“The Broken Man“
Fui a única pessoa que ficou confusa quando começou o episódio? Cheguei a pensar que deveria ter-me enganado na série. Apesar de as roupas e as actividades e o cenário não serem diferentes, só o facto de a primeira cena estar cheia de pessoas satisfeitas e sorrisos fez-me pensar que não poderia estar a ver A Guerra dos Tronos! Mas, claro, a comuna à qual fomos apresentados, igual a muitas que se formaram em Westeros após os horrores da Guerra dos Cinco Reis, serviu apenas para reintroduzir Sandor Clegane, o Cão de Caça, na história. Assim que voltamos ao habitual nesta personagem (“sou um assassino terrível com um fundo bom mas o mundo está-me sempre a forçar a ser mau”), a comuna religiosa já não tinha propósito, e foi chacinada, ao que parece pela Irmandade Sem Bandeiras de Beric Dondarrion, que parece ter-se degenerado após a rumorejada morte definitiva do seu imortal fundador. É pena. Não estou demasiado entusiasmada para ver a meia-cara de Sandor nos próximos episódios, provavelmente a salvar alguma rapariga enquanto chacina muitos homens.
Em Porto Real, a Rainha Margaery é alvo de pressão por parte do Alto Pardal para cumprir os seus deveres matrimoniais com Tommen e providenciar um herdeiro para o reino. Ela diz que perdeu o seu desejo sexual, o que entre a tortura e a leitura da Estrela de Sete Pontas, não é de espantar, mas claro, como todos nós sabemos e o Alto Pardal também, o desejo sexual de uma mulher é completamente desnecessário à realização do acto. Esperemos que Margaery aprenda o seu dever como mulher, que é, obviamente, agradar aos outros e servir. Que ideia, não dormir com o marido porque não lhe apetecia! Já agora, fiquei um bocado desapontada com a cena na qual Margaery e a avó falam. A rainha tenta convencer a avó a pôr-se em segurança e passa-lhe uma nota secreta correndo um grande risco. Esperava ver um par de linhas garatujadas com uma confissão de que não mudara verdadeiramente a sua personalidade, ou um pedido de ajuda, ou instruções… Em vez disso Margaery desenhou uma rosa. O que pode, na realidade, ser tanto uma demonstração da sua personalidade como um pedido de ajuda, mas parece-me mais ser uma declaração: salvem-se enquanto puderem e voltem para casa, porque eu já estou perdida.
Jon Snow e Sansa Stark encontram-se numa tour pelo Norte. Visitaram duas Casas das quais falei no artigo sobre as Casas nobres do Norte: os Mormont e os Glover. Adorei Lyanna Mormont, que é o exemplo perfeito duma mulher da Ilha do Urso! Uma guerreira obstinada de sete anos, deixada órfã pela guerra de Robb Stark, ainda assim mantém sem medo a promessa ancestral feita pela sua família aos Stark há mais de mil anos. Os Glover, porém, deixaram muito a desejar. Para além de viverem claramente aterrorizados pelos Bolton (“poderia ser esfolado apenas por estar aqui a falar convosco!”), deixaram que o facto de o exército de Jon ser constituído maioritariamente por Selvagens os impedisse de manter a sua palavra de sempre protegerem os Stark. O preconceito é um assunto importantíssimo em todo o mundo d’A Guerra dos Tronos, e é por vezes a única maneira de compreender este tipo de decisões. Os Glover preferem submeter-se à tirania dos Bolton, que são nortenhos, do que lutar lado a lado com estrangeiros, pessoas de outra raça, pela sua própria dignidade e liberdade. É uma pena. Ao que parece, Jon conseguiu o apoio de uma outra família do Norte, os Hornwood (dos quais falei no já mencionado artigo), e também de um ou dois clãs das montanhas. Ao todo, o seu exército tem menos de 2500 homens, o que não será certamente suficiente para tomar Winterfell. A quem terá Sansa escrito a sua carta a pedir ajuda? A quem poderia ela recorrer? Petyr Baelish, com certeza. Aposto que veremos o pervertido “tio Petyr” a ressurgir nos próximos tempos.
Os irmãos Greyjoy continuam a fortalecer os seus laços de sangue, e toda a masculinidade que falta a Theon parece ter passado para Yara. Não gostei particularmente do facto de mostrarem Yara como um homem, com atitudes tão masculinas. A verdadeira força da personagem encontra-se em ser forte e dura e continuar a ser uma mulher, sem ter que forçar nenhum tipo de afectação masculina. Para além do facto de que rouba imensa profundidade à personagem terem-lhe roubado o seu verdadeiro caso amoroso, que é dos mais apaixonantemente descritos nos livros, com um dos seus guerreiros, Qarl “a Donzela”. Asha, isto é, Yara, nunca tem inclinações lésbicas nos livros. Espero que Yara e Theon cheguem primeiro a Daenerys do que o seu tio assustador com pretensões de Deus, Euron. Penso que Daenerys terá mais simpatia por Yara e por Theon (já sabemos que os eunucos não são uma raridade em Meereen) do que por mais um homem dominador.
Voltámos a ver novamente uma personagem que ressurgiu no episódio anterior: Edmure Tully, o irmão mais novo de Catelyn Tully e tio de Sansa, Rickon e Arya. Edmure casou com Roslyn Frey no casamento vermelho, para ser imediatamente aprisionado enquanto a sua família era chacinada. A partir daí, tem sido prisioneiro dos Frey, que, como sabemos, são pessoas com muita cultura e boas maneiras. Só que são exactamente o oposto. Podemos imaginar as humilhações e horrores que Edmure tem sofrido. Ele comporta-se como um verdadeiro homem ao ser ameaçado de morte em frente às muralhas de Correrrio, o seu lar ancestral. O seu tio Brynden, conhecido como o “peixe preto” por ser a ovelha negra da família Tully, é o único que se encontra ainda vivo e em liberdade. Não parece particularmente aflito para salvar a vida do seu único familiar vivo, e prefere morrer do que abdicar da sua honra (será verdadeiramente do sul, com um comportamento tão do norte?). A verdade é que tenho um fraco enorme pelo actor que faz de Edmure, Tobias Menzies, pelo seu papel como Brutus na série Rome! Espero que Edmure não tenha um destino igual ao do resto da sua família! Jaime provavelmente saberá tratar um prisioneiro nobre com maior respeito do que os Frey, e talvez possa tentar aliciá-lo para o seu lado.
A Arya não consegue ter um momento de sossego. Depois de toda a felicidade que nos causou no último episódio, ao livrar-se da lavagem cerebral da Casa do Preto e do Branco e ver a verdade, decidiu ir para casa. Para casa! Eu já estava a fantasiar com um reencontro entre ela, Jon, Rickon e Sansa dentro das muralhas de uma Winterfell retomada… Quando a serva do Deus da Morte encontrou Arya, que estava ridiculamente desprevenida, e lhe infligiu feridas que não poderão permitir-lhe regressar brevemente a casa mesmo que não a matem. A realidade é que a única coisa realista que poderia acontecer seria que Arya morresse, mas isso não pode acontecer. Já sofremos demasiado! De qualquer maneira, como disse na semana passada: prefiro que Arya morra sendo Arya do que que viva como um autómato assassino. E se ela pôde sobreviver a beber a água envenenada do poço no centro da Casa do Preto e do Branco, porque não poderia sobreviver a isto também?
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