Desta vez trago-vos uma visão do passado, presente e futuro da actual consola da Microsoft, porque tenho notado que muita gente não está a par da presente situação desta máquina.
A Xbox One, talvez uma das consolas mais polémicas alguma vez lançadas, desde os seus primeiros momentos foi alvo de controvérsia e sátira. No entanto aos poucos está a sair desse abismo, graças a um senhor e a uma equipa dedicada.
A Origem
Não fiquem enganados, a sua irmã mais velha, a Xbox 360, mesmo com o seu famoso anel vermelho da morte ou RROD, foi uma consola de respeito, de início penso que até superou a Playstation 3 em diversos aspectos. Trouxe grandes títulos exclusivos, como: Lost Odyssey, Blue Dragon, Infinite Undiscovery, Mass Effect, Tales of Vesperia (localizado em inglês), Halo 3, Gears of War entre muitos outros, numa altura em que a Sony ainda estava a limpar a sua taxa de bazófia, e os seus 599 dólares.
Também títulos multi-plataforma de renome como: Call of Duty: Modern Warfare 2, Bayonetta, Red Dead Redemption, ou GTA IV, eram bem mais jogáveis e apelativos na consola de Redmond, o que contribuiu para que muitos deixassem de parte a consola da Sony.
Mas o que podia correr mal? A Xbox 360 até conseguia vender no Japão, e movimentar centenas de consolas das prateleiras das lojas até às nossas casas mesmo com aqueles incessantes anéis demoníacos. Meus amigos a resposta, 1,2,3 vamos dizer todos ao mesmo tempo…o Kinect. A Microsoft numa tentativa de emular o enorme sucesso da Nintendo Wii, a focar-se também no motion gaming e num ambiente mais familiar, acabou por traduzir-se num mar de mediocridade. A Sony também reparou nesse enorme deslize, e não parou de lançar exclusivos e títulos de grande qualidade, fazendo muita gente migrar da Xbox 360 para a Playstation 3. Admito, fui um desses casos.
A Microsoft teria aprendido a lição certo? Errado! Na verdade acho que piorou ainda mais. Vamos então viajar à saudosa data de 21 de Março 2013, um dia que a Microsoft nunca irá esquecer.
Don Mattrick, o ainda presidente da divisão Xbox na Microsoft, feliz da vida preparou um evento todo janota para revelar ao mundo a sua criação, a Xbox One. Em primeiro lugar, tenho imediatamente de apontar o dedo ao nome, eu sei que a ideia era transformar a Xbox One no derradeiro centro de entretenimento nas nossas salas de estar. Mas chamar Xbox One a uma terceira encarnação desta consola, é no mínimo estranho. Ainda pensei que talvez a Microsoft quisesse apagar aquele tijolo dos seus registos, o que não parece ser o caso porque agora chama-a de Xbox original. A nova Xbox, era uma coisa hedionda que mais parecia um produto dos anos 90, um sério candidato em termos de “beleza” ao lindo Philips CDI. A comunidade pelo seu design e dimensões, rotulou-a logo de aparelho de vídeo VHS. Mas o pior ainda estava para vir, aquele tumor conhecido como Kinect, voltou ainda maior, e pronto a destruir a máquina!
Com um design horrendo e novamente um enorme destaque para o motion gaming, o que poderia correr pior? Fácil, a inexistência de jogos além do género de desporto e shooters, um foco tremendo na televisão, e umas políticas DRM absolutamente ridículas. O que para Don parecia ser um sonho, depressa tornou-se um verdadeiro pesadelo. Como é evidente a Internet não tardou em parodiar esta desastrosa conferência (podem ver um dos muitos exemplos abaixo), que esteve ao nível das lendárias conferências E3 da Nintendo 2008 e da Konami 2010.
Tudo o que escrevi acima pode ser resumido a isto:
O passar da tocha
O trabalho de Don Mattrick foi tão desastroso que acabou despedido. Para evitar que a consola se tornasse numa Atari Lynx era preciso fazer alguma coisa, quem quer que fosse teria entre mãos um feito bem difícil.
Sensivelmente um ano depois deste incidente, soubemos que Phil Spencer seria o seu sucessor. Spencer não era uma cara desconhecida na empresa. O seu trabalho passou pela programação da Microsoft Encarta, um produto bem famoso nos meados dos anos 90, foi um dos grandes responsáveis pelo estúdio Lionhead e esteve em várias ocasiões ligado ao nome Xbox. A premissa de Phil era muito simples, abandonar tudo de desastroso fora do âmbito do gaming, e focar-se no que realmente interessa, os seja, os jogos.
Primeira coisa a fazer, abandonar o foco ao Kinect, e torná-lo opcional. Com isto tivemos um ligeiro corte no preço, tornando-se até bem mais barata do que a sua concorrente directa, a Playstation 4. No entanto a Xbox One sofria e penso que ainda sofra de outro problema, precisava imediatamente de system sellers. Para isso não foi preciso esperar mais, a E3 estava já ao virar da esquina.
Pela primeira vez vemos Phil como presidente da Divisão Xbox, alguém mais humilde, pedindo até desculpa pelo sucedido aos seus leais consumidores, e prometendo dar-nos o que queríamos, ou seja jogos de qualidade. E aí foi quando começámos a ver finalmente vida e interesse na Xbox One. Títulos como Quantum Break, Recore, Scallebound, Gears of War 4, Halo 5: Guardians, Sunset Overdrive e Rise of the Tomb Raider (que é apenas exclusivo temporário) fizeram as delícias de todos. Naquelas duas horas, certamente soubemos que Phil estaria à altura de revitalizar o nome Xbox na indústria dos videojogos.
A nova era Xbox
O responsável pela Xbox não ficou por aqui, e foi ainda mais longe. Spencer reuniu uma equipa atenta ao feedback dos seus consumidores com um foco em mente, o de criar uma Xbox One com a ajuda de todos. Muitos dos erros menores na consola foram resolvidos, inclusive desenharam um comando com base no que os fãs desejavam. No entanto no início deste ano Phil fez um anúncio, que não só iria apontar o dedo à concorrência, como tornar a Xbox um modelo a seguir.
Os consumidores falaram e Phil respondeu. Com enorme surpresa soubemos que a retro-compatibilidade Xbox 360 chegaria à Xbox One, numa data futura. A Equipa conseguiu implementar uma característica que não estava presente, e que muitos achavam impossível devido à arquitectura de programação da Xbox 360. Neste momento é possível jogar Gears of War e Fallout 3 nas nossas Xbox One, grátis e sem grandes confusões como vou passar a explicar-vos.
Se tiverem o jogo em versão digital, basta navegarem até à vossa ludoteca e lá estarão os jogos compatíveis com esta última actualização (são cerca de 104) à espera de serem instalados. Se tiverem a versão física basta inserir na vossa consola e imediatamente a máquina procede à sua instalação. Também uma conta Xbox Live é universal e podem utilizar a mesma entre “consolas”.
Muitos de vocês devem pensar, então e o meu progresso de jogo, os meus dados gravados e DLC? Nada mais simples, assim que fizerem a actualização estes são transferidos através da nuvem para a vossa Xbox One. Simplesmente de génio! Phil promete com regularidade adicionar mais retro-compatibilidade na nossa Xbox One, até já deixou no ar que, de futuro, gostava de alargar o portefólio Xbox 360 para o Windows 10 e permitir também retro-compatibilidade Xbox original na Xbox One. Gostavam de voltar a jogar Panzer Dragoon Orta e Jet Set Radio Future, ou jogos Xbox 360 no PC? Eu gostava e certamente vocês também.
Para fechar este capitulo, à uns dias descobriu-se uma particularidade muito curiosa, a emulação Xbox 360, na Xbox One é região livre. Traduzindo por miúdos, se forem adicionados ao catálogo podem jogar aqueles jogos japoneses que nunca foram lançados cá na vossa Xbox One, e para os caçadores de Gamescore é um sinónimo para re-jogarem jogos de outras regiões e coleccionarem todos os achievements. Muitos podem questionar o que isto tem de realmente importante? Essa resposta será tema no nosso seguinte ponto.
A Concorrência
A Phil e a sua equipa são um verdadeiro exemplo a seguir, neste ponto vou apontar cruelmente o dedo a Sony pelo que tem feito no que toca a retro-compatibilidade. Ao passo que podemos usufruir desta funcionalidade grátis tanto na Wii U como na Xbox One, porque temos de comprar novamente os nossos jogos Playstation e Playstation 2 na PSN? Ainda mais quando era só colocar o disco na nossa consola e pronto? Realmente aqui o dinheiro fala mais alto. Como não fosse o suficiente no serviço Playstation Now, ainda é mais ridículo, além de começar-mos do 0 ( não existe forma de transferir dados salvos) temos de, por exemplo pagar novamente pelo DLC que já adquirimos na nossa Playstation 3, para além disso este serviço não está ao alcance de todos, por não estar disponível em todos os países e precisar de uma elevadíssima ligação a internet. Pensem como uma Meo Box e o serviço Meo jogos. É realmente de louvar o trabalho de Phil porque não só podia explorar uma fonte extra de rendimento, como também permite que menos consolas Xbox 360 fossem vendidas. Ao ter esta mentalidade também deixa a chance que muitos utilizadores da Xbox 360, dêem o salto para a oitava geração, porque assim a longo prazo a sua ludoteca não fica inutilizada. Este mecanismo também apaga por completo os HD Remasters, possibilitando novas ideias em vez de aumentar a resolução e espetar uns filtros numa experiência muito recente. Sem dúvida a Sony só teria a ganhar se seguisse as pegadas do tio Phil neste ponto. Sim, eu sei no momento que este artigo foi escrito, ainda não existiam noticias acerca da retro-compatibilidade Playstation 2 na Playstation 4. No entanto ainda não sabemos como vai ser, e se poderemos usar os nossos discos. Também para finalizar este ponto, ainda não sabemos se finalmente com a tecnologia DirectX12, a Xbox One vai finalmente equipar-se a mais recente consola da Sony, e deixar os seus negativos 900p de lado.
O futuro
Na minha óptica, o verdadeiro foco da Xbox nesta geração, não é vender mais consolas, nem conquistar o territórios como é o caso do japonês. Eu penso que acima de tudo é ganhar novamente a confiança que foi completamente destruída pelo Kinect e pelo Don Mattrick.
Spencer fora do escritório da Microsoft, é uma pessoal bastante humilde, admite que joga Playstation 4, deu em várias ocasiões os parabéns a concorrência pelas vendas e adora Uncharted, tanto que gostava de um dia vê-la numa caixa verde. Eu chego a conclusão deste paradoxo. As consolas querem ser cada vez mais um PC, e o PC cada vez mais quer ser uma consola.
O reflexo disto está em tudo o que Don Mattrick tinha em mente para a Xbox One. Ferramentas como Skype, Bing e ver TV na nossa consola, (nunca irei perceber esta) ou seja transformar um aparelho que devia ter como foco apenas de jogar quase um PC. Enquanto o PC, procura a simplicidade e imediato de uma consola.
Phil partilha a minha visão de uma consola, eu não quero uma consola para ver TV, não quero falar com ela, não quero fazer chamadas Skype, e nem quer quero comandar a minha maquina como fosse um wannabe Jedi. Simplesmente quero jogar grandes títulos e viver grandes experiências, uma ideia tão simples que está connosco desde o primeiro dia, mais que dia após dia vai-se tornando cada vez mais esquecida. Phil Spencer pode não ser um visionário como Satoru Iwata e Ken Kutaragi foram, mas sem dúvida é um nome a respeitar dentro e fora desta indústria. Por isso vai-te a eles, Phil! I am really Philing it!!