Cavaleiro de Copas
Knight of Cups
Drama, Romance
M/14
3 de Março de 2016
USA | 2015
118 min
Um homem perdido nas tentações e excessos de Hollywood inicia uma demanda interior/espiritual para se reencontrar, analisando a vida e relações que o trouxeram até ali.
Terrence Malick
Terrence Malick
Christian Bale, Cate Blanchett, Natalie Portman, Brian Dennehy, Freida Pinto, Wes Bentley, Isabel Lucas, Teresa Palmer, Imogen Poots
Terrence Malick, o realizador de Terra de Ninguém (1973), Cinzas no Paraíso (1978) e, mais recentemente, A Árvore da Vida (2011), presenteia-nos com o seu novo título, Cavaleiro de Copas.
Pelo legado de beleza visual, lirismo trágico e atmosfera melódica impressos em cada minuto dos filmes de Malick, uma nova obra sua carrega a inevitabilidade da expectativa. É inegável como a delicadeza e o olho perfeccionista de Malick já nos deleitaram com um vasto leque de sequências brilhantes, fulgurosas na sua composição fotográfica e inebriantes pela sua vívida personalidade. No livro Les Grands Réalisateurs (2006), escrito por Jean Antoine Gili, Charles Tesson, Daniel Sauvaget e Christian Viviani, lê-se a seguinte passagem: «Em 31 anos, Terrence Malick realizou 4 filmes, os quais lhe bastaram para conquistar um público incondicional e estabelecer um universo cinematográfico de beleza singular.» (tradução própria)
Não é qualquer um que pode ser Malick, mas conseguirá o próprio realizador manter a vitalidade característica do espólio das suas criações? Cavaleiro de Copas talvez nos dê a resposta.
Embora dividido em capítulos, cada um alusivo a determinada carta de tarô, o filme nem sempre é facilmente descodificável. Depreende-se que o cavaleiro do título se refere ao papel interpretado por Christian Bale: Rick, uma celebridade perdida em memórias e reflexões quase tão transcendentes como a sucessão de episódios em que são apresentadas. A narrativa é construída num fluxo de imagens inconstantes, quase espirituais, a quem se deve a preciosa visão de Emmanuel Lubezki; diálogos maioritariamente em off e uma sensação perturbante de que caminhamos no limbo, a mesma em que Rick vagueia durante todo o filme, numa sequência de imagens oscilantes entre o halo poético e um frenesim incongruente.
Neste desfile em que Rick deambula, absorvido pela ostentação de Hollywood, inebriado pelo prazer da luxúria e afundado em problemas familiares, descobrimo-nos na dúvida: onde começa, onde acaba e onde quer chegar Malick com o argumento?
Somos escoltados pela vida de Rick ao longo do filme, descobrindo-lhe intenções, desejos e medos. Contudo, a sua personalidade é desmistificada somente pelas relações que mantém, sejam estas familiares ou amorosas. A personagem em si parece um mero espectador, tal como nós, submergido na complexidade da sua própria consciência. Através das diferentes mulheres com quem se envolve, interpretadas por 6 belas actrizes: Cate Blanchett, Natalie Portman, Freida Pinto, Imogen Poots, Isabel Lucas e Teresa Palmer, são-nos desvendadas as diferentes facetas do protagonista. Mas a forma como o filme se desenrola não nos permite criar empatia com essa ou qualquer outra personagem. Em determinadas ocasiões, as cenas parecem desligadas entre si, não encaixando nas anteriores nem nas seguintes. Talvez a beleza visual do filme seja a sua verdadeira essência, desligada de qualquer objectividade. Talvez Malick queira encontrar-se com os pressupostos da contemplatividade, confrontando o abismo entre os sonhos e a paixão com a devassidão da fama e a constante insatisfação humana.
O modo como todos os planos de Cavaleiro de Copas parecem meticulosamente estudados e acompanham a volatilidade da vida de Rick, apanhando-nos a nós, espectadores, nessa teia de imagens caprichosas, torna automaticamente perceptível ser um filme realizado por Terrence Malick. Com esse «estudo de planos», porém, não me refiro a uma lógica narrativa, mas, por outro lado, a uma análise da consciência humana e a procura da sua reconciliação ou comunhão com o mundo, como já é habitual nos filmes do realizador. É este traço peculiar que faz de Malick o realizador que é. E faz dos seus filmes indubitavelmente seus.
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Direção de fotografia
Banda sonora
Argumento vago, deixando-nos na dúvida se essa era a real intenção do realizador ou se se terá perdido na busca de elevação do seu filme a um nível metafísico