Este artigo pode conter spoilers das seis temporadas de A Guerra dos Tronos exibidas até ao momento.
No mundo onde se passa a série A Guerra dos Tronos, a sequência das estações do ano nada tem a ver com as nossas. Cada estação dura anos – isso já tínhamos percebido. Sabemos também que algumas estações duram mais do que as outras, sendo a duração habitual de mais ou menos dois anos.
Existiu, porém, e continua na memória dos homens, um Longo Inverno, que trouxe consigo uma Longa Noite. Este evento sucedeu há aproximadamente 8.300 anos, e foi durante este obscuro período da história que apareceram pela primeira vez os Outros. Eles saíram das Terras de Sempre Inverno, o extremo mais a Norte de Westeros que ninguém habita e ninguém conhece, e ergueram os mortos para que lutassem ao seu lado, juntamente com enormes aranhas de gelo.
Nesse momento, Westeros era habitada pelos Filhos da Floresta (uma raça de humanóides de estatura pequena, aqueles que esculpiram as caras nas Árvores de Coração ou Represeiros às quais os Nortenhos ainda rezam) e pelos Primeiros Homens (que invadiram Westeros, vindos de uma ponte natural de terra entre Westeros e Essos, que entretanto deixou de existir, como a ligação entre a Inglaterra e a França).
Inimigos naturais, os Filhos da Floresta e os Primeiros Homens uniram armas para lutar contra o terrível inimigo. Lutavam em condições inimagináveis. Quem se recorda da cena na primeira temporada em que a Velha Ama está a contar uma história assustadora a Bran, em Winterfell?
“Há milhares e milhares de anos, houve um Inverno que foi duro e frio e interminável, para lá da memória dos homens. Houve uma noite que durou uma geração, e os reis tremiam e morriam nos seus castelos tal como os porqueiros nas suas choupanas. As mulheres sufocavam os seus filhos para não os verem morrer à fome, e choravam, e sentiam as lágrimas congelar nas suas faces.”
É aqui que entra o herói. Este herói tem muitos nomes em muitas culturas: Hyrkoon, Yin Tar, Neferion, Eldric Shadowchaser. O nome Azor Ahai refere-se à cultura de Asshai da Sombra, a mística terra na qual se originou o culto ao deus R’hllor, o Deus do Fogo e da Luz de Melisandre e tantos outros.
Segundo reza a lenda, R’hllor escolheu este homem para lutar contra a escuridão, mas para isso ele terá de forjar uma espada especial. Trabalhou arduamente durante trinta dias e trinta noites. Quando a espada ficou completa, quis temperá-la em água, mas a espada partiu-se, e ele teve de começar novamente. Desta vez, demorou cinquenta dias e cinquenta noites e fez uma espada ainda melhor. Para temperá-la, capturou um leão e trespassou-lhe o coração, mas novamente a espada partiu-se, e ele teve que recomeçar mais uma vez. Na terceira tentativa, trabalhou durante cem dias e cem noites e, sabendo o que teria que fazer, chamou a sua esposa, Nissa Nissa, e atravessou-lhe o coração com a sua nova espada. A sua alma combinou-se com o metal e formou a espada Lightbringer, ou Luminífera.
Com a ajuda de Azor Ahai, e o conhecimento de que o Vidro de Dragão, ou Obsidiana, podiam matar os Outros, a população de Westeros conseguiu, a muito custo, repelir os terríveis invasores. Porém, como já sabemos, a história repete-se.
Em profecias de Asshai, que datam de há mais de cinco mil anos, é dito que Azor Ahai regressará. Melisandre cita frequentemente esta profecia:
“Virá um dia depois de um longo Verão em que a estrela vermelha sangrará e a escuridão cairá sobre o mundo. Nessa fatídica hora um guerreiro retirará do fogo uma espada ardente. E essa espada será Luminífera, a Espada Vermelha dos Heróis, e aquele que a empunha será Azor Ahai renascido, e a escuridão recuará perante ele.”
Melisandre menciona também, no livro A Tormenta de Espadas, a seguinte informação:
“Ele renascerá entre sal e fumo para acordar dragões da pedra.”
Existe também a profecia, mencionada duas vezes ao longo dos livros, do Príncipe que Foi Prometido, um herói profetizado que virá salvar o mundo da escuridão. Há quem pense que esta profecia refere uma entidade separada. Melisandre parece pensar que ambos são a mesma coisa e a mesma pessoa, e eu prefiro pensar assim também.
Então, quem poderá ser o novo Azor Ahai? Existem tantos candidatos que não os poderia listar.
Havia, claro, Stannis Baratheon, que parecia uma hipótese forte, já que o seu domínio era Pedra do Dragão. Esticando-se um pouco as palavras, poderíamos dizer que ele “renasceu” lá, entre o sal do mar e o fumo das piras, quando puxou a espada do fogo (início da segunda temporada), e o cometa vermelho marcava o céu. Porém, temos provas de que esta espada não era a verdadeira Luminífera: na cerimónia, Davos Seaworth, do ponto de vista de quem o capítulo no livro está escrito, denota que a espada é barata e mal feita e é consumida pelas chamas, e que Stannis usa luvas de protecção contra o calor; muito mais tarde, na Muralha, Stannis tem de facto uma espada que produz luz, e não sabemos de onde veio, mas, como Jon e o Maester Aemon reparam, não produz qualquer calor. Ah, e, para além disso, Stannis perdeu a sua cabeça. Então, Melisandre estava enganada, e ele não pode ser Azor Ahai.
Claro, muitos falam em Daenerys. De facto, ela ressuscitou os seus dragões de ovos transformados em pedra. Nasceu numa tempestade, fugindo de guerra e destruição, e muitos apontam para o seu “renascimento” no fogo em que queimou o marido, o Khal Drogo. Mas, onde está a espada?
Uma hipótese que eu pessoalmente acho interessante é a de Tyrion. Recordemos que Azor Ahai temperou a espada primeiro com água (Batalha de Blackwater), depois com o sangue de um leão (Tyrion matou o seu pai, e o símbolo da casa Lannister é o leão). Poderá ele vir a matar a sua esposa perdida, Tysha, em paralelo com Nissa Nissa? Há quem diga, até, que Tyrion não é o herói, mas sim a “espada”, uma arma metafórica que o herói utilizará.
Também se mencionam os nomes de Jon, Bran, Beric Dondarrion, e até do Sandor Clegane! Claro, algumas destas personagens não sobreviveram ao teste do tempo. As teorias relativamente a Azor Ahai são múltiplas, loucas, algumas parecem demasiado óbvias, algumas não têm nexo. Não sabemos quem será, mas certamente será uma personagem marcante. Como disse Rhaegar Targaryen:
“Ele é o príncipe prometido, e sua é a canção de gelo e fogo”.