“Have You Brought Me Little Cakes?”
Este foi o último episódio da temporada, e depois de o ver, a sensação com que fico é que os escritores se esforçaram tanto, mas tanto, para compensar os espectadores com um episódio brutal, que se esforçaram demais, tornado o episódio no culminar de confusão mais épico de sempre. Sinto que a temporada se poderia ter concentrado muito mais, com mais detalhe, em tudo o que rodeia este episódio, ao longo dos outros 12 (!!), e eliminávamos a tralha toda com que fomos sendo presenteados durante a grande parte dos episódios passados.
Sendo assim, e porque mais uma vez foi uma tarefa difícil descomplicar a interligação entre os vários acontecimentos do episódio, vamos por partes:
Quentin escreve 7º livro da colecção Fillory – “Fillory and Further”
No primeiro episódio da série, a Jane Chatwin/Eliza deu ao Quentin um manuscrito inédito do 6º livro da colecção – Fillory and Further (escrito por ela em 1952) -, depois de a conhecer como paramédica. Ele e Julia tinham encontrado o cadáver de um homem que era suposto entrevistá-los para a escola de pós-graduação (mas que era, na realidade, um professor de Brakebills). O final da temporada abre com Quentin a escrever “Fillory and Further”, continuando depois do 6º livro e registando os eventos loucos que lhes aconteceram depois e chegarem a este reino de fantasia.
Julia e Quentin são personagens dos livro Fillory
Depois de terem seguido a Jane Chatwin através do portal, já em Fillory vêem-na ficar com a perna presa numa armadilha, e apercebem-se que eles são, afinal, a feiticeira e o tolo (da história), que ajudam a protagonista Jane a escapar. O Quentin fica completamente totó com a descoberta. Imaginem não só conhecerem o vosso cantor favorito, mas também cantar com ele num concerto.
Martin Chatwin Segue Quentin e Julia através do portal
Depois de Quentin e Julia viajarem no tempo pelo portal da Jane, o seu irmão Martin, a quem o acesso a Fillory estava vedado há muito tempo (pelo menos através de portais dele próprio), segue-os, e volta a Fillory. Os dois amigos vêem-no e voluntariam-se para o ajudar contra Christopher Plover, mas dizem que antes disso precisam de ter uma “Leo Blade”, um punhal forte o suficiente para parar a Fera. O Martin leva-os para um ferreiro que os pode ajudar. Será que isto significa que eles são os responsáveis pelo destino trágico de Fillory já que foram quem deixou o Martin lá entrar outra vez?
Jane Chatwin é a Watcherwoman
De repente, Martin sente uma presença misteriosa e foge, deixando o Quentin e a Julia sozinhos. No momento seguinte, eles são confrontados com a Watcherwoman, a principal vilã dos livros de Fillory, mas que afinal é a Jane Chatwin adulta. O Quentin tinha percebido que alguma versão de Jane ainda existiria, já que o Ember (falamos dele à frente) lhe tinha dado a capacidade de utilizar magia do tempo, na esperança de acabar com a Fera de vez. No entanto, Quentin revela-lhe que este é o loop final, porque no tempo presente ela já morreu. A Jane/Watcherwoman fica chocada e com lágrimas nos olhos, mas pede-lhes para garantirem que ela ganhe uma estátua ou memorial para que possa ser lembrada, e depois envia-os para Fillory de 2016 para se juntarem aos amigos.
Eliot é o Grande Rei de Fillory
Depois Quentin e Julia encontrarem Penny, Alice, Eliot, Margo, e Josh num género de pub, vão todos de volta ao ferreiro a quem Quentin tinha pedido para fazer o punhal, e encontram o filho, adulto, no seu lugar (o ferreiro já morreu). Ele conta que levou ao pai muitos anos para fazer crescer as pedras semipreciosas que eram necessárias para fazer a arma, que está feita e a aguardar pagamento. Adivinhem qual? Casar a filha com um descendente de realeza. O sangue azul foi determinado por uma faca – que só conseguia cortar e derramar sangue da mão de quem fosse da família real -, e apesar de Quentin ter pensado secretamente que seria ele “de certeza”, acabaram por descobrir que o próximo Grande Rei de Fillory seria o Eliot. Eliot rapidamente casa com a filha do ferreiro para ela se tornar rainha, justificando a sua coragem por na Terra lhe ter sempre faltado “qualquer coisa”, que o álcool, drogas, sexo e comida nunca poderiam preencher. Após a casar, ele nunca mais poderá sair de Fillory, mas aceita-o. Foi engraçado ver o Eliot a portar-se como o adulto que é, finalmente, e pronto, eu sempre gostei dele na realidade.
Penny e Alice regatam a prisioneira da Fera
O grupo descobre que a “casa” da Fera é um castelo invisível, que pertencia aos membros da realeza de Fillory. O Josh e a Margo ficam a distrair os guardas, enquanto a Alice e o Penny conseguem entrar e resgatar a Victoria, a rapariga que estava aprisionada e que pedia ajuda ao Penny. Eles acabam por salvar um outro prisioneiro, que afinal é um assustador Christopher Plover.
Martin Chatwin é a Fera
O que nos leva a descobrir que Martin Chatwin é a Fera. Para se proteger do seu abusador, o Martin descobre a fonte de toda magia em Fillory, uma fonte encantada, e começa a beber água de lá para se tornar mais poderoso. Só que ficar cada vez mais forte tem um custo, e o Martin perde a sua humanidade, porque a água da fonte não pode ser bebida por meros mortais.
Penny aprende com Victoria a teleportar-se com acompanhantes
Após resgatar a aluno de Brakebills que estava aprisionada, o Penny descobre que a capacidade de levar outras pessoas consigo “em viagem” é um feitiço, e copia as tatuagens nos dedos de Victoria, que são a solução.
Quentin e Julia encontram-se com deus Ember
Apesar do grupo já ter a “Leo Blade”, nenhum deles pode tocar nela porque não têm poder mágico o suficiente, e queimam-se ao tentar. O Quentin tem a ideia de procurar o Ember, que é um deus – uma criatura com cornos que é quem diz a frase título do episódio “have you brought me little cakes?” quando lá chegam – que concorda em ajudá-los. A ajuda consiste num frasco do seu esperma (sim, mesmo sem cenas de sexo arranjam maneira de enfiar estas pérolas) para Quentin (ou quem quiser ganhar o poder) beber. O Ember também acaba por apagar a memória alterada da Julia, sobre o que realmente aconteceu quando o grupo Free Trader Beowulf invocou a deusa.
O que realmente aconteceu com o Free Trader Beowulf
Não foi bonito. Esta cena e a cena final do episódio, foram horríveis e de uma brutalidade que não penso que se justificava neste tipo de série. Pelo menos quando, ainda por cima, imagino muitas crianças fãs de Harry Potter a ver isto. Em vez do grupo invocar uma deusa benevolente (como pensávamos até agora, e até achámos benevolente demais), invocaram uma deusa malandra, que começou por arrancar o coração do peito do Richard, comeu-o, e a partir daí encarnou o seu corpo. De seguida e sem perder tempo, três dos membros do grupo cortando as respectivas gargantas. Quando está prestes a fazer o mesmo com a Kady, Julia põe-se à frente dela para tentar impedir a deusa (no corpo do Richard). Não, o pior ainda não passou. A Julia é então violentamente violada passo o pleonasmo) pelo “Richard”, e Kady desaparece, presumindo-se que foi capaz de fugir com vida. Por alguma razão, o “Richard” não mata a Julia, que depois liga à Marina para chamar ajuda (não percebi porquê). A Marina chega e a Julia pede-lhe por favor para lhe apagar a memória, porque não se quer lembrar do que ali aconteceu (isto enquanto mal se aguenta em pé na poça de sangue que se tornou o seu apartamento). A Marina ajuda-a a limpar os corpos e concorda em alterar a memória da Julia.
No entanto, quando o Ember desfaz o trabalho da Marina, a verdade do que realmente aconteceu com ela e amigos volta a vir-lhe à cabeça, e por isso é que ela fica tão perturbada.
Alice torna-se a escolhida
Numa conversa lamechas mas rápida, o Quentin e a Alice meio que fazem as pazes, concordando que a sua zanga não é nada comparado com a grandeza do que estão a viver naquele momento. O Quentin adianta-se e partilha ainda o medo que tem porque, por um lado, queria ser ele a ter o poder e enfrentar a Fera, mas por outro, acha que se calhar não devia ser ele, mas sim a Alice, a beber a “essência” do Ember e usar a “Leo Blade”. Ela bebe o esperma, fica com os olhos luminosos e verdes (uau), e consegue segurar a arma.
Mas… a batalha final corre terrivelmente mal
Tanta coisa, tanto acontecimento, tanta tensão, e mal sabíamos o que nos esperava no fim do episódio. O grupo já todo junto encontra uma fonte, que se transforma numa barracão (daqueles de guardar ferramentas no quintal), mas quando entram, afinal é o escritório do Christopher Plover (onde já tinham estado, e onde o Martin tinha sido molestado há muitos anos). O Quentin tenta negociar com a Fera (que vemos pela primeira vez sem as traças à volta), mas em vez disso a Fera corta as mãos do Penny (sim, as mãos caem dos braços), empurra a Margo e o Eliot contra uma estante com tanta força que ficam inconscientes, e sufoca a Alice, que cai redonda no chão a jorrar sangue pelo nariz. Quando a Fera se dirige ao Quentin, a Julia aparece por trás dele com a “Leo Blade” na mão e aponta-a à sua garganta. (Ao que parece, quando o outro deus a violou, transmitiu-lhe também a sua essência – não se riam – para ela poder usar a arma. Só que… em vez dela o matar logo, quer fazer um acordo, e desaparecem os dois. O episódio acaba com a cara apavorada do Quentin sozinho entre os amigos aparentemente mortos.
The end!
Portanto, esta foi uma montanha-russa de temporada, muito confusa e cheia de cenas completamente loucas, por todos os motivos e mais alguns. Ao longo de toda a acção, drama, e loucura todas as personagens acabaram por crescer e mudar em relação ao que conhecemos no primeiro episódio (tudo parecia tão simples!):
- O Eliot e a Margo amadureceram durante a sua estadia em Fillory;
- O Penny aprendeu que depender dos outros para o ajudar não é um problema;
- A Alice foi capaz de se abrir e deixar alguém entrar na sua vida;
- A Julia foi capaz de aceitar a mudança, mesmo que difícil e injusta para ela;
- E o Quentin finalmente aprendeu a aceitar que não tem de ser o melhor, e que ser um verdadeiro herói significava que ele tinha de pôr de lado os seus próprios desejos mais egoístas.
Só que, com esta cena final, vê-se que os escritores queriam desesperadamente criar um cliffhanger, e conseguiram. Ficamos sem saber uma data de coisas: Será que a Alice, o Eliot e a Margo ainda estão vivos? As mãos do Penny poderão ser magicamente recolocadas? A Julia vai ter sorte ou azar com a Fera? Onde pára a Kady? Será que a Julia a vai chamar para ajudar? Qual o papel de Eliot no futuro, enquanto Grande Rei de Fillory? O que aconteceu à Victoria? E, finalmente, o que é que o Quentin vai fazer agora, que ainda está vivo, se nos outros loops todos o Martin o matou sempre?
Não se sabe quando, mas vai haver uma próxima temporada – claro, depois disto… Boa ou má, a série pelo menos fez jus ao claim de “magia para adultos”, e ainda que a fantasia esteja sempre presente, acaba por ser também grandemente baseada em sentimentos e desafios muito humanos. Houve sexo, drogas, morte, violência e crueldade, mas também amizade, amor e lealdade. A série The Magicians consegue ser uma dualidade, em todos os aspectos!
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