Numa recente entrevista ao Diário de Notícias, Ian McEwan revelou diversas particularidades do seu novo romance, Nutshell. O livro será lançado no mês de Setembro, simultaneamente nos Estados Unidos e em Inglaterra, e poderá levar a debates sobre a classificação do narrador em aulas de literatura – participante ou omnipresente?
De facto, o narrador de Nutshell é um feto quase no final da gestação, que assiste à vida da sua mãe, Trudy, enquanto esta trai o marido John com Claude, o irmão do marido. Trudy também tem o hábito de beber vinho, e o feto torna-se num conhecedor capaz de distinguir um pinot grigio de um sauvignon blanc. Este novo romance, como seria de esperar, é uma comédia, muito mais ligeira do que o habitual neste autor de tópicos controversos e histórias sombrias. “Uma história clássica de assassínio e enganos”, frase seleccionada pelos editores ingleses para promover o livro sem revelar demasiado sobre o seu surpreendente enredo, indica também outros aspectos do romance.
Na entrevista, Ian McEwan fala ainda da sua opinião relativamente à votação no referendo Brexit, do efeito que as críticas negativas têm sobre ele, e do momento no qual recebeu a inspiração, quase divina, para escrever este livro, enquanto conversava com a sua nora grávida. Acrescenta, porém, que este livro não é uma defesa de filosofias anti-aborto, como muitos sugeriram; o autor é a favor da escolha, e o feto em questão está já demasiado crescido para se debater a escolha.
O autor revela também que este livro requereu muito menos pesquisa do que os anteriores (“dez minutos na Internet”, segundo o próprio), e que o encara como umas “férias”, um descanso bem merecido do realismo inexorável que é comum à sua obra. Falta apenas responder a uma pergunta: será que esta ideia tresloucada pode funcionar?
Achas que é algo que pode funcionar?