Crítica | Shimoneta to Iu Gainen ga Sonzai Shinai Taikutsu na Sekai

 GRANDE P*NIS!!!

A Lei de Ordem Pública e Moral para o crescimento saudável das Crianças baniu o uso de linguagem grosseira por mais de uma década, numa tentativa de fazer do Japão o país com os melhores comportamentos. No entanto um grupo de indivíduos atreve-se a opor-se a estas leis neste mundo aborrecido onde as palavras obscenas não existem. Esta é a história da S.O.X, uma organização composta por um grupo de jovens rapazes e raparigas ardentes de paixão, prontos para re-educar esta sociedade.

Car*lho, fod*sse, que grande par de ma**s, imaginem uma sociedade onde não pudéssemos usar este tipo de linguagem, ou não existissem temas do Quim Barreiros. Por alto esta é a história de Shimoneta to Iu Gainen ga Sonzai Shinai Taikutsu na Sekai, vulgarmente tratado apenas como Shimoneta.

Pela sua natureza, à primeira vista pode ser comparada com Seitoukai Yakuindomo, outro anime que dispara piadas e situações sexuais à velocidade da luz. Porém, analisando melhor a obra de Hirotaka Akagi, reparo que estamos próximos do livro de George Orwell 1984. Este livro relata um período futurista distópico e ambientado numa sociedade totalitarista, na qual é imposto um regime de monopolização e monitorização. Todos os cidadãos são controlados e vigiados através de câmaras de vigilância, ecrãs gigantes, etc. Existe até uma força policial para assegurar que nenhum cidadão meta em cheque nenhuma destas políticas. Se for capturado esse individuo será apagado e tal como o nome sugere a sua existência também será apagada, fazendo deste um exemplo para a sociedade. Também num ambiente mais nacional, Shimoneta pode remeter-se para o nosso regime Salazarista. Durante este período governado por Oliveira Salazar, quaisquer insinuações contra este e o governo não podiam ser proferidas, e seriam severamente castigadas. Portugal viveu um período sem liberdade de expressão. Então não será Shimoneta uma paródia animada do livro de Owel, e referente ao período da PIDE, não será a organização S.O.X uma alusão aos nossos Capitães de Abril?

Talvez sim, no entanto Shimoneta ainda tem bem escondida outra grande verdade dentro de si. O ser humano é por excelência um animal social e sexual. Vive em sociedade com os outros seres da sua espécie, e os seus impulsos são na sua maioria sexuais. Aqui temos o primeiro grande conflito da sociedade presente em Shimoneta. É impossível reprimir a nossa natureza como é descrito aqui, ao o fazermos podemos até entrar num estado de frustração sexual.

A sociedade ensina-te a comportares-te, no entanto não deixes que sejas controlado por esta; aliás, não serão o dinheiro e a sociedade invenções criadas pelos seres humanos? Analisando melhor é daí que reside todo o mal presente em nós seres humanos, por vezes alastrando-se em guerras entre países ou nações. A outra grande mensagem que Shimoneta tenta transmitir é a já referida liberdade de expressão. Neste mundo todos os seus habitantes têm uma espécie de coleiras que quando são ditas frases obscenas ou cometem actos de natureza sexuais emitem um sinal actuando como GPS, e a polícia dos bons costumes rapidamente aparece em cena para prender-te.

Descrito logo nos primeiros momentos temos uma mulher que foi apalpada no metro, e para contornar este regime teve de dizer o nome científico de c* ,ou seria também levada por esta força policial. De referir que todo o “terrorismo” mostrado em Shimoneta é apenas um indivíduo ou um conjunto de indivíduos a quererem manifestar a sua palavra.

Por muito estranho que possa parecer, as palavras obscenas podem e devem existir em sociedade. Se não existirem como podemos rotular da violação um dos seus piores males, ou afirmar o que é mau a nível sexual de prejudicial? Convido-vos a verem pelos vossos próprios olhos como retratam a violação ou a obsessão em Shimoneta. Também, como não existem conceitos destes males, as personagens não são capazes de detectar inuendos sexuais. Serem fiéis à sua natureza ficando sempre admirados quando veem, por exemplo, alguém nu, uma mulher com um cogumelo entre as mam** ou ate o simples facto de nem saberem sequer o que é sexo, nem distinguirem amor de violação. Também de referir que tudo o que a S.O.X faz não é de todo produtivo, vão existir momentos que questionaremos realmente as suas intenções.

Toda a linguagem em Shimoneta é muito forte, quer a nível verbal ou visual através do simbolismo. Os já referidos inuendos (muitas vezes até em ambientes) a própria linguagem proferida pela louca, Akame Kajo, secretamente também conhecida como a Blue Snow (interpretada por Shizuka Oshigami). A líder da organização S.O.X encontra o pacato Okuma Tanukichi, (que conta com o talento de Yusuke Kobayashi) obrigando-o a juntar-se também à sua causa. Esta actua como vice-presidente do conselho escolar para manter-se a par do que a Anna Nishikinomiya, (papel interpretado por Miyu Matsuki), a paixoneta de Tanukichi, anda a tramar já que planeia capturar a Blue Snow, que mete em perigo todos os alunos da sua escola.

Facto curioso nestas raparigas é que a Kajo, quando se encontra como vice-presidente normalmente é tímida, enquanto a Anna, fora do seu ambiente de regime de direita, é uma louca depravada, tanto ou mais do que a Akame! Mas não é só destas três personagens que vive Shimoneta, rapidamente a S.O.X recruta mais membros. A Otome Saotome (representada por Satomi Arai), uma menina baixinha que é uma grande artista, e vivia aborrecida encontrando inspiração na S.O.X. A Kosuri Onishigara (interpretada por Yui Horie), uma rapariguinha filha de um milionário que busca entusiasmo na sua vida e o facto da sua cabeça parecer a ponta de um p*nis faz com que também ingresse na S.O.X. E finalmente das sombras temos a Hyouka Fuwa (representada por Saori Goto), uma cientista que vive obcecada com os mistérios da gravidez e de como são realmente “feitos” os bebés. Aqui temos um indicativo do preocupante índice de ignorância sexual em que esta sociedade vive, nem ficamos a saber ao certo como é que esta sociedade consegue reproduzir-se. Para finalizar este ponto reparem como até alguns nomes denotam inuendos sexuais. Tanukichi pode ser interpretado com um tanuki, um mamífero conhecido por ter uns grandes Colh**s. Otome interpretamos como virgem. Anna tem o significado de buraco e finalmente Fuwa, é vulgarmente tratada como uma onomatopeia referindo prazer.

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A obra de Akagi, foi produzida e adaptada pela Genco e animada pelo estúdio de animação J.C Staff. Shimoneta apresentou cores fortes e vibrantes com uma arte cuidada, um facto que achei curioso, pois neste tipo de séries normalmente não temos este índice de arte. Talvez numa tentativa que referir que existe algo mais do que muita parvoíce animada, até mesmo o fanservice e a censura que confesso irritam-me, aqui até tiveram contexto para existir. A nível sonoro não temos grande música, neste capitulo toda a atenção é virada para a sua fantástica abertura, que podemos considerar um hino a S.O.X, e o contagiante encerramento, o lado B da personagem Anna.

Shimoneta foi mesmo uma das surpresas desta temporada de Verão. Ensinou-nos que numa boa comédia pode existir espaço para retratar e criticar uma sociedade, educar, não ser apenas uma base de dados de referências, mostrar que uma boa palavra obscena por vezes é um mal necessário. Pensem se a união entre um homem e uma mulher fosse algo tão negativo, como o resultado poderia ser algo tão belo? Vejam Shimoneta, e não retratem o sexo como algo que não possa ser falado ou referenciado, quando até é das coisas mais naturais, senão a mais natural do ser humano.

Também fazes esta leitura de Shimoneta? Ou para ti é apenas um simples anime de comédia?