Crimson Peak: A Colina Vermelha
Crimson Peak
Fantasia, Drama, Horror
M/16
22 de Outubro de 2015
EUA , Canada | 2015
119 min
Quando o seu coração é roubado por um estranho sedutor, uma jovem é levada para uma casa no topo de uma colina de argila vermelha: um lugar repleto de segredos que a assombrarão para sempre. Entre o desejo e a escuridão, o mistério e a loucura, encontra-se a verdade por trás de Crimson Peak.
Guillermo del Toro
Guillermo del Toro, Matthew Robbins
Tom Hiddleston, Mia Wasikowska, Jessica Chastain, Charlie Hunnam, Jim Beaver, Burn Gorman, Leslie Hope
Tive um fangasm enorme! Que fã de horror, de casas assombradas, de passados misteriosos e de histórias fantasmagóricas não teria?! Estive perto de chorar quando vi o trailer no cinema, que em vésperas de eleições, fazia mais promessas que as campanhas por cá! A fotografia, a edição, a história, a direção, efeitos especiais, fantasmas, suspense, parecia um sonho de filme perfeito para o Halloween… mas o filme não me satisfez tanto quanto prometia.
Infelizmente, o enredo nunca nos mergulhou no mistério e no drama… e já agora no horror. No entanto, não há que deitar tudo por terra, pois Crimson Peak: A Colina Vermelha brilha em muitos aspectos que não o guião.
Não há como negar a perícia com que construíram o visual do filme, algo com uma vasta gama cromática minuciosamente explorada para transmitir a atmosfera da história. Também não há como negar a dedicação de Guillermo del Toro para conseguir construir uma história apaixonante, que se não fosse o grave problema desta não ter sido melhor desenvolvida, cumpriria o seu objectivo de honrar grandes lendas como A Casa Maldita e Os Inocentes, que são as grandes referências a partir das quais o director construiu não só as ideias do guião, mas também do espaço onde se passa a ação.
Em Crimson Peak: A Colina Vermelha encontramos bastantes semelhanças físicas a esses grandes filmes deste sub-género, que há muito não apanhamos nos cinemas – agora que o pessoal se vira mais para os found foutages – pelo que vinha mesmo a calhar que o enredo funcionasse e revivesse essa parte do cinema que parece ter sido deixada no século passado.
Guillermo del Toro introduziu uma série de jumpscares que me recordam em muito os velhos, os típicos, os míticos, os verdadeiros sustos! Mas só alguns em específico me fizeram saltar da cadeira, pois muitos outros são previsíveis e chegam a abusar na quantidade de tentativas em pouco espaço de tempo. Ainda assim, de certeza que vão assustar muita gente, ou não tivesse o filme aquele timing, aquela sonoridade a afunilar-se, aquela sensação de aperto em torno do momento que faz o espectador cravar as unhas nos braços da cadeira da sala de cinema.
Salvo algumas direcções com que não concordo, por levarem as personagens a indicações inconvenientes e anti-naturais – que gostaria de fingir que não existiram -, a direcção esteve a um nível bastante bom, dando espaço para boas descrições, onde deixa o espectador apreciar e respirar a ação. Mas, ao mesmo tempo, falha em deixar algumas pistas que os personagens vêm logo a desmistificar – muito peixe e pouca rede -, não deixando o espectador embrulhar-se no mistério. Em vez disso, dá-lhe logo o peixe…
Por outro lado, com o argumento fizeram precisamente o contrário – muita rede e pouco peixe: tinham todo um filme e com bom conteúdo a ser explorado, e ao longo desse tempo não o souberam gerir de forma a captar profundamente a história.
O guião é a grande pedra na Colina Vermelha – sentimo-nos demasiado distantes do que quer que se esteja a passar, pois muito pouco se passa a nível de ação e mistério. Ficamos demasiado perdidos a adorar os espaços e a arte do filme, enquanto as personagens não nos cativam, e ainda por cima a história tem um ritmo lento, que logo no início impossibilita que o filme possa captar o interesse do espectador em fazer parte da história.
O enredo tem conteúdo incrivelmente interessante, tinham pano para mangas, como se costuma dizer. Pensaram em aspectos fascinantes, ingredientes que poderiam muito bem fazer desta história algo explosivo e extremamente delicioso para qualquer fã de horror, e especialmente de casas assombradas. Mas esqueceram-se demasiado do build-up, de criar mistério, pois basicamente nós desde o início que sabemos que algo de horrível se passou, e assumimos a partir daí que tudo o que se desvendar vai-nos levar até àquela conclusão.
A adicionar a isto, também temos na mesma onda os clichés, a começar pelo “nunca vás lá a baixo”… Bem, é precisamente para lá que vamos! Todos abordo?
Noutros casos, observamos por três vezes um plano idêntico em diferentes partes do início do filme, e eu estava sempre à espera daquilo acontecer ao estilo sweeney – de facto o enredo tem aquele cheirinho a Sweeney Todd com aquela cave. Só que como já disse, visualmente o filme Crimson Peak explora mais a gama cromática, e pelos vistos também a gama com que se pode tratar um cliché, mas ainda assim é um cliché, sabem, estou só a dizer… meh.
A estes aspectos há a acrescentar a porcaria de diálogos. A primeira vez que vi uma personagem abrir a boca, soube logo que os diálogos iam ser terríveis! São demasiado básicos e pouco interessantes, ao drama não acrescentam nada, e algumas relações de ação-reação descritas não são nada naturais e não fazem sentido. A personagem ir para ali naquela situação, ou deixar aquilo ali e depois de avançar um metro pegar naquilo como se tivesse achado o objecto do nada e não o tivesse anteriormente usado para se defender… chegam a ser inconvenientes, especialmente se formos a ver essas situações no dia-a-dia, porque no filme a atuação tentou tratar essas indicações com conveniência.
Gostava tanto que houvesse a versão da história em livro para me poder embrulhar numa boa leitura, e sentir na pele todo aquele ambiente frio, escuro, misterioso e fantasmagórico, pois o filme é sem dúvida tão rico e poderoso em conteúdo, mas tão lamentavelmente pobre no seu desenvolvimento, que até me faz chorar!
Devo dizer que também me senti desapontada com a atuação: uma pessoa está sempre à espera de ver emoções fortes reflectidas nas personagens, mas só vi expressões muito genéricas.
Tom Hiddleston (Thomas Sharpe) foi sem dúvida quem prestou a melhor interpretação no filme. Encarnando um Thomas sempre cheio de mistérios, muito fechado, mas ao mesmo tempo uma personagem que demonstrou um carisma acanhado e uma a vontade de querer ser livre para amar e viver a vida sem se sentir preso aos fantasmas do passado. Ao dar vida a Thomas, Tom fez com que a personagem se tornasse a mais humana em campo, com quase cada palavra sentida e cada expressão a puxar por sentimentos muito verdadeiros.
Jessica Chastain (Lucille Sharpe) fica aqui em segundo lugar, por trazer consigo uma energia que alimentava o tom misterioso e tenebroso do filme, muito direta e decidida, e também muito fechada. Foi a personagem com que mais me preocupei em compreender e adorei o toque de Guillermo na personagem, pois em vez dele fazer o cliché de todas as histórias de fantasmas, ele guiou a personagem até esse estado que só vemos no fim.
Mia Wasikowska (Edith Cushing), a última do meu top 3, por criar uma personagem suficientemente convincente, com alguma falta de expressividade e “pãozinho-sem-sal” que nem sabe onde é que se foi meter…
Charlie Hunnam foi mais genérico no seu papel de Dr. Alan McMichael, mas não tanto quanto Jim Beaver (Carter Cushing), que foi mais um vomitar do guião que outra coisa.
Quero mencionar ainda Burn Gorman como Holly, porque – vá lá – quem mais é que poderia interpretar um detective privado tão austero, cauteloso e sombrio com tanta destreza? Burn foi uma surpresa muito agradável, embora só tenha aparecido para um papel tão pequenino.
Falando agora do processo de pós-produção, a primeira grande cabeçada do filme foram as transições em íris, que lentas, paravam o ritmo da história só para nós vermos aquilo a fechar e a abrir… Alguém devia quantificar o tempo de filme que se perde nessa brincadeira. Epá, a sério, poderia ter tido piada no início, mas levar com isto no filme todo deixa o espectador desconfortável… podem achar que estou a ser picuinhas mas, meus amigos geeks, é este o aspecto que melhor define o nível de inconsistência neste filme.
No início, notou-se que queriam usar esta transição em cortes onde se mudava de cenário e não de tempo, embora esta seja muito mais indicada para cortes entre espaços temporais diferentes. Mas por fim, parece que foram mais longe, e andaram a fazer “pim-po-neta” para decidir onde é que essas transições – nada agradáveis – iriam ser mais inconvenientes. Ao fim de se passar quase metade do filme sem aplicarem a transição, entre cortes que estavam a construir o suspense, meteram a maldita da transição, que quebrava assim todo o ritmo, todo aquele sentimento de hanging até então construído… baah! Parar o suspense a meio só para ver aquilo a fechar e a abrir! Tirando essa coisa esporádica, todo o trabalho de edição se manteve num nível interessante, com cortes a bom ritmo que nos deixavam respirar a ambiência do filme.
A nível de tratamento de imagem fiquei a achar que o visual estava demasiado claro para o tom da história, que pedia por algo mais sombrio a levar ao obscuro, mas aí está, a ligeireza com que se tratou o argumento não manteve a tenebrosidade de todos os aspectos, que poderiam ter feito de Crimson Peak: A Colina Vermelha uma das melhores ghost stories do ano.
Se há coisa que não me desapontou muito foi a fotografia. Destaco planos com uma iluminação misteriosa, composições no geral equilibradas, com ambiência, mas que podiam ter sido ainda fortificadas com mais um pouquinho de trabalho de pós-produção. Nota-se o cuidado em encontrar tonalidades que respirassem a ambiência da história, cuidado que também se veio a reflectir no excelente trabalho de Kate Hawley (Hobbit, Suicide Squad) na conceção dos fatos – e não são só os espectadores do sexo feminino a dizer isto heheh. Todo o guarda-roupa tinha um design bastante interessante e old fashion, reflectindo assim o espírito da época, mas que ainda em termos fotográficos chegam a ganhar demasiada importância em campo. São praticamente “personagens”, pois em planos em que temos o céu e a terra com pouca saturação, de repente está ali aquele vestido dourado de ofuscar a dançar no corpo de Mia Wasikowska, e durante esse plano não se consegue tomar atenção a mais nada!
A arte, efeitos especiais e animação têm sido as componentes mais elogiadas do filme, e eu pessoalmente amei como Thomas Sanders e Brandt Gordon, que embora noutros projectos nunca tenham destacado a nível de perícia, conseguiram aqui criar cenários riquíssimos em tons e formas obscuras e sombrias, muito ilustrativas do tom da história, e que chegam a falar mais alto que as personagens. De facto, a casa em si foi a minha personagem preferida no filme – com todos os seus defeitos! Já os fantasmas, são exatamente aquilo que esperava ver, e o pessoal do departamento de efeitos visuais e especiais parece não ter nada a esconder, porque chegamos a ver o seu trabalho de perto e bem definido!
A banda sonora composta por Fernando Velázquez é capaz de passar despercebida para muitos, pois os seus temas são carregados de contexto, e conseguem-se camuflar muito bem com a atmosfera e o momento. O seu tom de suspense, os ataques que nos deixam pendurados, as notas de arrepiar a espinha, deixam-nos realmente fantasiar pela sua ambiência misteriosa, tornando-se uma das camadas mais importantes no filme. Se ficaram curiosos, oiçam:
Com todos estes ingredientes, ainda vais ver Crimson Peak: A Colina Vermelha?
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