileza, e não é de subtileza que devemos estar à espera ao ver esta série. A primeira temporada terá 13 episódios, mas já aconteceram tantas coisas no primeiro que não sei como será possível manter este ritmo durante mais 12!
Aftermath segue a família Copeland ao longo daquilo que é aparentemente o fim do mundo. A família é basicamente um agregado de cinco personagens-tipo: Joshua, o pai, é um professor universitário de religiões mundiais, e personifica o intelectual pacifista; Karen, a mãe, é aposentada da força aérea americana, e é a heroína fisicamente forte e louca por armas; o filho mais velho, Matt, é o “filho perfeito” de ambos, com o treino da mãe e a consciência do pai, que decidiu juntar-se ao Peace Corps, um projecto de voluntariado no estrangeiro para jovens americanos; e as gémeas de 16 anos, Dana e Brianna, são opostos completos, sendo a primeira a “marrona” clássica, e a segunda uma típica adolescente selvagem.
A série começa por nos mostrar a fuga desenfreada dos professores e alunos da universidade onde Joshua trabalha. Compreendemos logo nestas primeiras cenas que o estado do mundo já se está a deteriorar há algum tempo: sismos e tempestades têm dizimado enormes populações, bem como uma nova doença misteriosa, que parece fazer com que as pessoas enlouqueçam. O país inteiro tem estado sem electricidade. A família Copeland tem escapado até agora, mas Joshua ouve na rádio que um furacão se dirige directamente para eles, e vai reunir-se à família na sua quinta isolada.
Tudo acontece muito depressa neste episódio, e as desgraças tornam-se difíceis de seguir. Aprendemos mais sobre a doença misteriosa quando um homem que acompanha o xerife descreve como o seu irmão foi baleado por estar esfolar a mulher viva. Portanto, estamos a lidar com uma doença como a do filme O Acontecimentro do M. Night Shyamalan, que torna as pessoas violentas. A doença atinge o seio da família Copeland quando um jovem esfomeado e perdido que chega a sua casa à procura de abrigo se “transforma” subitamente e ataca Karen. Quando Matt dispara sobre o rapaz, algo sai de dentro dele, uma espécie de… Entidade? Fantasma?
Mais um jovem afectado pela doença invade a casa dos Copeland e começa a levar Brianna. Toda a família acude e parece que a vão salvar quando o rapaz começa… A voar. Wow. Ok. Eles voam. Qual é a decisão lógica depois de a nossa filha ser raptada por um demónio voador? Vamos de viagem, claro.
Temos todos os eventos cataclísmicos possíveis ao mesmo tempo, juntamente com uma doença que causa loucura e violência, e um ataque de demónios voadores que possuem hóspedes humanos.
Mas esta decisão até se compreende. Ao levar toda a família na autocaravana à procura de Brianna, os Copeland estão em acção e não sofrem a tortura de esperar dia após dia que a filha volte. Para além disso, estão em clara negação! Os horrores que eles encontram na estrada conseguem apagar completamente a hilaridade do rapaz voador: pessoas enforcadas, pessoas a serem assaltadas e espancadas por comida, e, claro, o melhor de todos: o empregado da bomba de gasolina que limpa o pára-brisas com uma cabeça decepada. A doença está a espalhar-se, mas como se espalha?
Podemos descobrir pistas sobre a natureza da doença prestando atenção à história de Brianna. Não só esta sobreviveu ao voo, mas o seu telemóvel também, e continua com ela e com bateria, mas neste momento já tudo é plausível. O jovem que a raptou não parece lembrar-se de nada até que a doença/demónio o possui novamente, altura na qual se impala convenientemente num tronco quebrado. Portanto, a possessão é intermitente, e não outorga ao possuído capacidades intelectuais fora do normal. Depois de fugir, Brianna encontra o xerife e o seu parceiro, e percebemos rapidamente que estes foram afectados pela doença. Brianna também o percebe, mas entra no carro deles na mesma, porque isso só pode ser uma boa ideia. Mas a doença deles é diferente… Parecem só loucos, e não possuídos. Quando são baleados por um grupo de motards, não sai de dentro deles nada de demoníaco.
A racionalização que eles fazem das suas acções irracionais chegou a fazer-me ter pena deles (“Agente ferido! Enviem apoio!”). Um dos motards concorda em levar Brianna até ao seu objectivo: a cidade de Yakima, onde a organização FEMA está a montar um “santuário” para pessoas saudáveis. A família já se dirige para lá, tendo-lhe enviado uma mensagem. Quando estão quase a conseguir entrar em Yakima, os Copeland vêem com incredulidade mais um desastre que se abate sobre eles: um meteorito incandescente rasga o céu e dizima Yakima. Brianna esconde-se debaixo de um carro, e não sabemos se terá sobrevivido; os outros quatro estão bem, mas começam a compreender a magnitude daquilo que enfrentam.
Não tenho a certeza ainda do que penso em relação a esta série. Temos todos os eventos cataclísmicos possíveis ao mesmo tempo, juntamente com uma doença que causa loucura e violência, e um ataque de demónios voadores que possuem hóspedes humanos. A partir do momento em que aceitamos isto como normal, a série até é boa, tanto pelas reacções emocionais plausíveis das personagens como pela (des)organização da sociedade à volta destes novos eventos. Tenho a apontar que a quantidade e rapidez dos acontecimentos tornou o episódio algo confuso. O episódio fez mais lembrar o início de um filme do que uma série. É a melhor série que já vi? Não. É uma série excelente? Não. Mas cativou-me e prendeu-me a atenção durante os 42 minutos do episódio, e despertou-me curiosidade suficiente para continuar a ver na próxima semana.