Trumbo
Trumbo
Biografia, Drama
M/12
18 de Fevereiro de 2016
EUA | 2015
124 min
Nos anos 40, a carreira de sucesso do argumentista Dalton Trumbo (Bryan Cranston) chega a um fim quando ele e outras figuras de Hollywood entram na lista negra pelas suas convicções políticas. TRUMBO (realizado por Jay Roach) conta a história da sua luta contra o governo norte-americano e os patrões dos Estúdios, numa guerra pelas palavras e a liberdade, que envolveu todos em Hollywood, desde Hedda Hopper (Helen Mirren) e John Wayne, até Kirk Douglas e Otto Preminger. Um filme com um fantástico elenco onde, para além de Bryan Cranston e Helen Mirren, encontramos Diane Lane e John Goodman.
Jay Roach
John McNamara, Bruce Cook
Bryan Cranston, Elle Fanning, Diane Lane, Helen Mirren, John Goodman, Louis C.K.
Eu não gosto de biografias. Sei que já disse isto várias vezes, e hei-de voltar a dizê-lo muitas mais. As biografias raramente funcionam bem porque a realidade está só mal escrita, e a vida raramente nos dá narrativas com um princípio meio e fim bem construídos, com crescendos de tensão, clímaxes de acção, e resoluções satisfatórias. De igual forma embirro com filmes “baseados em factos verídicos”, porque na maior parte das vezes os escritores assumem que isso é justificação para escrever uma má história (porque a realidade está mal escrita), e por algum motivo que nunca compreenderei o público aparentemente leva mais a sério e sente-se mais impressionado com esses filmes porque… não sei, não faz nenhum sentido. Se querem factos verídicos vão ler um livro de história.
Trumbo é uma biografia de Dalton Trumbo, e é baseado na crise da caça às bruxas do McCarthyismo que ocorreu nos anos ’50 na América do pós-guerra quando o medo dos comunistas estava no seu auge (antes de voltar a estar no seu auge outra vez nos anos ’80). Fui ver o filme à espera de uma biografia medíocre com uma excelente interpretação do Bryan Cranston. Enganei-me numa destas coisas.
O filme tem uma excelente história. Não fosse pelo facto de eu saber que Dalton Trumbo foi uma pessoa verdadeira e de os eventos do filme terem mesmo acontecido, nunca diria que esta era uma biografia. A história tem um excelente ritmo, desenvolve-se muito rapidamente e avança imenso, há vários momentos durante o filme em que é difícil de prever o que vem a seguir, há várias reviravoltas interessantes na história que a mantém interessante, a conclusão é muito satisfatória.
Eu posso ser um pouco enviesado porque os eventos da segunda Ameaça Vermelha e do McCarthyismo são-me particularmente fascinantes, mas contrariamente à maioria dos filmes baseados em eventos verdadeiros, este tem um tema que é verdadeiramente interessante. Todo o conflito entre a liberdade de expressão, os direitos civis contra as forças políticas opressoras e da censura é sempre entusiasmante, mas admito que este tipo de narrativa de conflito político/social possa não ser para toda a gente.
Vou agora refrear-me de explicar pormenorizadamente a história e os motivos por detrás destes eventos, porque isso seria aborrecido para a maior parte de vocês e porque, inteligentemente, o filme também não mergulha a fundo nisso. Na realidade a abordagem histórica e política do problema está extremamente bem equilibrada no filme. A gravidade e importância do problema são muito bem transmitidos pela história, sem que nunca se passe demasiado tempo em detalhes políticos que poderiam ser desinteressantes. Em vez disso a história foca-se mais no impacto que toda a crise teve na vida pessoal de Dalton Trumbo, e nas suas relações com a sua família e com os seus amigos. A maior parte do drama da narrativa vem exactamente destas interacções e da maneira como vão ficando progressivamente sob mais tensão à medida que as complicações se vão desenvolvendo. Estes problemas relacionais surgem sempre de maneira orgânica a partir das complicações, nunca parecem forçados, e têm sempre consequências para as decisões das personagens.
Em suma, a história está muito bem escrita.
Bryan Cranston está fantástico no seu papel. Não que tivéssemos alguma dúvida disso, mas ele encarna a personagem de Dalton Trumbo na perfeição. Muitas vezes o que acontece nestas biografias é que os actores estão tão preocupados em captar as particularidades da pessoa que estão a representar que se esquecem da interpretação propriamente dita. Bryan Cranston capta Dalton Trumbo ao milímetro (no fim do filme é possível ver entrevistas de época ao Dalton Trumbo, e notamos que Cranston lhe apanhou todas as pequenas inflexões de voz e maneirismos) e no entanto é capaz de dar uma amplitude emocional enorme e subtil ao mesmo tempo. Cranston mais do que merece a nomeação ao Óscar (mas como não foi comido por um urso não o vai ganhar).
O resto do filme, infelizmente, não consegue ser assim tão bom, caindo confortavelmente na categoria de competente. O elenco de secundários é composto por uma quantidade de ilustres, entre eles Diane Lane, Elle Fanning, Helen Mirren, John Goodman e Louis C.K., nenhum dos quais, apesar de terem boas interpretações, consegue sequer começar a roubar a cena a Cranston.
A realização e a fotografia fazem o seu papel bem, mas não se destacam de nenhuma maneira. A direcção de arte está muito bem feita, recreando de forma realista a América dos anos ’50, mas também não chama assim muito à atenção.
Uma nota final à música que, num misto de jazz e goldien-oldies, consegue contribuir muito bem para o ritmo do filme.
Gostas de biografias? Porquê?
A história,
A interpretação de Bryan Cranston
O conteúdo político/social do filme pode não ser para todos