Este artigo pode conter spoilers das seis temporadas de A Guerra dos Tronos exibidas até ao momento.
Em Westeros, a principal religião é a Fé dos Sete. Nesta religião, existem sete deuses, que apesar de serem por vezes descritos como sete aspectos de um mesmo deus, são adorados separadamente. São eles: a Donzela, a Mãe, o Guerreiro, o Ferreiro, o Pai, a Velha e o Estranho. Porém, sabemos que existem várias outras religiões, cada uma com um forte seguimento: temos o Deus Afogado das Ilhas de Ferro, os Deuses Antigos do Norte, e até o Grande Garanhão da religião Dothraki. Uma fé em particular, vinda de Essos, tem sido muito importante para nós como espectadores: a fé de R’hllor, o deus vermelho, deus do fogo e das sombras. Esta religião não tem ainda grande expressão em Westeros, nem nunca teve. De facto, só são conhecidos dois “padres vermelhos”: Thoros de Myr e Melisandre de Asshai.
Thoros de Myr foi enviado pela sua Ordem para aconselhar o rei Aerys e tentar convertê-lo à sua fé. Porém, Thoros não era muito bom no seu trabalho, e preferia beber, passar o seu tempo com mulheres e participar em lutas e competições com a sua famosa espada em chamas. Lamentavelmente, a espada em chamas era um truque barato feito com espadas baratas, e não a espada Luminífera de Azor Ahai
Thoros foi enviado juntamente com Beric Dondarrion, por Ned Stark, no final da primeira temporada, para trazer à justiça o gigante Gregor Clegane. Claro que isso não correu como eles queriam, pois Ned foi preso e subsequentemente morto, e eles acabaram por estar do lado errado da justiça, tornando-se, juntamente com os seus companheiros de armas e muitos novos recrutas, na Irmandade sem Bandeiras. Estes fora-da-lei traziam a sua própria versão de justiça, e serviam o deus vermelho.
Acontece que, quando Beric Dondarrion foi morto pela primeira vez, Thoros recuperou a sua fé, ao fazer (mais por hábito do que por convicção) uma antiga reza ao seu deus, que inesperadamente funcionou e devolveu a vida ao seu amigo.
Melisandre servia Stannis Baratheon na Pedra do Dragão. Convenceu-o, e a si mesma também, de que ele era Azor Ahai, o grande herói prometido que iria salvar o mundo das forças das trevas. Os seus conselhos tornaram-se cada vez mais rebuscados, a sua convicção mais desesperada, e a sua crença profunda no poder do sangue real leva-a a exigir o sacrifício da Princesa Shireen, momento a partir do qual todo o empreendimento de Stannis está condenado.
Tendo fugido para Castelo Negro, os seus fogos param de lhe fazer revelações e a sua fé diminui. Tal como o seu colega Thoros, ela verá a sua fé restabelecida depois de ressuscitar Jon Snow. Ela vem do distante país de Asshai, onde nasceu como escrava há vários séculos.
Mas em que consiste esta curiosa religião? Com uma grande expressão no continente de Essos, a fé de R’hllor baseia-se numa visão dualista do mundo. Existe o bem, e existe o mal; existe R’hllor, e existe o Outro. O Outro, um deus cujo nome não pode ser pronunciado, é o deus do gelo e da morte, a antítese do deus vermelho. Os White Walkers que vemos no Norte são os seus principais servidores – não os wights, que são os corpos reanimados de pessoas mortas, mas os Walkers, os chefes destes exércitos dos mortos, criaturas que jamais foram humanas.
Os padres vermelhos, assim chamados pela cor das suas vestes tradicionais, podem ser homens ou mulheres indiscriminadamente (ao contrário da religião dos sete, que só aceita homens). Em Essos, é uma prática comum oferecer-se crianças aos Templos Vermelhos para serem criadas para servir a fé. Existem também escravos pertencentes a estes templos, que podem igualmente vir a tornar-se sacerdotes da fé, e que se podem distinguir pelas tatuagens de chamas que têm no rosto – recordemos que, em muitos países de Essos, os escravos são distinguidos nas suas diferentes profissões por tatuagens no rosto. Estes escravos também podem ser transformados em prostitutas do templo ou em guerreiros.
O mais conhecido ritual dos praticantes desta fé é o de acender enormes fogueiras, ao cair da noite, e entoar cânticos ao deus, para que traga de volta a alvorada. Estes fogos são mantidos a arder durante toda a noite, pois os praticantes acreditam que se têm de proteger contra a escuridão e o frio, que são enviados pelo Outro.
Muitas vezes nos maravilhamos na série com a incrível magia que os adoradores do deus da luz são capazes de criar. Vimos Thoros trazer Beric de volta dos mortos inumeráveis vezes; e vimos Melisandre ver o futuro nas chamas e dar à luz um ser feito de sombras que levou a cabo um assassínio em seu nome. Por isso, muitos se perguntam, porque é que esta religião não tem mais expressão? Se R’hllor é capaz de milagres como estes, como é possível que toda a gente não seja convertida imediatamente?
A realidade é que nem sempre R’hllor foi capaz destas maravilhas. A magia no mundo de A Guerra dos Tronos está intimamente ligada aos dragões. No momento em que o último dragão morreu, muitas décadas antes da rebelião de Robert Baratheon, a magia desapareceu do mundo. Tudo o que restou foram truques e farsas. A partir do momento em que Daenerys trouxe os seus dragões à vida na pira funerária de Khal Drogo, a magia começou a despertar no mundo. Todos os praticantes do oculto o sentiram, desde os alquimistas de Porto Real que fazem o fogo vivo para Cersei e Tyrion (que sentem o processo a ficar mais fácil e conseguem produzir mais) antes da batalha de Blackwater, até Melisandre na Muralha. Toda a magia, incluindo a capacidade das crianças Stark para verem o mundo através dos olhos dos seus lobos, parece estar ligada à existência de dragões no mundo.
Mas, como sabemos, “a noite é escura e cheia de terrores”.