Alice do Outro Lado do Espelho
André Morgado
Alice Through the Looking Glass
Fantasia, Ficção, Aventura, Infantil, Familiar
M/12
26 de Maio de 2016
EUA | 2016
01h48m
Walt Disney Pictures
James Bobin
Linda Woolverton
Mia Wasikowska, Johnny Depp, Anne Hathaway, Helena Bonham Carter, Sacha Baron Cohen
Alice do Outro Lado do Espelho trazia atrás de si alguma desconfiança geral, motivada pelo seu antecessor Alice no País das Maravilhas que, apesar de resultados satisfatórios a nível financeiro, manteve-se relativamente distante da satisfação do público e da crítica.
No novo filme de Alice, já sem Tim Burton no papel de realizador (que se manteve apenas como produtor), a realização de James Bobin seguiu, novamente, a narrativa escrita pela californiana Linda Woolverton, que procurou evitar repetir algumas das pontas que ficaram descobertas no filme antecessor.
De forma geral, essa tarefa foi cumprida, apesar de não estarmos na presença de um argumento perfeito. Aliás, a este capítulo, talvez se note um certo desequilíbrio entre a ambição do tema (e da noção de abstracção que lhe está associada) e a linha leve (talvez até infantil) que se procura explorar, sabendo que, à priori, não é fácil de potenciar a sua consonância. O próprio trabalho de Woolverton não deixa de estar associado a universos infantis: O Rei Leão e A Bela e o Monstro são algumas das suas histórias.
Certos momentos são confusos, e algumas viagens pelo tempo não parecem ser as ferramentas mais lógicas para nos contar certos acontecimentos do passado, mas aceitam-se num universo de fantasia, onde a própria ingenuidade deve ser tomada como critério.
Alice do Outro Lado do Espelho, infelizmente para muitos, continua bastante distante dos principais predicados da obra de Lewis Carroll, assumindo, uma vez mais, que não estamos, de facto, perante uma adaptação pura – ainda que o filme não se perca, na totalidade, dos seus objectivos.
A este nível destaca-se, de caras, a necessidade de fazer de Alice uma bandeira feminina contra os preconceitos machistas que fazem crer que uma mulher não consegue alcançar certos objectivos historicamente associados aos homens. E fá-lo com sucesso, dado o cariz da história.
A própria mensagem de valorização do nosso presente e dos que a ele pertencem é, com a devida compreensão dos objectivos do filme, conseguida.
As representações são sólidas e, uma vez mais, a condução da história leva a uma exploração muito intensiva da figura do Chapeleiro Maluco, não fosse Johnny Depp (apesar de vários pontos baixos nos últimos anos) uma garantia de, pelo menos, curiosidade de muitos dos seus fãs. Não obstante, Depp eleva a personagem louca do Chapeleiro e é impossível ficar indiferente às explorações faciais que faz na personagem (algo que pode ser entendido, por alguns, como vícios mecânicos e cansativos do actor).
Mia Wasikowska emana um ar simbiótico de fragilidade e força que assenta bem em Alice – parece ter mais sal do que em Alice no País das Maravilhas -, e Helena Bonham Carter, ao seu estilo, encarna muito bem o lado austero e malévolo da personagem Rainha Vermelha.
Do principal lote de representações, talvez o ar meio ébrio da Rainha Branca (Anne Hathaway) e o Tempo, representado por Sacha Baron Cohen, sejam aqueles que menos consenso levantem, mas nada que incomode verdadeiramente.
A nível visual, o filme leva uma nota positiva, apesar de se admitir que, para algumas pessoas, algumas cenas tenham algum exagero de efeitos. A tentativa de afastamento das texturas típicas de Tim Burton seria natural, e Bobin consegue-o sem que isso signifique perda de qualidade.
Na análise a qualquer filme devemos ter em consideração o que temos à nossa frente, quais os seus objectivos e qual o seu público-alvo. Em Alice do Outro Lado do Espelho não estamos perante um filme perfeito, longe disso. Mas não deixa de surpreender quem leva as expectativas baixas para a sala de cinema. A aposta no público juvenil foi evidente, piscando o olho aos mais velhos que gostam de se absorver por aventuras pitorescas e coloridas, e não assume nunca ter estofo de obra épica de vislumbre epopeico. Podemos criticar o facto da indústria parecer andar estéril criativamente e insistir na recriação de histórias já contadas e recontadas de formas várias, mas não devemos carregar essa crítica para o filme em si.
Por isso, e apesar dos defeitos que tem, Alice do Outro Lado do Espelho é mais uma surpresa do que uma nefasta continuação do seu antecessor.
Vais entrar na magia do espelho da Alice?
A valorização do papel da mulher
A melhoria global em relação ao seu antecessor
Pouca inovação narrativa a contrastar com a vasta riqueza gráfica
Fase descendente do filme com maior tendência infantil
Alice do Outro Lado do Espelho é um filme que, apesar de alguma incapacidade para se estruturar de forma sólida em torno da abstração do tema "tempo", consegue ser melhor do que o seu antecessor e, sendo feito para agradar a um público juvenil, consegue envolver os adultos que aceitarem perdoar algumas das suas falhas.