“Hype pode ser descrito como um sentimento de emoção misturado com grande expectativa.”
Quem acompanha o panorama dos videojogos, especialmente nesta geração, notará certamente uma tendência: a de muitos videojogos não corresponderem às expectativas iniciais. Não me interpretem mal, temos bons jogos no mercado, mas a maioria dos grandes títulos, aguardados com enorme ansiedade, ficaram sempre aquém do prometido. Vamos fazer uma viagem a um passado muito recente, começando por regressar a 20 de Fevereiro de 2015.
Neste dia, o mundo recebeu uma nova propriedade intelectual da Ready at Dawn Studios, um jogo que, quando foi anunciado, não deixou ninguém indiferente. Estamos a falar de The Order 1886. Este título transporta-nos até uma Londres neo-victoriana alternativa, na qual é apresentado um grupo de cavaleiros conhecidos como a Ordem. Neste jogo, encarnamos Sir Galahad, e descobriremos mais sobre esta organização, enquanto combatemos criaturas fantásticas, como lobisomens. Graficamente, apresenta meios técnicos sem paralelo – nesta geração, ainda é o jogo com os melhores visuais, pena apenas usar o seu grafismo como meio de divulgação para vendas.
Realmente, The Order 1886 pode apenas ser visto como um benchmark do que a Playstation 4 consegue reproduzir, porque a jogabilidade é quase nula, e não o digo pelo facto de ser ambientada num género gasto como são os shooters na terceira pessoa. Como se isso não fosse suficiente, todo o enredo passa-se numa história sem nexo. Para juntar ao seu rol de mediocridade, a inteligência artificial do jogo deixa muito a desejar, já que pode ser terminado numa tarde, e o seu replay value é zero! O jogo teve notas baixíssimas, e muitos até o compararam a um filme.
Aqui chegamos à primeira desilusão de 2015: The Order 1886 tinha tudo para se tornar numa referência e um exclusivo de peso na consola da Sony, mas o foco apenas no grafismo transformou-o numa experiência amarga e sem conteúdo. No entanto, este seria o primeiro de muitos desaires.
A 23 de Junho estávamos novamente prontos para voltar a Gotham City, e voltar a encarnar o cavaleiro das trevas. Todos, não é bem assim, porque Batman: Arkham Knight nos PC foi um autêntico lixo e continua a sê-lo. Sobre as versões Xbox One e Playstation 4 não tenho nada a apontar, corre a uns sólidos 30 fps, resolução Full HD, e excelentes grafismos. Mas, nos PC, o nosso Batman é praticamente injogável, independentemente da nossa máquina, sem contar que foi adiado algumas vezes antes do seu desastroso lançamento. Parece que a última aventura do homem morcego será, para sempre, uma má recordação para a master race.
Avançamos até àqueles meses que fazem a nossa carteira gemer, e onde temos tantos lançamentos, que temos de ser selectivos no que comprar.
No dia 1 de Setembro de 2015, finalmente o mundo receberia a última entrega de Metal Gear Solid – Metal Gear Solid V: The Phantom Pain -, o capítulo que encaixaria as últimas peças do puzzle, nesta já conhecida e complexa saga. Longe estaríamos de imaginar que a novela Hideo Kojima e Konami tivesse um impacto tão grande na última aventura de Snake.
Antes de mais, quero referir que gostei imenso do jogo, e até o considero como um dos melhores de 2015. Mas claro, tenho de apontar os seus defeitos, e que fizeram com que Metal Gear Solid V: The Phantom Pain não chegasse a tornar-se um dos melhores jogos de sempre.
Todos sabemos que Metal Gear Solid é uma experiência altamente cinematográfica. No entanto, neste jogo, o foco foi todo para a jogabilidade, que está verdadeiramente fantástica. Muitos criticam (com razão) que as missões são basicamente as mesmas o jogo todo: resgatar prisioneiros de guerra, destruir ou roubar equipamento inimigo, assassinar soldados, e até mesmo as localizações são muito do mesmo. Por outro lado, as inesquecíveis batalhas com os bosses neste jogo praticamente não existem.
Mas onde Metal Gear Solid V: The Phantom Pain recebeu o maior desdém foi por sair para o mercado como um jogo inacabado. No capítulo 2 jogamos basicamente as mesmas missões do primeiro capítulo, tendo sido apenas adicionados elementos furtivos e uma dificuldade mais elevada. Já o polémico terceiro capítulo, intitulado Peace, nem esteve presente no jogo, porque o seu criador nem sequer teve tempo para o terminar antes da sua partida da empresa. Até mesmo a prometida jogabilidade variada na Motherbase apenas acabou por resumir-se ao espancamento de soldados e tiro aos alvos.
É realmente assombroso imaginar o que Metal Gear Solid V: The Phantom Pain podia ter-se tornado se Kojima tivesse tido mais tempo e recursos: Infelizmente, apenas podemos imaginar. No entanto, como o conhecemos não deixa de ser um grande jogo, e talvez a menor das desilusões aqui retratadas.
Com o regresso do universo de Star Wars ao cinema e às nossas vidas, o franchise foi imediatamente revitalizada. Todo o tipo de merchandise foi posto a venda, e evidentemente que os videojogos não demoraram a chegar. É sobre um deles que vamos falar já de seguida: Star Wars Battlefront.
Antes de lançar o seu jogo para o mercado, a EA fez um anúncio que considero arrojado: com toda a certeza afirmou que venderia mais de 9 milhões de cópias em todo o mundo. Desconheço se conseguiu, mas sem dúvida que desapontou mais de 9 milhões de fãs do universo criado por George Lucas. Isto porque Star Wars Battlefront apenas existe na forma de multiplayer e não existe um modo de campanha single player. Estão a brincar? Um jogo em que temos tantos momentos que podiam ser revisitados, ainda mais agora que Star Wars voltou em toda a sua glória, e é apenas resumido a uma experiência de multi-jogador. Sem contar que os compradores da edição limitada para PC apenas recebem uma caixa vazia, sem disco, com o código para descarregarem o seu jogo na Steam.
Ainda a fechar o ano de 2015, tivemos tempo para outra desilusão: Fallout 4, o aguardadíssimo jogo da Bethesda, que não esteve sequer à altura do seu antecessor. Grafismos que parecem remeter-nos para há 5 anos atrás e menos opções e escolhas fazem desta entrega outra grande desilusão. Gostava de aprofundar mais sobre este jogo, mas infelizmente não sou a pessoa mais indicada para o fazer.
Já este ano, ou seja, a 16 de Fevereiro, o mundo prepara-se para redescobrir a série Street Fighter. O seu quinto capítulo é finalmente posto à venda, e logo nos seus momentos iniciais foi visto com uma enorme controvérsia – e esse será, por si só, um tema que irei desenvolver numa futura Crónicas de um Gamer. Para já, Street Fighter V é conhecido como outro jogo inacabado, que carece de modos para single player.
No modo história, temos apenas 4 lutas por cada um dos 16 lutadores de rua, acompanhadas por ilustrações estáticas e vozes. Seguidamente, ainda nos modos de single player, temos o habitual modo de sobrevivência, com várias dificuldades, sendo que na última temos de vencer 100 adversários! Para finalizar, temos o modo de treino. Nos modos de um jogador não temos o habitual Modo Arcade, e nem mesmo no VS mode podemos lutar contra o computador. É certo que teremos mais modos com o passar do tempo – os modos de desafios e loja estão disponíveis.
Onde podemos encontrar, para já, todo o valor do jogo, é no modo Online. Aqui, sim, é onde Street Fighter V brilha ao máximo. Porém, desde o primeiro dia é quase impossível jogar neste modo em condições, com inúmeros disconnects e dificuldade em encontrar adversários a fazerem desta outra pedra no sapato deste já polémico título.
Questiono-me o porquê de tantas versões beta antes do seu lançamento. É certo que o título da Capcom é um projecto para largos anos, mas pedir 70 euros pela espinha dorsal de Street Fighter V parece ser demasiado.
Reparem como temos vários jogos e vários casos: The Order 1886 focou-se inteiramente no grafismo, Batman Arkham Knight entregou a sua versão PC a um estúdio sem experiência, Metal Gear Solid V: The Phantom Pain não pôde ser concluído pela falta de tempo e recursos, Star Wars Battlefront apenas abordou a componente multiplayer, Fallout teve uma entrega com menor qualidade e, finalmente, Street Fighter V surge no mercado apenas como um projecto a longo prazo.
De certeza que te questionas: mas então de quem será a culpa? A resposta é só uma – nossa, do consumidor. Eu admito – façovárias reservas de jogos antes de saírem para o mercado, mas ao fazer isso, estou a comprar um produto que nem sei como será. As empresas valem-se disso e, como viram através da poderosa arma que é o Hype, lançam para o mercado produtos vergonhosos e carentes de conteúdo, sabendo que nós, o consumidor, iremos comprá-los sem quaisquer reservas.
Outro dos pontos que acho que também é nossa culpa, é que nós – jogadores – queremos sempre mais e mais títulos novos no mercado. Como hoje em dia criar um videojogo não é uma questão de meses, mas sim de anos, muitas empresas colocam nas suas lojas os seus jogos tal como estão, muito por impaciência dos seus fãs. Por exemplo, a minha adorada Tales of series é quase obrigada a lançar uma entrega anual, porque seria estranho realizar um Tales of Festival sem um anúncio de um novo jogo.
Para concluir a minha visão deste tema, de uma maneira muito leve – a culpa destes casos existe obviamente do lado das empresas, mas muitos destes factores aqui descritos têm tanta culpa nos resultados finais como de nós.