Batman #51
Batman #51
27 de Abril de 2016
EUA | 2016
DC Comics
Batman já enfrentou tudo desde a Corte das Corujas ao misterioso Mr. Bloom, passando pelo Joker, mas conseguirá enfrentar uma noite calma em Gotham?
Scott Snyder
Greg Capullo
Danny Miki, Greg Capullo
Este mês termina a saga, iniciada em 2011, da dupla Scott Snyder e Greg Capullo com Batman #51, com o título “Gotham is…“. A genialidade da escrita de Snyder na escolha do título elucida à primeira frase que escreveu no início, em 2011, onde fala num jornalista do Gotham Gazette que escreve a coluna ‘Gotham é…’ (Gotham is…).
A BD começa com o – já usual – briefing entre Alfred e Bruce, numa Batcave completamente recuperada, e Alfred tem de novo a sua mão (lembramos que antes de SuperHeavy, o confronto com Joker tinha culminado na destruição da Batcave e em Morte da Família, o Príncipe do Crime cortou a mão do mordomo do Batman). Este tipo de mensagem mostra o reestruturar do pathos; Snyder destruiu a psique e arquitectura de tudo o que sustenta o Morcego de Gotham em 51 títulos mas, no fim, serve ao próximo artista uma folha em branco. O escritor faz, inclusive, alusão ao misterioso desaparecimento das cicatrizes que brandiam o corpo do herói. Bruce está, como novo, de volta à capa de Batman, Alfred está rejuvenescido e a Batcave, o ex-libris da sala de controlo do crime de Gotham City está, enfim, preparada.
Em Batman #1, Gotham era crude, Gotham era amaldiçoada e Gotham era vil. Assim escrevia o colunista do Gotham Gazzete, ao descrever o início do fim de uma cidade negra de crime pestilento. Gotham era, no fundo, os criminosos que respiravam o ar da cidade.
Batman encontra o Comissário Gordon
As luzes de Gotham apagam-se no momento em que Batman decide iniciar a vigia da cidade. A análise inicial de Alfred mostra-se inconclusiva e Bruce decide seguir a luz do Bat-sinal e encontrar Gordon, que se encontra no sítio onde as conversas entre os dois, sob a escuridão da noite da cidade, costumam ter lugar.
A dualidade entre o rigor e a dureza de Batman, e o lado mais leve de Gordon são o traço mais perspicaz desta conversa. A relação, que já foi abrupta ao longo de 51 títulos e levou o comissário a usar a capa do Morcego, é agora impreterivelmente mais leve e, acima de tudo, mais fiel. No entanto, o novo respeito que Gordon impôs a Bruce não o impede de, quando é informado que Arkham está em problemas, deixar o Comissário de novo a falar sozinho, em mais um momento leve, que é comum a ambos.
Dualidades do passado
O resto do título é um revisitar dos artistas ao que criaram ao longo de 5 anos. Quando Bruce chega a Arkham depara-se com a mesma equipa de vilões que se depara no primeiro título. Há 5 anos atrás, o encontro com estes vilões levou a uma batalha notável, de um Batman não tão experiente; no presente, a preparação tornou-se o cartão de entrada e a batalha é substituída por um simples barreira laser que impede a passagem dos criminosos de Arkham sem Batman ter que suar.
Próximo passo: descobrir a falha de electricidade em Gotham, Bruce segue agora para o submundo da cidade da Corte das Corujas, mais uma marca artística de Snyder, onde se depara com mais uma entrave à investigação, a Corte parece mostrar que prepara algo no futuro próximo para assolar a cidade, mas ‘not tonight‘. O rastro no submundo acaba ali.
Incessantemente, Bruce procura qualquer pista em todos os anti-heróis da cidade desde Pinguim a Black Skull e até ao personagem misterioso que Bruce encontrou num banco de jardim antes de recuperar a memória de alguma vez ter sido o Morcego de Gotham.
A vigia leva Bruce a encontrar o narrador de Gotham, o próprio colunista de ‘Gotham is...’ que tem sido a voz da noite negra da cidade. Num ato de medo, o rapaz admite que o faz pois, nos tempos da Corte das Corujas e num momento de fraqueza foi empurrado para o crime, e Batman, num momento de tolerância, dotou o escritor de uma oportunidade de se redimir. ‘Gotham is…‘ nunca deixou de ser publicado durante anos, graças aquele gesto e com o apagão total, na cidade, o escritor aproveitou um ‘mini gerador’ para fazer o upload da coluna.
Gotham is… You. Always.
A investigação de Bruce continua. A cidade crude, amaldiçoada e vil de Gotham City não se pode manter no escuro durante muito mais tempo. No entanto, enquanto oscila de prédio em prédio, a única coisa que observa é a rotina normal dos cidadãos de Gotham. Uns aproveitam a escuridão para um jantar romântico à luz das velas, outros para observar a noite estrelada que espelha Gotham.
Finalmente, a resposta vem do intercomunicador, de Alfred, ‘Mestre Bruce, parece que o apagão se tratou de um fenómeno eléctrico de ocorrência natural, a luz deve voltar dentro de momentos.’
E volta, no horizonte, o Sol reluz mostrando o início de um novo dia e o fim de mais uma noite.
E assim termina a saga de Greg Capullo e Scott Snyder.
O que achaste do último tributo de Gotham ao Vigilante da Noite?
O aliar da arte de Capullo e a escrita de Snyder tem um ex libris no destaque deste mês. A arte é impecável e mostra o verdadeiro Batman de silhuetas negras e posições corporais que ilucidam a animação de Bruce Timm.
A transcrição constante de doenças torna, no entanto, Snyder numa espécie de claustrofóbico da BD e, embora corrobore a história, gostava de ter visto uma derradeira luta entre o Morcego de Gotham e os prisioneiros de Arkham.