Os 33
Catarina Gil
The 33
Biografia, Drama, História
M/12
28 de Janeiro de 2016
USA | 2015
127 min
Baseado na história real de 33 mineiros chilenos que, em 2010, ficaram subterrados numa mina, durante 69 dias.
Patricia Riggen
Mikko Alanne, Craig Borten, Michael Thomas
Antonio Banderas, Rodrigo Santoro, Juliette Binoche, James Brolin, Lou Diamond Phillips, Mario Casas, Adriana Barraza, Kate del Castillo, Cote de Pablo, Bob Gunton, Gabriel Byrne
Após 6 anos desde o desastre ocorrido no Chile, quando uma derrocada numa mina do deserto de Atacam soterrou 33 mineiros, chega ao cinema uma versão em filme do drama vivido pelos trabalhadores chilenos, dirigido pela realizadora mexicana Patricia Riggen.
Um dos maiores desafios ao adaptar uma história real para cinema é o facto do final já ser conhecido do público. Assim, é necessário conseguir oferecer ao espectador um drama cativante, o qual não se apoie tanto no desfecho, mas na composição dos episódios que estruturam a trama. Em Os 33, Riggen teve de jogar com estes factores. A fim de conseguir comover, inquietar e desassossegar o espectador, houve um certo jogo de emoções, distribuídas entre a tensão vivenciada dentro da mina, com os 33 mineiros, e a tensão generalizada acima do solo, com as famílias e amigos a exigir medidas imediatas e o governo a desdobrar-se na procura incessante por soluções que dessem resposta à tragédia inesperada.
A história que emocionou o Chile e, talvez, todo o mundo, começou com a derrocada de uma mina que isolou 33 homens numa galeria, durante 69 dias e a mais de 600 metros de profundidade. Embora fosse óbvia o cepticismo relativamente à sobrevivência dos mineiros, conseguiu-se, devido aos esforços nas buscas por parte do governo, perfurar uma zona da galeria com uma broca. Impossibilitados de comunicar com o exterior até então, os mineiros viram nesse acontecimento a oportunidade de pedir auxílio. Desse modo, prenderam na broca um bilhete que alegava a sobrevivência de 33 homens. A partir dessa confirmação, foram estudados vários planos para os resgatar, sustentando as suas vidas através do envio de comida por pequenos túneis até ser encontrada uma forma de os libertar.
Dificilmente se conseguiria condensar uma história desta amplitude em 2 horas. Assim, foram elegidas como protagonistas apenas algumas personagens, das quais se destaca Mario Sepúlveda, interpretado por Antonio Banderas, o líder dos restantes mineiros durante a imensidão de dias em que tiveram de lutar pela vida, num confronto entre fé e desespero, acometidos por depressão, impaciência e indignação. Sente-se, contudo, uma necessidade apressada e dispensável de criar agitação entre os mineiros a determinada altura, quando a chefia de Mario despoleta inveja alheia e dá inicio a um conflito precipitado e mal resolvido no argumento.
Surge igualmente com destaque Rodrigo Santoro, no papel de Laurence Golborne, um ministro com jeito de galã, fazendo parceria com Gabriel Byrne, como Andre, chefe das operações de busca e resgate. Em conclusão, é salientada a relação entre um mineiro alcoólico e a sua irmã Maria, interpretada por Juliette Binoche, que parece desenvolver um interesse romance por Laurence, o qual, uma vez mais, é mal desenvolvido no argumento.
A maneira como se jogou com alguns momentos cómicos, nomeadamente o conflito entre a esposa e a amante de um dos mineiros, precipitando-se em discussões e duelos para justificar quem era realmente a sua amada, ou o jantar fantasiado dos 33 homens, presos há semanas na mina, imaginando uma mesa repleta de iguarias e as suas mulheres a servi-los, foram pequenos detalhes que enriqueceram uma história já conhecida do público. Para além disso, o jogo de cores do qual o departamento de fotografia esteve encarregue foi muitíssimo bem conseguido, variando conforme o ambiente: fora da mina encontrávamos tons quentes e cores saturadas, uma boa escolha para representar o calor do deserto; dentro da mina os tons eram mais frios e a iluminação fraca, apoiando-se nas luzes instaladas dos capacetes dos mineiros.
Infelizmente, como acontece numa panóplia de filmes, verifica-se uma perda de veracidade nos factos por não se ser fiel à língua do país em questão. Uma vez ocorrido no Chile, faria sentido ter-se optado pelo castelhano e não pelo inglês. Compreende-se o intuito comercial, mas perde-se a essência. Não obstante, Os 33, de Patricia Riggen, conta de forma adequada o episódio ocorrido a 5 de Agosto de 2010, ganhando pontos ao reservar parte dos créditos finais para homenagear os sobreviventes.
Ainda te lembravas deste acontecimento trágico?
Direcção de fotografia
Pequenas histórias/momentos que conferem dinamismo ao filme
Perda de veracidade ao ter-se optado pelo inglês como língua principal
Bom filme, embora pudesse ter-se apoiado ainda mais no drama característico do episódio retratado, perdendo a hipótese de triunfar tanto quanto o dia em que os 33 mineiros chilenos voltaram a ver a luz do sol.