Noragami ARAGOTO
ノラガミ ARAGOTO
Shounen
M/12
2 de Outubro 2015
Japão | 2015
13 episódios
Bones
Na segunda temporada de Noragami o Foco é na Deusa da Guerra, Bishamon. Esta nutre um ódio intenso por Yato, já que toda a sua "família" foi assassinada por este. Um confronto que esteve em antevisão durante séculos vai finalmente acontecer! Mas no meio destes eventos qual será o papel de Yukine e Hiyori?
Koutarou Tamura
Adachi Toka
Adachi Toka
Kamiya Hiroshi, Yuki Kaji, Maaya Uchida, Miyuki Sawashiro
Depois de uma primeira temporada bem sucedida, o Deus Yato regressa para mais ação detonante e humor cintilante. Sem deixar-se cair nos tradicionais clichés habituais de séries donde retira elementos, tais como Bleach, Yu Yu Hakusho e Kyoukai no Rin-ne, Noragami já conquistou dentro do seu espaço uma imagem muito própria. Com um sucesso estrondoso, que imediatamente o fez ultrapassar os 100.000 exemplares de tankoubos vendidos (compilações manga), não poderíamos ter um momento mais oportuno para uma segunda temporada.
O espírito do Jersey!
A história vocês já a conhecem, mas nunca é demais relembrar.
Yato é um Deus caloiro. O seu sonho é ser famoso, de forma a que seja construído um templo em sua honra. O dever de Yato é o de exterminar espíritos maléficos (Ayakashi), e desta forma espera conseguir ganhar notoriedade dentro e fora do mundo dos Deuses. Certo dia, ao perseguir um destes espíritos, o Deus de fato-de-treino encontra Hiyori Ikki, uma estudante do ensino secundário que quase perde a vida num acidente de viação. A bela e energética estudante faz um apelo ao Deus, para que possa ajudá-la a reparar o seu espírito, já que parte do seu corpo tornou-se um Ayakashi. Yato encontra finalmente a sua primeira seguidora devota, bem, a primeira de muitos como pensa imediatamente.
A primeira impressão que retiramos desta série é o seu humor, explorando o choque entre o Japonês contemporâneo e o tradicional. Noragami apresentou uma desconstrução de personagens tradicionais Japonesas, ambientadas num quotidiano moderno. Por exemplo, quando Hiyori apercebe-se que perdeu parte do seu espírito, não olhando a meios, diz a Yato que apenas bastaria ligar a sua ligação Wi-fi para encontrá-lo.
Ainda explorando as personagens, reparem como todas têm elementos característicos desconstrutivistas. Yato é um Deus de fato-de-treino, e Hiyori é uma bela jovem, fã de luta-livre. Até mesmo figuras mitológicas célebres como a Deusa da guerra, Bishamon, que mais parece uma modelo sexy de Pin-up, ou a Deusa da pobreza, Ebisu, que resume-se apenas a uma lolita kawai fofinha. Num contexto familiar e concreto, tanto a primeira temporada de Noragami como Aragoto certamente farão as vossas delicias. Mas nem só de comédia vive Noragami, a ação situada numa Tokyo realista é explosiva e acutilante, prendendo imediatamente o espectador à série.
Mesmo um Deus tem as suas fraquezas!
No entanto, nesta segunda adaptação televisiva da obra de Adachi Toka, a comédia fica retida em segundo plano. Isto porque o dramatismo marcou uma presença muito mais acentuada. Noragami Aragoto explorou arcos muito mais sérios, onde ficámos a conhecer mais em pormenor o passado das suas personagens.
Grande parte da ação em Aragoto, esteve a cargo de uma dimensão mais próxima da Deusa Bishamon, que perdeu a sua “família” às mãos de Yato! Ao contrário da primeira série, que penso que apenas atuou como uma breve introdução ao ambiente e personagens (só foram animados os seus primeiros três volumes), aqui tivemos uma maior densidade emocional, situada num enredo mais intenso, cruel, direto e relacionável, mostrando que também por detrás de um sorriso pode existir um passado gélido.
Noragami Aragoto ilustrou também uma realidade mais pessimista de uma série que teve como base a ação e comédia, e tivemos diversos elementos sociais e religiosos. O Deus Yato encarna uma realidade religiosa, num Japão que venera o estado quotidiano e tecnológico, os Yokais maléficos ilustram os privilégios na sociedade, e finalmente os Deuses, todos eles, de uma forma ou de outra, representam a solidão e um culto esquecido. A importância da amizade (elemento vital numa obra Shounen), marcou presença também em Aragoto, mas mostrou uma realidade menos juvenil e mais afectiva.
Noragami é um claro contraste com a já referida obra de Rumiko Takahashi, Rin-ne. Ambas apresentam exactamente o mesmo tipo de ideias, mas a forma como estas são contextualizadas é completamente diferente uma da outra. As situações e personagens descritas em Rin-ne não tentam sequer mostrar uma visão mais aprofundada, contribuindo para um enredo, bastante linear, previsível e de certa forma infantil quando comparado com a maturidade que Noragami demonstrou. No entanto, está longe da poesia visual que é Mushishi, ou das bravuras destemidas de Yu Yu Hakusho ou Bleach. Noragami. Na minha ótica está entre um e outro.
O toque Noragami
Através de uma arte atrativa, os heróis de Noragami transbordam carisma e pequenos elementos que os caraterizaram imediatamente. O olhar penetrante e distante de Yato, o vestuário de inverno de Yukine, e finalmente as expressões e emoções de Hiyori. Todos estes ligeiros toques são de imediato reconhecíveis e atuam como referência para as suas personagens.
Com uma banda sonora variada, Taku Iwasaki, o compositor por detrás de obras célebres como Soul Eater e Black Butler (Kuroshitsuji), volta a surpreender-nos novamente com uma banda sonora rica em misturas improváveis: Taikos (tambores), e flautas, muitas vezes são encaixadas com música dubstep e soul. Ilustrando uma maior visão entre a tradição e o modernismo da série. Gostava também de referir a muito contagiante abertura, interpretada pela banda Oral Cigarettes – intitulada Kouran Hey Kids! -, a qual geralmente repetia sempre, cantarolava, e é sem dúvida uma das melhores que já ouvi numa abertura de uma série anime.
O estúdio Bones voltou à carga em Noragami Aragoto, ilustrando uma vez mais uma Tokyo rica em decorações imersivas, tanto tradicionais como modernas. Todos os ambientes em Aragoto são reconhecíveis e incrivelmente detalhados. O contraste com um mundo espiritual mais grotesco e sombrio, no qual grande parte das cenas ação terão lugar, contrasta com um mundo colorido, rico em arquitetura e onde cores vivas como o verde e azul predominam.
Noragami Aragoto, merece mesmo toda a vossa atenção. Depois de uma primeira temporada que serviu para colocar as aventuras de Yato no mapa, Aragoto melhora todos os aspectos possíveis, demonstrando que é possível reinventar e atribuir mais valor a uma série que à primeira vista possa ser simples.
Contudo, faço o apelo, por favor vejam a primeira adaptação de Noragami, antes de saltarem para Aragoto. Ao contrário de JoJos Bizarre Adventure, a qual podemos ver qualquer parte sem grandes entraves no enredo, em Noragami Aragoto certamente muito cedo perderão o fio à meada.
Espero que este não seja o final do Deus mais cool do universo anime, já o que seu final teve um ligeiro sabor a uma muito provável terceira temporada.
Preferiram o humor da primeira temporada ou a história mais séria em Aragoto?
Desconstrução de valores mitológicos e religiosos
Personagens não estereotipadas
Ambientes imersivos
Banda sonora variada e envolvente
Animação de boa qualidade
Perda de comédia
Enredo demasiado sério para alguns