À data da estreia do primeiro Caça-Fantasmas, no longínquo ano de 1984, grande parte daqueles que estão a ler esta crítica não eram nascidos – eu incluído. Desse grupo, a esmagadora maioria conhece o conceito do filme mesmo que nem todos o tenham alguma vez visto. Ou seja: há, à partida, um público certo para esta nova versão do Caça-Fantasmas que, em última instância, movido pela curiosidade (saudosista ou outra) atira-se para os cinemas com a esperança de que as expectativas sejam cumpridas.
A questão que embasa o visionamento deste filme passa, fundamentalmente, por essa mesma gestão de expectativas. Confesso que as minhas iam baixíssimas. Não porque a equipa de ação mudou de género – era o que mais me faltava considerar que essa alteração seria sinónimo de desvalorização. Aliás, não sou daqueles que crítica um reboot e que afirma “pronto, já vão estragar o filme!”. Estragar não estragam, porque o primeiro (sendo bom ou mau) continua lá…no seu cantinho…para gáudio de todos os saudosistas e amantes – mas porque várias coisas faziam crer que estaríamos perante outro mero aproveitamento de um clássico por parte da indústria.
Apesar de todo o esforço para entender as razões que levaram à produção deste reboot, apenas uma me continuava a surgir na mente e passava exactamente por esse ponto: público aparentemente certo e consequente reduzido risco de falhas de encaixe financeiro. E, diga-se, não foi um golpe fracassado, não tivesse, no fim de semana de estreia, facturado, só nos EUA, mais de 46 milhões de dólares, ficando apenas atrás do filme de animação A Vida Secreta dos Nossos Bichos.
Mas um bom filme não se caracteriza necessariamente pela receita de bilheteira…certo? A verdade é que, em grande parte dos predicados propostos pelo filme, este desilude.
É uma mistura de elementos extemporâneos, representações fora de época (para ser simpático) e uma condução narrativa que confunde mais do que esclarece. Percebe-se que, em jeito de preservar o modelo do seu original, houve a necessidade de incluir alguns indícios que, nos anos 80, fizeram de Caça-Fantasmas um filme de eterna memória. Porém, o ano 2016 está muito mais exigente e tudo o que neste reboot se vê já foi visto de várias formas e feitios, pelo que se exige bem mais da equipa por detrás de um filme deste género.
Na condução do argumento, a dupla Katie Dippold e Paul Feig ficam abaixo do mediano tal é o emaranhado de elementos que procuram desenrolar no filme. Note-se, por exemplo, que o tempo despendido a explicar elementos acessórios é maior do que o processo de exploração psicológica e enquadramento das personagens fulcrais. Acaba por se saber tudo da origem do logótipo ou da viatura usada pelo quarteto feminino, mas pouco mais que o básico das caçadoras. Essa tentativa incessante de se relacionar com o filme original acabou por ser uma boa linha que não se soube coser.
O mais intrigante é o facto de o filme até nem começar mal. O primeiro ato é competente e oferece-nos algumas piadas bem dispostas. Porém, a dada altura, o humor veiculado começa a ser irritante (infantil?) de tão absurdamente previsível e exagerado que é. A este capítulo, talvez se esperasse que as representações salvassem a coisa…mas, por algum motivo, não o fazem.
Custa entender que um filme apelidado de Caça-Fantasmas acabe por perder toda o interesse no exato momento de…caçar fantasmas.
O momento que deveria ser o clímax é chato, previsível e cliché (sim, mais cliché do que o esperado) – E, senhores, a motivação do vilão é só aquela? Outra vez aquela? Nada mais além daquilo?…
Tecnicamente a coisa não é melhor. Claro que há filmes muito piores, mas não deixa de ser mais uma pedra no sapato do espectador. A edição está confusa (por exemplo, que raio se pretende com aquela cena com os polícias virados com o dedo para o ar?), a condução do elenco desaproveita o melhor que cada um poderia dar e graficamente…bem, se muitos filmes acabam por ser salvos pelos efeitos especiais, este nem isso… O excesso e estilo de computação gráfica é pior do que alguns jogos de computador. Por esta altura, isso será pouco perdoável.
Enfim… No compito geral, o melhor que o filme nos oferece são as referências do seu original: a banda sonora, algumas aparições da primeira equipa (o que, infelizmente, não é isenta de crítica: afinal, Bill Murray parece que vai ter uma importância significativa…mas é mais um equívoco) e uns quantos easter eggs, insuficientes para conseguirmos perdoar os erros.
Agora, claro, sendo um filme fraco para a maioria dos espectadores, é capaz de entreter algumas pessoas, nomeadamente aqueles que, em família, gostam de ver um filme enquanto conversam um pouco. Até porque não estamos perante o pior filme do ano, muito menos da história do cinema. Mas não deixo de ficar com a sensação que toda a equipa se deve ter divertido muito mais a fazer este reboot do que nós a vê-lo.
“Ah, mas espera lá! Este é um filme de força feminina e que luta contra o machismo!” – Não, não é. Que tenha tido essa a intenção, parece-me evidente. Mas, antes de ser isso, este é um filme com muitos mais objectivos que, infelizmente, redundam em insucesso. Existem bons filmes com essa matriz política associada e, pasme-se, filmes fracos também. Enaltece-se a motivação, mas isso não nos impede de ser realistas.
Em suma, este Caça-Fantasmas é medíocre, um verdadeiro fantasma de filme: vazio e sem vida que, daqui por algumas semanas, cairá no esquecimento da grande maioria de nós.