Crítica | Perdido em Marte

Entre a vastidão do planeta vermelho e a sua terra árida faltou um pouco de sal. Perdido em Marte é insonso.

O filme tem tudo para chamar a atenção. Ridley Scott realiza, Matt Damon protagoniza e à sua volta tem um elenco de luxo com nomes como Jessica Chastain, Jeff Daniels, Sean Bean, Kate Mara e muitos mais. Tinha tudo para dar certo mas a verdade é que Perdido em Marte está em piloto automático. Nada sobressai, nada emociona, nada excita. É uma continuidade de bons planos, boas cenas, boas interpretações, mas sem qualquer tipo de profundidade emocional e dramática.

Durante uma missão tripulada a Marte, o Astronauta Mark Watney é dado como morto após uma tempestade e deixado para trás pela sua tripulação. Mas Watney sobreviveu e encontra-se preso e só num planeta hostil. Com escassos mantimentos, ele terá que contar com a sua criatividade, inteligência e espírito de sobrevivência para encontrar uma maneira de enviar para a Terra um sinal de que está vivo. A milhões de quilómetros de distância, a NASA e uma equipa de cientistas internacionais trabalham incansavelmente para trazer Watney de volta, enquanto, simultaneamente os seus colegas de tripulação planeam uma ousada – se não impossível – missão de resgate. Com a revelação destas histórias de incrível coragem, o mundo une-se por uma causa – o seguro regresso de Watney.

A história é apelativa. O filme balanceia muito bem a Terra e Marte. Por um lado temos uma pessoa sozinha em Marte que tenta sobreviver até que a ajude chegue, e por outro lado temos a NASA na Terra que tenta salvar o seu astronauta. O filme flui bem e em nenhum momento a história estagna ou torna-se aborrecida. O problema é que não há um perigo eminente ou uma sensação de urgência em nenhum momento do filme. Não sentimos a angustia de Mark Watney por ficar sozinho em Marte porque na realidade ele parece não se importar muito com isso. A sua reação é de total otimismo e “boa onda”. Claro que é uma caraterística da personagem e dá um tom próprio ao filme, que não é o mais adequado tendo em conta a situação e a sensação de realismo que o filme tenta transmitir. 

Toda essa “boa onda” e positivismo anulam completamente a gravidade e urgência que a história pedia e a meio do filme, o seu final torna-se evidente. Tão evidente que o destino das personagens deixa de ser dúbio e deixamos de temer que algo de mal aconteça. Ponto positivo para as inevitáveis explicações cientificas. As mesmas são transmitidas de uma forma muito leve e muito didática.

Os atores não sobressaem. Nenhum deles. Todos estão bem mas não convencem. Matt Damon, que tinha tudo para dar uma das melhores interpretações da sua carreira liga o piloto automático durante todo o filme. É o Matt Damon a fazer de Matt Damon, e nem uma transformação física foi capaz de fazer, ficando demasiado evidente que o corpo magro e esquelético não pertencia à cara viva e rechonchuda do ator. A sério.. Lembram-se do bebé em Sniper Americano? É quase igual.

Ridley Scott sai da sua zona sisuda e melancólica e entra numa zona mais divertida e leve. Foi bom ver o realizador a mudar de ares mas escolheu mal o filme para essa mudança. A sua realização é impecável, como é normal, mas o filme pedia um Ridley Scott das antigas. O realizador ainda tenta levar o filme para lugares mais dramáticos mas parece que não tem coragem de ir mais longe. O que é uma pena.  

Perdido em Marte é bom. Não se pode dizer o contrário. Mas podia ser muito mais do que é. Faltou ambição e faltou carga dramática. O filme é leve, o que não se adequa com a história que quer contar, no entanto vê-se muito bem e se estão à procura de um bom filme de ficção científica só tenho é que o aconselhar. 

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