“Sundowner”
Dúvidas houvesse acerca da genialidade desta série, eu espero que tenham desaparecido com a sequência de abertura deste episódio.
Jesse, Fiore e DeBlanc estão no diner, e finalmente percebemos a natureza do que está dentro de Jesse. É o filho de um anjo e de um demónio e chama-se Genesis (como a banda). Depois desse momento de exposição invulgar para a série, percebemos que já há outros anjos, nomeadamente Seraphim, na terra a perseguir Fiore e Deblanc. Percebemos que à semelhança deles, quando morrem, são ressuscitados poucos momentos depois, mais ou menos perto. Esta ideia é levada à sua conclusão lógica com uma escalada de violência, gore e comédia negra, em que Jesse, Deblanc, Fiore e Seraphim lutam num quarto pequeno cada vez mais pejado dos corpos dos anjos, que culmina com o título “Preacher” sobre a cena.
É o melhor exemplo até agora para explicar a facilidade com que esta série pega em premissas de fantasia, planta-as num ambiente realista e violento, e explora-as até aos seus últimos detalhes desagradáveis ao ponto em que se tornam cómicas.
A Tulip e a Emily são a coisa mais querida de sempre. Toda a interacção entre elas é fantástica e é uma maneira tão, tão engraçada de desenvolver ambas as personagens. A cena inicia-se com uma explosão de violência da Tulip que confronta a Emily dizendo-lhe para se afastar do Jesse, e evolui para um momento de aproximação emocional entre duas mulheres que descobrem que afinal têm muito em comum. O diálogo entre elas está perfeito, a interpretação da Ruth Negga e da Lucy Griffiths é impecável. Adoro a maneira como vão lentamente descobrindo cada vez mais pontos em comum, sendo que o mais forte é a maternidade. Aquele momento em que a Tulip diz que pode ficar a tomar conta da filha doente da Emily, e a Emily fica claramente desconfortável com a ideia, mas acaba por aceitar que a Tulip a ajude nas compras que tem de fazer para a igreja parece tão simples, mas diz tanto acerca das duas.
A não ser, é claro, que a Tulip tenha segundas intenções e esteja a ser uma pessoa horrível.
Quer dizer, ela já traiu o Jesse com o Cassidy e ao mesmo tempo continua a considerar o Jesse como namorado e está a passar-se porque a Emily parece interessada. Drama!
Porque se há coisa que esta série me ensinou, é que todas as personagens são pessoas horríveis.
O Cassidy e a Tulip estão a esconder a sua relação do Jesse, e isso não pode acabar bem; o Mayor decidiu esconder o crime do Odin Quincannon, e a maneira como ele fala ao telefone com as pessoas do Green Acres é tão calma, propositada e serena, que me deu arrepios.
Durante todo o episódio vimos o Eugene a ser progressivamente mais aceite pelos seus colegas, com eles a juntarem-se a ele e a convidarem-no para fazer coisas com eles, e durante todo o episódio eu estava à espera que acontecesse alguma coisa horrível ao pobre do Eugene. Estava à espera que acontecesse alguma coisa ao estilo da Carrie, mas no fim afinal não acontece nada. O facto de eu ter estado tenso durante todo o episódio é um testemunho à força da narrativa da série. Eles conseguem mesmo construir tensão e antecipação.
Também é uma construção de personagem muito interessante que o Eugene não acredite que mereça o perdão das pessoas, e que seja o Eugene a perceber pela primeira vez que o Jesse está a provocar esses efeitos nas pessoas, usando o poder do Genesis. O confronto entre os dois está muito muito poderoso, com cada um deles a fazer argumentos e contra-argumentos muito razoáveis na maior parte do tempo.
Go to hell, Eugene!
Acredito imenso na interpretação de Dominic Cooper, que está excelente nesta série. Sinto a sua vontade de salvar Annvile, e cumprir a promessa que fez ao pai. Sinto a sua frustração e impaciência em cumprir essa promessa e avançar com a sua vida. Sinto o poder a subir-lhe à cabeça, e o seu ignorar propositado das consequências e da moralidade das suas acções para chegar a esse fim. Não faço ideia o que é que ele vai dizer ao crentes com aquele megafone gigante que tem preso à porta da igreja, mas não vai ser coisa boa.
Mesmo no fim “Go to hell, Eugene!”.
Fiquei cheio de arrepios, a sério! A intensidade do momento estava perfeitamente bem construída, e antes sequer do Jesse se virar para revelar que o Eugene já lá não estava eu sentia que era isso que ia acontecer. Não é porque eu seja particularmente bom a prever isso, essa sensação foi propositadamente causada pela série, e significa que esta série está de facto muito, muito bem escrita.
Continuo a ficar todas as vezes surpreendido quando vejo no genérico inicial que isto é feito pelo Seth Rogen.
Será que o Eugene foi mesmo para o Inferno literal? Será que por isso vamos ter também demónios a caçar o Jesse, para além de anjos?
Raios que esta série está a ficar mesmo muito boa! E só temos mais 4 episódios, o que significa que agora é que as coisas vão começar a aquecer! Weeeeeee!