“Pilot”
Estranhamente tenho que admitir que, para além da grande qualidade de produção que esta série apresentou imediatamente no trailer, levando-me erradamente a pensar durante os primeiros minutos de que se tratava de um filme, This Is Us conseguiu levar a melhor das minhas expectativas. Os últimos momentos deste episódio piloto foram aqueles que me convenceram que talvez valha a pena continuar a seguir a vida deste grupo de estranhos.
Mas vamos começar pelo inicio…
Isto é um facto: de acordo com a Wikipedia, o humano comum partilha o seu aniversário com mais de 18 milhões de outros humanos. Não existe evidência que partilhar o mesmo aniversário crie qualquer tipo de ligação de comportamentos entre essas pessoas. Se existe… A Wikipedia ainda não descobriu.
This Is Us intercala quatro histórias de pessoas que, aparentemente, não têm nada em comum a não ser o seu dia de aniversário – que neste caso, é para todos o trigésimo sexto. Primeiro conhecemos Jack (Milo Ventimiglia) e Rebecca (Mandy Moore), um casal que está a celebrar um tradicional e intimo aniversário de Jack quando Rebecca, grávida de trigémeos, numa fase diga-se de passagem bastante avançada, entra em trabalho de parto.
A seguir, vemos o momento em que Randall (Sterling K. Brown), um aparente empresário de sucesso, recebe um email indicando que alguém encontrou um senhor de uma idade avançada, como conseguimos ver na fotografia incluída no email. Neste ponto, podemos concluir que se trata do pai de Randall, mas a história não o confirma imediatamente. Talvez até seja o facto de que nada seja confirmado imediatamente neste primeiro episódio, ou o facto de que toda a informação não seja oferecida ao público, que acabou por me intrigar em relação a como todo este enredo acabaria por estar interligado. Mas já voltamos lá.
Conhecemos a seguir Kate (Chrissy Metz), uma mulher com excesso de peso que abre o frigorífico para encontrar vários post-its com notas desde “não comas isto”, “deita isto fora”, “isto tem 300 calorias” até uma nota no próprio bolo de aniversário que a avisa a não atrever-se a comer até à própria celebração. Percebemos a luta que esta personagem tem face ao seu peso também quando ela decide tirar toda a roupa e acessórios, sem deixar de esquecer os gramas extra que os brincos podem ter, para se pesar na balança. Mas um passo em falso faz com que ela acabe por escorregar e a cena corta quando nos apercebemos que vai cair… Felizmente, nada de grave acontece.
Descobrimos que uma quarta história irá ser contada do ponto de vista de um actor de uma comédia de televisão cujo enredo e qualidade parecem deixar muito a desejar. Esta personagem é Kevin (Justin Harvey) e, através de um telefonema que recebe enquanto está num quarto de hotel com duas mulheres, que tentam cativar a sua atenção mas que rapidamente se aborrecem quando tudo o que parece interessar Kevin é a história da explosão do vaivém Challenger em 1986, percebemos que ele é o irmão gémeo de Kate.
E é aqui que eu acho que a história começa a ficar cada vez mais cativante. Sem qualquer aparente conexão entre cada ponto de vista, todas as personagens deparam-se numa situação onde têm de confrontar um problema muito pessoal cuja solução parece nem sempre ser a opção mais fácil: Jack e Rebecca vêm-se encurralados quando o obstetra habitual de Rebecca é impedido de lhe assistir o parto e quem o substitui é um doutor que ultrapassa a faixa dos 70 anos e depois com a perda de um dos três bebés; Kate parece não conseguir encontrar a força necessária na luta contra o seu excesso de peso e mais tarde permitir-se envolver romanticamente com um homem que conhece num grupo de suporte; Randall confronta o pai por o ter abandonado recém nascido numa estação de bombeiros e ainda assim permite que ele entre na sua casa e conheça as netas, admitindo para a sua esposa ser algo completamente senil, e descobre que na realidade resta muito pouco tempo de vida ao seu pai biológico; Kevin detesta o seu trabalho e sente-se muito pouco realizado como actor numa série de televisão de baixíssima qualidade onde o próprio produtor admite que o Ryan Gosling nunca aceitaria um trabalho daqueles.
Tenho curiosidade em conseguir a cada episódio juntar mais uma peça ao puzzle.
A minha cena favorita no episódio inteiro está no monólogo que o doutor tem com Jack após lhe dar a notícia do estado de saúde dos novos membros da sua família. Existe uma fala importante que se viria a repetir no episódio poucos minutos depois. E é aqui que, como uma câmara a passar de plano pormenor a grande plano, percebemos que estas vidas estão todas ligadas numa teia bastante apertada. Randall conta ao seu pai biológico que os seus pais adoptivos lhe contaram que o adoptaram porque nesse dia, por chance, estavam no hospital quando um bombeiro o trouxe. Kate e Kevin trocam memórias de algo que o seu pai lhes contava enquanto numa foto os dois se encontram de braços dados com Randall. Jack, ao olhar para os seus filhos no berçário fala com um homem que lhe diz que a coisa mais estranha lhe tinha acontecido nesse dia: alguém tinha deixado um pequeno bebé na frente da estação de bombeiros onde trabalhava.
Este último conjunto de cenas foi o que realmente conseguiu tirar o tapete debaixo dos meus pés e é por este elemento surpresa que agora, sabendo como as histórias se vão intercalar, tenho mais curiosidade em conseguir a cada episódio juntar mais uma peça ao puzzle.
Os níveis de produção são excelentes para aquilo que sabemos que é: uma série que vai ter todos os momentos cativantes e clichés de que se espera, com música que irá transitar entre guitarras e folk ou com uma dramática melodia de piano e violinos. E ainda assim, consegue ultrapassar as expectativas. Se isso será o suficiente para continuar a cativar o publico e continuar a ter audiências suficientes, o tempo o dirá. Eu ainda tenho alguns receios e dúvidas que estão mais ligadas ao género de série em si. No entanto, consigo dizer, que para um episódio piloto teve, uma reviravolta interessante o suficiente para me deixar satisfeita e com vontade de ver mais. Só espero que este elemento não se fique apenas pelo primeiro episódio.