Se tens um problema, não sabes a quem recorrer e consegues encontrá-los, talvez consigas contratar o Esquadrão Classe Zero!
A Square-Enix volta de novo a apostar numa história desenrolada numa academia militar, semelhante a Final Fantasy VIII. Situado no mithos de Final Fantasy XIII, o Fábula Nova Cristallis, apresenta-nos um grupo de jovens estudantes (a maioria com nomes de símbolos de um baralho de cartas) envolvidos numa guerra, sendo muito novos para ter testemunhado os horrores dessa mesma guerra.
Apesar de um tratado de paz estar em vigor nas quatro grandes nações de Orience (cada uma inspirada em torno dos quatro símbolos da mitologia oriental), Cid Aulstyne ignora-o e envia os seus soldados I’Cie para uma guerra contra os países vizinhos. Através de uma Ultima Bomb (similar a uma bomba atómica), conquista a região de Lorica obtendo o seu cristal. Cid concentra agora os seus ataques sobre os Reinos de Concordia e o Domínio de Rubrum. No entanto, com uma arma recentemente desenvolvida por Byakko, chamada Cristal Jammer, o cristal Suzaku que manteve Rubrum de pé durante séculos é destruído, deixando-o vulnerável a ataques, o que forçou o país a render-se ao Império Milites, o reino de Cid.
Em Rubrum existe uma academia militar que treina um grupo elite chamado Class Zero. Estes jovens treinam arduamente para atingirem o estatuto de Agito e foram todos abençoados com o poder do cristal de Suzaku, quando este ainda permanecia inteiro. Quando a Class Zero entra neste conflito, um soldado chamado Izuna Kunagiri morre ao tentar ajudá-los na sua primeira missão. A Class Zero torna-se então na última e derradeira esperança neste conflito entre nações.
Final Fantasy Type-0 HD é uma port de Final Fantasy Type-0, um jogo de PSP que infelizmente perdeu-se no ocidente, mas a Square-Enix resolveu resgatá-lo para as consolas da oitava geração e recentemente para os nossos PC através da Steam. Aqui temos o primeiro grande senão de Final Fantasy Type-0 HD, o seu grafismo. A Square-Enix neste ponto apenas deu protagonismo aos seus personagens principais; acreditem, a Class Zero está bastante detalhada, usando um lightning e uns shaders de Final Fantasy XV (sofrendo um ligeiro downgrade durante as missões), desde texturas de roupa, cabelos e até acessórios como a mochila da Cater. Também alguns ambientes como a academia estão muito bem conseguidos. Quanto ao resto gostava de ser optimista mas a Square-Enix resolveu espetar HD upscaling em texturas PSP, contribuindo para um efeito bem oscilante no seu grafismo. Durante as nossas batalhas temos um efeito Motion blur excessivo que por vezes confunde; acreditem, certas batalhas são caóticas e precisam de toda a nossa atenção. Também os modelos dos inimigos são bem primários e muitos deles são apenas de dimensões maiores ou color swaps. Por muito estranho que pareça está bloqueado a 30 fps, mas a 1080p nativos.
Sendo uma Port de um jogo de PSP, Final Fantasy Type-0 HD é bem limitado em matéria de jogabilidade, ainda mais para uma gama de consolas superiores. Todos os alunos da Class Zero são diferentes, cada um à sua maneira, temos de tudo para todos os gostos: curto alcance, longo alcance, magias, projecteis e até um personagem com um sistema de luta bem parecido à popular série de luta da Namco: Tekken. Porém, todas as batalhas são regidas da mesma forma, apenas podemos equipar dois ataques por personagem inclusive magias, acabamos com uns inimigos, assimilamos a sua Phantoma (alma/força vital para aumentarmos o poder das nossas magias) e passamos ao inimigo ou cenário seguinte, sempre desta forma ao longo das incontáveis missões.
Também presente temos uma mecânica chamada Kill vision: se, por exemplo, atacamos um inimigo quando está com a defesa aberta, este ou perde grande quantidade de HP, ou morre instantemente. Este sistema poderia ser muito melhor empregue se não fossem as suas já referidas limitações, por vezes damos por nós e acabamos com um inimigo sem nos apercebermos.
A sua mecânica fez-me lembrar e muito os Fatal Strikes do RPG da Namco: Tales of Vesperia. Tratando-se de um Final Fantasy, os Eidolons não podiam deixar de marcar presença, mas neste Final Fantasy, são muito diferentes do que estamos habituados, pois para invocá-los precisamos de sacrificar um dos nossos aliados. Pode parecer estranho mas como somos vistos como dispensáveis faz todo o sentido, um tema que aprofundarei umas linhas abaixo.
Na academia o nosso tempo também é limitado: antes de cada missão da história principal dão-nos dias, durante os quais podemos participar nas perigosas e muito desafiantes Expert Missions, participar em Sidequests, criar Chocobos, treinar, falar com os nossos colegas e até estudar na sala de aula. Na maioria as nossas acções tiram-nos duas horas quando falamos com os nossos colegas, quatros horas quando saímos para o mapa mundo e doze horas quando partimos em missões, o nosso tempo é limitado por isso sejam prudentes nas vossas decisões.
Por falar em mapa, este jogo recupera o bom e velho mapa-mundo que todos conhecemos e adoramos. Aqui não temos corredores mas sim grandes distâncias, nas quais encontramos cidades, florestas, poderosos inimigos (apenas os mais fortes aparecem no mapa mundo) cavernas e até Chocobos que podemos capturar, montar e mais tarde criar nos estábulos da academia. Se fizermos certos objectivos podemos desbloquear a Aeronave: Setzer permitindo viajar do ponto A ao ponto B numa questão de segundos. De referir que certas batalhas, tanto em missões expert como de história, assemelham-se a algo muito parecido ao jogo de tabuleiro Risco, onde tomamos posse de um membro, que comanda e gere um grupo de forças militares ao longo de um excerto do mapa mundo.
Referende a sua sonoplastia, é composta na sua maioria por temas épicos, mas como a maioria das bandas sonoras têm aquele cântico como nas igrejas, certas faixas como por exemplo a do menu principal, fazem-me crer que estou diante da procissão de Nossa Senhora de Fátima ou algo do género. Quando as músicas deixam este “cliché” são variadas e muito boas. Destaco o tema do mapa-mundo, um remix heróico do tema dos Chocobo, o Interlude, presente na maioria dos jogos Final Fantasy ou o tema do Airship Setzer. Não só de sonoplastia este Final Fantasy tenta voltar às origens; alguns inimigos, conceitos e pequenos toques nas personagens direccionam-nos a isso. De salientar que podemos nesta entrega seleccionar áudio Inglês ou Japonês.
Final Fantasy Type-0 HD, é uma experiência bem diferente de Final Fantasy a que estamos habituados: por um lado tenta voltar às origens, por outro tenta reinventar-se através de uma nova jogabilidade e temas bem mais adultos
O tema base são os horrores da guerra, e no final a conclusão a que cheguei é muito simples: um soldado não é nada mais, nada menos do que uma ferramenta dispensável numa guerra.
O jogo, através dos muitos diálogos e monólogos, cutscenes violentas (em muitas delas vemos um exército de soldados a ser chacinado sem dó nem piedade), o já referido sistema de invocação de Eidolons, onde temos de sacrificar um membro da nossa equipa para os invocarmos, o clima político que pouco ou nada se preocupa com os seus habitantes, enfim, um sem fim de elementos que alimentam bem esta visão, um pouco pessimista é certo, mas bem verdadeira.
Também este Final Fantasy não esconde cenas grotescas, onde membros humanos e poças de sangue marcam presença, causando um enorme impacto a nós jogadores. Não chega a níveis de perturbação, no entanto, como já referido, bem diferente do que esperamos encontrar com um título destes na capa.
Se procuram uma experiência muito desafiante (dei por mim a parecer que estava diante de um Bloodborne ou Souls), um Final Fantasy adulto, com personagens interessantes e variadas, e não se importam com uma jogabilidade limitada e texturas de baixa qualidade na maioria dos cenários, este Final Fantasy pode ser uma experiência a ter em conta. Para finalizar acho que deviam ter adicionado Final Fantasy Type-0 HD também à plataforma PSVITA.
Esta análise foi feita com base na versão Playstation 4.