Crítica | Como Ser Solteira

Como Ser Solteira é um filme de comédia pura, realizada por Christian Ditter (Deixa o Amor Entrar), que se inspira no romance com o mesmo nome, escrito em 2008, por Liz Tuccillo. A temática da história não podia ser mais actual.

Estamos numa época em que as tipologias de relações humanas estão a mudar, nomeadamente as relações amorosas. Já pouca gente acredita em “juntos para sempre”, e cada vez menos o sequer procuram. Faz-se sexo com o mesmo sentimento de quem toma um café ou bebe uma cerveja. As relações começam em dispositivos móveis, por aplicações ou sites, em que as pessoas se escolhem umas às outras com a mesma leviandade de quem decide entre uma camisola de decote redondo ou em bico. As relações vivem-se muito à distância, física e/ou psicológica, muitas vezes preferencialmente pelo meio digital, em vez de olhos nos olhos e com interacção e contacto real com sentimentos e emoções. Tudo o que as relações humanas implicam torna-se, tendencialmente, descartável, a solidão impera – porque abdicar de algo que seja é não ter personalidade ou amor próprio -, e quem não acompanha estas tendências, obviamente se sente completamente perdido e como peixe fora de água aos saltos num chão muito desconfortável.

Apesar do filme começar com a narração a dizer “This story isn’t about relationships“, é completamente mentira. É disto tudo que fala um filme que trata estes temas sensíveis – e, a meu ver, a começarem a tornar-se preocupantes – com personagens e estilo de humor capaz de gerar grande empatia com o público. E o público do filme, ao contrário do que eu pensava, não é a geração dos 25 aos 45 que está solteira – inclui de tudo, incluindo casais de todas as idades que até o vão ver com os filhos. Na sessão a que fui, que acredito não ser a excepção, diria que 80% ou mais da sala (quase cheia) era de gente não-solteira.

O elenco inclui a actriz principal de As Cinquenta Sombras de Grey, Dakota Johnson, que mantém aquele ar de virgem sem sal – e de quem só invejo a silhueta de bailarina -, no papel principal de Alice, e umas caras mais conhecidas que outras. A sua melhor amiga Robin, interpretada pela australiana Rebel Wilson, é realmente rebelde e hilariante, ou seja, o seu oposto. As duas, juntamente com Leslie Mann (como Meg) e Alison Brie (como Michelle), ilustram quatro “tipos” de raparigas solteiras com visões diferentes sobre o seu “estatuto”, que objectivos têm, e o que fazem para os alcançar.

Há quem diga que o filme não é mais do que uma imitação do estilo de O Sexo e a Cidade, mas discordo. Nunca acompanhei muito a série, mas na minha opinião caricaturizava e futilizava muito mais as personagens, o que não acontece em Como Ser Solteira – uma história de um grupo de mulheres – e homens – com os quais se vão identificar mais ou menos consoante a vossa história e/ou situação actual, que poderão interpretar com mais ou menos profundidade consoante vos apetecer, mas com a qual se vão divertir, garantidamente, muito.

Identificam a vossa situação actual com alguma das personagens?