Primeiro sai o piloto e não há episódios durante semanas, depois uma pessoa vai de férias e de repente quando volta já há dois episódios para ver. Esta vida de ir para a internet escrever opiniões acerca de programas de televisão é dura.
Como já tinha dito na discussão anterior, sou um fã de Preacher desde que li a BD há muitos anos. As minhas expectativas para esta série são muito altas, o que é um problema porque isso enviesa a minha experiência. Estou sempre à procura do que é parecido ou diferente da BD.
Dito isso, estou a gostar do que estou a ver!
O segundo episódio começa em 1881 com um misterioso cowboy, que depois de ver uma menina muito doente (a sua filha?) está a chegar a uma cidade chamada Ratwater. Esta primeira cena diz-nos pouco desta personagem, apesar de a mostrar a interagir com um grupo de colonizadores que estão demasiado entusiasmados para o seu próprio bem. Eu sei quem é esta personagem, e tem tudo para se tornar numa das melhores personagens da série mesmo que até agora ainda não tenha feito nada de realmente espectacular.
Nestes episódios somos também apresentados pela primeira vez à personagem de Odin Quincannon, o presidente da Quincannon Meat & Power que já tínhamos visto no primeiro episódio. Quincannon é fantasticamente interpretado por Jackie Earle Haley. Vemos essencialmente duas cenas desta nova personagem, uma na qual está a comprar a casa a um velho casal apenas para a demolir, e outra em que está a conversar com o seu braço direito, o Donnie. Tanto uma interacção como a outra são desconfortáveis e desagradáveis. Há uma ameaça velada em Quincannon que eu quero imenso perceber até que ponto pode realmente expandir-se. O pormenor de Quincannon calmamente a ouvir pelo intercomunicador as vacas a serem mortas no matadouro é particularmente perturbadora.
Entretanto a história continua para o nosso trio central, o Jesse, a Tulip e o Cassidy.
O Jesse começa a perceber como funcionam os seus poderes, à medida que vai experimentando dar ordens. Primeiro acidentalmente quando manda calar o cão que ladra à distância, depois semi-propositadamente quando manda o pedófilo (?) esquecer a criança do autocarro, e depois comicamente quando está a mandar o Cassidy fazer coisas parvas, como voar.
Não percebemos ainda a natureza completa dos seus poderes, mas podemos assumir que têm algo a ver com aquilo que entrou para o corpo de Jesse no primeiro episódio. Jesse descreve-o como ter toda a criação de Deus dentro de si. Interessante, misterioso e completamente vago.
Aparentemente isso é importante o suficiente para que dois anjos (!) o queiram matar para o recuperar. Os dois anjos são particularmente divertidos de ver pelo seu tom implacavelmente sério e aparente capacidade de serem sacos de pancada e voltarem sempre à vida (ou rematerializarem-se ou voltarem a descer do céu ou o que quer que esteja a acontecer fora do ecrã).
As cenas deles a lutarem com o Cassidy são extremamente divertidas pelo seu exagero quase slapstick associado a um gore que parece que vai ser a norma para esta série. Não percebi foi muito bem porque é que o Cassidy subitamente parece ficar do lado deles e concordar ajudá-los a recuperarem o que quer que esteja dentro do Jesse.
Paralelamente vamos percebendo (nem por isso) um pouco mais da história da Tulip e do Jesse. Depois da Tulip se encontrar com Dany e lhe entregar um mapa para um tesouro, Dany dá-lhe a localização de alguém chamado Carlos. Pelos flashbacks que nos são dados percebemos que Carlos seria alguém com quem Jesse e Tulip teriam cometido algum tipo de crime, e que os traiu. Tulip consegue convencer o Jesse a irem atrás de Carlos para o matarem em vingança. Apesar de Jesse aceitar inicialmente muda de ideias depois de um encontro acidental com Donnie no qual quase o faz matar-se usando o seu poder.
Numa cena importante, vemos também a Dany a entregar o mapa de Tulip a mais uma figura misteriosa que aparenta estar a ver filmes de snuff. Esta é outra personagem potencialmente muito importante, se a série se mantiver fiel à BD.
Se ficas com a impressão, depois de ler isto, que não acontece muita coisa nestes episódios, eu acho que não é só impressão tua. Na realidade o enredo não avança muito, e os mistérios acumulam-se em vez de estarem a ser revelados. Fico genuinamente na dúvida sobre se é o enredo que está a avançar lentamente, ou se estou demasiado habituado a outras séries que tenho visto recentemente em que a cada episódio há desenvolvimentos épicos do enredo (Agents of S.H.I.E.L.D. ou A Guerra dos Tronos). Será que todas as séries foram sempre assim mais lentas e eu nunca reparei?
De qualquer forma é relativamente normal os primeiros episódios de qualquer série serem sobretudo expositivos, o que justifica que neste momento os episódios levantem mais perguntas do que as que respondem. Ainda assim, acho que já estou pronto para que o enredo comece a avançar mais depressa.
Dito isto, ainda bem que a série está a avançar devagar porque desta maneira temos tempo e espaço para nos afundarmos nestas personagens e neste mundo bizarro. Há cenas e detalhes que seriam perfeitamente supérfluos, e que estão lá apenas para dar mais profundidade às personagens. Cada cena foi meticulosamente pensada para criar um determinado tom e transmitir uma emoção específica. Cada palavra de diálogo parece escolhida milimetricamente, cada plano de câmara foi propositadamente montado, a luz e a saturação de cor estão extremamente bem escolhidas e equilibradas. Há uma atmosfera de mistério, bizarria e opressividade que é transversal a todas as cenas, quer estejamos sob um sol escaldante no meio do deserto ou numa bomba de gasolina à noite iluminada por neons fluorescentes.
Sobretudo sinto que esta série foi escrita e criada com imenso amor às personagens e ao material original, e que houve imenso sofrimento por parte dos escritores e realizadores nas decisões sobre que momentos incluir ou cortar. Portanto apesar de o enredo não estar a avançar rapidamente, tudo o resto faz com que eu tenha IMENSA curiosidade em saber mais sobre estas personagens e sobre este mundo.
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