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O género do Western é um dos mais famosos e clássicos da história do cinema. São de tal maneira fundamentais à sua história que, por exemplo, o The Great Train Robbery, de 1903, é um dos primeiros filmes a usar a técnica do cross-cutting, usada para mostrar acção que ocorre simultâneamente, mas em locais diferentes.

São filmes focados em cowboys ou pistoleiros justiceiros, nómadas, que usam pistolas, chapéus, botas e esporas, andam a cavalo numa paisagem da fronteira do Oeste Americano, cheia de desertos, desfiladeiros, pequenas cidades fronteiriças, saloons, ranchos, vias férreas, populados por índios, foras-da-lei, xerifes, caçadores de prémios, exércitos de cavalaria, famílias pobres e humildes a tentarem sobreviver e magnatas do petróleo sem escrúpulos. Filmes como estes foram extremamente populares em Hollywood desde a invenção do cinema até fins dos anos ’60. São desta época clássicos definidores do género como O Comboio Apitou Três Vezes (1952), Shane (1953) e A Desaparecida (1956).

Depois dos anos ’60, o género começou a perder alguma popularidade e a diversificar-se imenso, dando origem a imensas reinterpretações como Danças com Lobos (1990), El Mariachi (1992), Aberto até de Madrugada (1996), Wild Wild West (1999), Shanghai Noon (2000), Serenity (2005), Cowboys e Aliens (2011).

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Até séries de televisão como Breaking Bad – Ruptura Total (2008), The Walking Dead (2010) e Preacher (2016) vão buscar imensas referências ao Western.

Mesmo a maioria dos Westerns mais recentes são sobretudo reimaginações dos Westerns clássicos, seja do ponto de vista estético com O Assassínio de Jesse James Pelo Cobarde Robert Ford (2007), de realismo em Este País Não É Para Velhos (2007) ou Indomável (2010), o que quer que sejam as experiências do Tarantino em Django Libertado (2012) ou Os Oito Odiados (2015).

Mas um Western clássico, de bons contra maus, sem reimaginações, sem reinterpretações, um Western à séria sem floreados ou experiências de formato, isso já não tínhamos há algum tempo. Ou pelo menos até agora, com Os Sete Magníficos.

Os Sete Magníficos, realizado por Antoine Fuqua, pega em todos os tropes, todas as ferramentas narrativas, todos os arquétipos de personagens que conhecemos dos Westerns clássicos e coloca-os a todos no mesmo filme e, surpreendentemente, isso funciona.

O filme não é uma exploração de um tema, não tenta ser realista, não tenta fazer experiências com o tom ou com o formato, não tenta ser profundo. O filme apresenta-se como um Western cheio de cowboys, índios, vilões de capa preta, tiroteios e perseguições a cavalo, e mais nada.

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Para começar o enredo é extremamente simples e directo. Há um vilão mesmo muito mau de capa preta a quem só falta tornear o bigode e atar donzelas a carris, que quer roubar a terra a uma comunidade humilde mas trabalhadora. Esse conflito é apresentado nos primeiros 10 minutos de filme e nunca se complica para além disso. Todo o resto do filme é um longo e elaborado setup para resolver esse conflito, no fim, de forma explosiva e barulhenta.

Não entendas por isto que o filme é aborrecido! A realização e o ritmo estão excelentes de tal maneira que num filme surpreendentemente longo (mais de duas horas) para uma história tão simples, simplesmente não senti o tempo a passar. O ritmo é muito bom, sobretudo para um filme que não tem assim tantas sequências de acção como se poderia pensar e consegue manter o interesse no que é um crescendo quase constante de tensão desde os primeiros 10 minutos até à grande resolução final. Todas as sequências estão bem montadas, têm particularidades interessantes ou divertidas para ver e nunca sentimos que o filme esteja só a encher chouriços até chegar ao que interessa.

As grandes paisagens do Oeste Americano estão lá na medida certa. Os desfiladeiros, as montanhas, os desertos, os pores-do-sol. A fotografia do filme é bonita, mas não é espectacular. O mesmo se pode dizer da música – faz o seu trabalho bem, mas pouco mais.

É UM FILME DE COWBOYS E ÀS VEZES BASTA ISSO PARA NOS DIVERTIRMOS!

O que é realmente bom neste filme são as suas personagens. Os Sete Magníficos dá-nos um ensemble cast de personagens que são todas coloridas e únicas à sua maneira. O filme não esconde que os sete magníficos encaixam todos nas suas próprias caixinhas nicho de arquétipo de personagem do Oeste, nomeando esses arquétipos no próprio trailer. Temos o Caçador de Prémios (Denzel Washington), o Jogador (Chris Pratt), o Bandido (Manuel Garcia-Rulfo), o Atirador (Ethan Hawke), o Assassino (Byung-hun Lee), o Guerreiro (Martin Sensmeier) e o Batedor (Vincent D’Onofrio). As personagens são-nos apresentadas uma a uma, cada uma delas tem a sua “coisa” que a distingue de todas as outras, cada uma delas tem o seu momento de brilhar durante o filme, todas elas são divertidas à sua maneira. Grande parte do filme, de todo o setup e preparativos para a resolução final são pouco mais do que desculpas para pôr as personagens a interagirem umas com as outras e para nos divertirmos a ver de que maneira chocam ou empatizam (algo que, por exemplo, o Esquadrão Suicida não conseguiu fazer tão bem).

Um dos erros que este filme poderia ter cometido era ter perdido muito tempo a dar backstory e a explicar pormenorizadamente as motivações e mundo interior destas personagens. Isto faria inevitavelmente com que umas personagens fossem desproporcionalmente caracterizadas em detrimento de outras (estou a olhar para ti outra vez, Esquadrão Suicida). Em vez disso, o filme mostra-nos apenas pequenas sugestões ou momentos que dão a entender que as personagens são mais profundas e complexas do que parecem ser à superfície ou pequenas falas quase perdidas no meio de diálogos que deixam perceber histórias passadas traumáticas ou motivações complexas, sem nunca as explorar profundamente.

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Estes momentos estão todos tão bem conseguidos que eu fico genuinamente curioso e interessado por saber mais destas personagens. Por vezes, a complexidade implícita é mais interessante e misteriosa do que a complexidade exposta detalhadamente. Isso permite que estas personagens que são apresentadas como meros arquétipos de personagens, muito bem encaixadas no seu nicho, consigam, de uma forma subtil e muito eficiente, transcender essa caixinha, mesmo que por um momento. As personagens de Ethan Hawke e Vincent D’Onofrio são excelentes exemplos disso e muito disso se deve às suas excelentes interpretações, que em tão pouco tempo nos dão a impressão de pessoas muito mais torturadas e complicadas do que poderiam parecer.

Apesar disto é inevitável que haja mais foco dado a algumas personagens do que a outras. As personagens de Denzel Washington e Chris Pratt são aquelas em quem a maior parte das cenas se centram, como seria inevitável, e qualquer um deles faz o seu papel com uma perna às costas. Denzel Washington transmite uma fixeza sem-esforço e Chris Pratt é charmoso e trapalhão nas doses certas.

O vilão de capa-preta, bigode torneado, que ata donzelas a carris está fantasticamente interpretado por Peter Sarsgaard. A sua introdução no início do filme é incrivelmente poderosa e a sua presença é imensamente ameaçadora. Só tive pena de não ver mais dele, uma vez que não tem muitas cenas, e senti que, por causa disso, a personagem perdia um bocadinho do seu foco lá mais para o fim do filme.

Haley Bennet interpreta muito competentemente a única personagem feminina do filme digna de nota, na medida em que consegue não ser salva nem ser o interesse romântico uma única vez.

Como eu disse ao início, Os Sete Magníficos é uma execução simples de todos os tropes dos Westerns clássicos, sem floreados ou subversões. Talvez por isso, por ser tão directo, tão simples, eu tenha saído do filme a sentir que faltava qualquer coisa. Não sei dizer ao certo o que é que faltava, porque não estava lá. O filme é superficial, falta-lhe substância, falta-lhe sumo, falta-lhe uma profundidade que eu quase que me sinto mal por estar a apontar, depois de passar tanto tempo a dizer que o filme é bom exactamente porque é um reverter aos clássicos.

Por outro lado é um filme muito sólido, muito competente, é difícil apontar-lhe erros. É divertido do princípio ao fim, vale bem o preço do bilhete.

É um filme de cowboys e às vezes basta isso para nos divertirmos!

Bem-Bom

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Gui Santos
Sou um cinéfilo viciado em narrativa, dado a devaneios pretensiosos. Também consigo fingir que percebo mais sobre BD e jogos de computador do que o que realmente sei. Fico constrangedoramente excitado com tudo o que tenha a ver com os Estúdios Marvel.