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O terror e o fantástico estiveram na Avenida da Liberdade. Não, não te estou a falar dos preços das lojas situadas na Avenida, mas sim da décima edição do Motelx.

Foram oito dias de terror, sustos, vísceras e sangue em grande abundância para todos os gostos. Como sempre o pilar central do festival foi a apresentação de várias dezenas de filmes e curtas metragens, mas as actividades incluíram vários workshops (como por exemplo, o workshop dedicado a demonstrar-nos como criarmos os nossos monstros ou à arte de assustar em animação), exposições terríficas, concertos, festas, debates e até um quiz (onde não pus os pés por vergonha da minha ignorância).

Motelx qual criatura tentacular alastrou por vários locais. Da sua posição central no Cinema São Jorge as actividades do festival decorreram ainda, por exemplo no Teatro Tivoli BBVA, na Cinemateca Júnior, no Largo de São Carlos ou nos míticos locais da noite alfacinha Lounge Sabotage.

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Como num bom filme de terror a antecipação foi inteligentemente construída pela organização. Os dias antes do início oficial das festividades foram preenchidos com actividades para nos aquecer. Primeiro, com a exibição ao ar livre da versão de 1976 de Carrie (realizado por Brian de Palma e baseado no romance homónimo de Stephen King) e com uma festa pela noite dentro no Lounge. Dois dias depois, o aquecimento continuou com cinema ao ar livre (Festival Rocky de Terror de Jim Sharman) e um concerto dos Quelle Dead Gazelle e do DJ Nuno Rabino no Sabotage.

Depois de dois dias de diversão foi o momento de passar a coisas sérias. Comprimidos para o coração, águas com açúcar e bombas para a asma a postos (este último muito importante para mim que sou asmático). Na noite da abertura oficial do Motelx no Cinema São Jorge estava impróprio para pessoas que sofram de qualquer forma de claustrofobia ou agorafobia. A multidão era imensa e a diversidade também, desde do metaleiro à tia de Cascais, dos jovens adolescentes aos decanos de provecta idade. O filme escolhido para a abertura das hostilidades foi Nem Respires de Fede Alvarez. Mas nada nos preparou para a carnificina e o terror dos dias seguintes.

Foram cinco dias a consumir filmes como o Maradona consumia… açúcar em pó. Foram filmes para todos os gostos. Desde logo, dois documentários fascinantes: De Palma, no qual o grande e fantástico Brian de Palma nos dá uma masterclass em realização, e Tickled, documentário acerca da indústria extremamente fechada da elaboração de vídeos onde pessoas são amarradas e sujeitas a sessões de cócegas (mas que raio de fetiche é este?! Onde estão as clássicas mulheres polícia ou o canalizador?). O terror foi para todos os gostos desde Scream Week (produção holandesa brutalmente inspirada nos filmes Gritos Sei o que Fizeste no Verão Passado, como o realizador Martijn Heijne assumiu na apresentação do filme) até aos filmes de catástrofes naturais (The Wave, longa metragem norueguesa).

Lisboa viveu sete dias de horror e fantástico para todos os gostos.

No meio de tantos filmes há alguns que devemos destacar, sobretudo porque me fizeram passar mal, muito mal mesmo. Tenemos la Carne (filme mexicano dirigido por Emiliano Rocha Minter) que deixou todo o público bastante desconfortável com as cenas de sexo explícito (quando digo explícito, é mesmo explícito e não era com cócegas) e uma narrativa completamente surreal capaz de nos fazer duvidar sobre o que estamos a ver; Villmark Asylum (outro filme norueguês, realizado por Pål Øie, não tentes pronunciar) cuja acção segue o estilo já muito conhecido de Hollywood e no qual um dos vilões emite um assobio característico que o público decidiu adoptar para assobiar em todos os filmes subsequentes; Shelley (produção dinamarquesa realizada por Ali Abbasi) de longe o filme mais perturbar que vi no Motelx, a história é bastante simples e em princípio sem grande coisa de assustador, mas o senhor Ali Abbasi (presente na exibição e amavelmente disposto a responder a questões no final) construiu com mestria o suspense e o horror, de tal forma que pela primeira vez na vida tive vontade de abandonar a sala de cinema e ir ver fotografias de gatinhos e cãezinhos bebés; por fim, Baskin (filme turco dirigido por Can Evrenol), na opinião deste aterrorizado redactor sem dúvida um dos melhores filmes que passou nesta edição do Motelx, construído numa narrativa a vários tempos, onde o real e o onírico se confundem numa ambiência mística sangrenta.

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A estes juntam-se ainda os filmes norte-americanos, que não fazendo propriamente o público sofrer. Devem ser destacados filmes como 31, do mítico realizador Rob Zombie, capaz de enervar o mais calmo dos assistentes, The Neighbor, dirigido por Marcus Dustan, que nos ensina a valiosa lição de não andar a espreitar nas casas alheias e o quase blockbuster The Purge: Election Year, realizado por James DeMonaco, a concluir a trilogia (por enquanto) iniciada em 2013 por A Purga.

Se o horror e o fantástico em grandes dimensões não bastasse, foram apresentadas várias curtas nacionais com diversos tons, da divertida Portal to Hell, de Vivieno Caldinelli e com o saudoso Roddy Piper, ao enervante Jigging (dirigido por Ramón de los Santos) ou o perturbador A Caverna (realizado por Edgar Pêra), perturbador sobretudo por a acção desta curta decorrer na sala de cinema onde estávamos. O grande vencedor do Prémio Melhor Curta Portuguesa / Méliès d’Argent foi Post-Mortem de Belmiro Ribeiro.

Às novas produções juntou-se a exibição de vários clássicos do terror, como o já referido Carrie de Brian de PalmaSeres do Espaço: Parte II de Mick Garris e dois filmes em homenagem a Ruggero Deodato: Holocausto Canibal e A Armadilha. Ambos os realizadores estiveram presentes na cerimónia de encerramento, na qual Garris recebeu o prémio de grande mestre do terror pelo seu incondicional apoio ao Motelx desde a primeira edição.

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Na cerimónia de encerramento foi consagrado Mick Garris e atribuídos o já referido Prémio Melhor Curta Portuguesa / Méliès d’Argent e o Prémio Melhor Longa Europeia /Mélièrs d’Argent ao checo Noonday Witch do estreante na realização Jiří Sádek. Prémio bem atribuído pela qualidade própria do filme, pleno de respeito pelas técnicas do género e utilizando bem as histórias tradicionais do seu país de origem. Todavia, no entender deste modesto ignorante a vitória deveria ter sido atribuída ao fantástico Baskin. Para o final foi guardado a exibição de The Devil’s Candy de Sean Byrne, onde o horror se mistura com heavy metal naquilo que o realizador classificou como “Ópera Doom“.

No geral o festival foi marcado pela qualidade não só dos filmes, tanto norte-americanos, como do resto mundo, mas também dos vários eventos associados garantindo a diversão do público, fosse qual fosse o seu gosto pessoal. Para os mais gastadores existiam ainda várias barraquinhas à porta do Cinema São Jorge, como por exemplo, a barraquinha do próprio do Motelx, da Kingpin Books ou da Ler Devagar. A organização foi inexcedível na resolução de qualquer problema que surgisse e no apoio ao público e merece o público agradecimento.

Apesar das correrias constantes entre as várias sessões, a constante sensação de estranheza e cansaço causado por assistir a vários filmes por dia apenas posso dizer, venham mais dez edições!

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Aprendiz de historiador e geek. Vivo numa toca de livros e dvd's. O meu habitat natural são bibliotecas, livrarias e outros locais onde se possam encontrar reunidas grandes quantidades de livros. Frequentemente também posso ser observado em cinemas. Alimento-me à base de massas em forma de letras e pipocas.