“Spacetime”
Como? Como é que esta série consegue construir constantemente uma sensação de ritmo e escala crescentes? Todos os episódios sinto que as coisas estão maiores, mais urgentes, mais perigosas! A escrita nesta série não deixa de me impressionar.
Portanto, este episódio começa com uma cena muito interessante de um sem-abrigo, chamado Charles Hinton, que tem uma interacção com um dono de restaurante chamado Edwin Abbot, e que acaba a provocar-lhe uma visão em que ele próprio está a falar com a Daisy e depois morre.
A equipa rapidamente chega ao local do incidente, onde encontram ambos os homens em pânico, a Daisy percebe que o dono do restaurante teve uma visão do futuro, e realmente minutos depois ele morre debaixo de fogo de um drone da HYDRA. A Daisy percebe que o Charles Hinton é um Inumano e que a HYDRA está lá para o raptar, e no momento em que o tenta salvar toca-lhe e tem uma visão do futuro.
Nessa visão, a Daisy vê o Charles Hinton a morrer, bem como vários outros elementos que ela não sabe interpretar, como o Coulson a disparar contra ela, e o Fitz e a Simmons a darem as mãos debaixo de neve.
Naturalmente que, a partir deste momento, todos nós sabemos que o resto do episódio vai ser eles a tentarem interpretar estas imagens, e a descobrirmos de que maneira eles as interpretaram mal, mas isso não importa nada, porque é um formato tão interessante.
Adoro tudo o que envolva viagens no tempo e paradoxos temporais, e gosto imenso que Agents of S.H.I.E.L.D. tenha decidido pegar neste tema clássico da ficção científica. Era algo que já tinha sido introduzido na segunda temporada com a Raina, mas que ainda não tinha sido explorado desta maneira.
É muito divertido ver a cena em que a equipa tenta perceber se as coisas estão pré-determinadas ou não, com toda a gente a dar a sua opinião ao mesmo tempo, até que o nosso rapaz Fitz vem e explica as coisas cientificamente.
Eu tenho, neste momento, de me esforçar imenso, para não escrever duas páginas sobre relatividade geral e mecânica quântica, porque é isso que seria necessário para explicar adequadamente o que é que significa a 4ª Dimensão. Naturalmente que os escritores da série não foram por aí, e em vez disso, o Fitz explica de uma forma surpreendentemente compreensível, e sobretudo sucinta, a ideia de que o tempo é uma ilusão.
Num detalhe muito curioso, a metáfora que o Fitz usa (seres bidimensionais a terem uma percepção errada do espaço tridimensional) é apresentada pela primeira vez num livro de ficção científica de 1884 (!) chamado Flatland, escrito por Edwin Abbot (o nome do dono do restaurante).
Gosto imenso desta cena, porque não era estritamente necessário incluí-la, mas a sua inclusão informa-nos acerca de como funciona o tempo no MCU. O futuro está pré-determinado e é impossível alterá-lo. Isto, muito certamente, terá implicações para o futuro (heh) do MCU porque, não se esqueçam, uma das Infinity Stones é a Time Gem, e vai ser extremamente interessante perceber de que tipo de coisas estapafúrdias o Thanos vai fazer, com base nas regras estabelecidas neste episódio.
Numa tentativa de alterar o futuro, o Coulson decide que a Daisy fica fechada na base, e que a May vai no lugar dela, para tentar impedir que o Charles Hinton morra. A montagem de treino da May a tentar ser mais rápida do que as previsões da Daisy é muito divertida. Há algum tempo que não víamos a equipa a interagir toda junta, como era costume na primeira temporada, e relembra-nos o que estas personagens perderam por força das coisas que lhes aconteceram entretanto.
Apesar do tom da série se ter tornado, recentemente, mais pesado, e as consequências de tudo serem mais graves, a série tem conseguido, ainda assim, manter uma boa frequência de piadas e momentos leves, que ajudam a balançar tudo. Este comentário é só uma desculpa para reproduzir o diálogo entre o Coulson e o Lincoln.
Lincoln: I never saw the original Terminator…
Coulson: ... you’re off the team!
Entretanto, o resto da equipa consegue localizar a mulher do Charles Hinton, que é entrevistada pela Daisy. A mulher explica como a vida dele foi destroçada depois dele se ter transformado num Inumano, por se ver obrigado a abandonar a sua filha com medo de lhe provocar visões de futuros mortais.
Quando, inesperadamente, surge o Andrew, exactamente quando andava toda a gente a questionar-se onde é que ele estava!
A cena entre ele e a May é muito forte, enquanto discutem tudo o que os levou até àquele momento, e acerca dos seus arrependimentos. É particularmente dolorosa porque sabemos que é uma despedida, e conseguimos sentir a resignação do Andrew e o conflito emocional da May. No fim, ele transforma-se, e vemos a dor da May, impotente para o impedir. Falta-nos saber se a vacina experimental, que ela lhe deu, vai fazer algum efeito ou não.
De qualquer das formas, o Lash está agora na posse da SHIELD, e eu vou arriscar-me a prever que vai ser ele que, no fim, mata o Ward/Hive, provavelmente sacrificando-se no processo. A não ser que descubram que as suas mães têm o mesmo nome, ou coisa do género.
Como a May está ocupada a despedir-se do Andrew, tem de ser a Daisy a ir salvar o Charles Hinton.
Na cena em que vemos a equipa a preparar-se para partir, há um detalhe brilhante, que corre o risco de passar despercebido. O Coulson volta a enganar-se, e a dizer Skye, em vez de Daisy. Esta decisão de escrita é tão particular, e tão bem pensada! Mostra-nos o quanto o Coulson ainda se preocupa com a Daisy, mostra-nos que ele continua a vê-la como quando ela era indefesa, e o facto disso acontecer quando ela se vai meter na toca do lobo, diz-nos o quanto ele ainda se sente protector em relação a ela. É um pormenor que nos relembra a relação pai-filha que eles mantêm.
Entranto, o Ward/Hive e o Gideon Mallick estão no edifício onde tudo vai acontecer, a convencerem o dono de uma empresa a vendê-la ao Mallick. O Ward/Hive está TÃO assustador. Transmite a sensação de que sabe tremendamente mais do que o que deixa transparecer, trata toda a gente com uma condescendência assumida, está sempre calmo e sob controlo, mesmo quando está casualmente a sugar a biomassa das pessoas pelos dedos, deixando para trás esqueletos ensanguentados.
Depois de ser exactamente isso que ele faz aos outros membros da companhia, o Mallick veste o exoesqueleto robótico e esmaga a cabeça do presidente da companhia para experienciar o poder verdadeiro, e aparentemente gosta.
Pelo meio disto, de volta no centro de controlo da SHIELD, está o resto da equipa a monitorizar as coisas pelas câmaras de segurança, quando subitamente vêem o Ward/Hive de relance. Que momento tão poderoso. Não há nada de espalhafatoso nesta reintrodução do Ward/Hive. É tão simples, tão rápido, tão eficaz para demonstrar a reacção das outras personagens. Eles aqui percebem que têm de ir ajudar a Daisy, mesmo que isso signifique que tenham de agir de acordo com as previsões.
Ao mesmo tempo a Daisy vai infiltrando o prédio, dando porrada aos seguranças numa excelente sequência de acção, e nesse momento percebe que afinal tinha interpretado mal as suas visões (gasp!!!), num momento muito engraçado, em que o que pensávamos ser o Coulson a disparar contra ela e, na realidade, é o Coulson a disparar para um espelho para o qual a Daisy estava a olhar.
Há também o fantástico momento entre o Fitz e a Simmons, em que ela que diz que é nesse momento que é suposto darem as mãos e dizer que algumas coisas são inevitáveis. É um momento de ternura tão bem construído, e um comentário tão inteligentemente escrito a toda a questão do predeterminismo relativista da 4ª Dimensão, e acerca das inevitabilidades narrativas de escrever personagens deste género.
A sequência de perseguição culmina no telhado do prédio, onde o Mallick, agora com o seu exoesqueleto, começa a dar uma tareia à Daisy, que é salva pela intervenção do Charles Hinton, que toca no Mallick, que tem uma visão do futuro. Antes de morrer, o Charles Hinton pede à Daisy que proteja a sua filha, e toca-lhe. Nesse momento, a Daisy tem uma visão do futuro, que é a mesma que já tínhamos visto no primeiro episódio desta segunda meia-temporada. A nave no espaço, com a cruz, o sangue e a explosão. Será que isto acontece no fim desta temporada? Será que está relacionado com eventos do Capitão América: Guerra Civil, ou acontece depois deste? Será que acontece já nos próximos episódios, dado que a maior parte destas visões parecem concretizar-se em pouco tempo?
Adicionalmente, será que é este homem, cuja vida ficou estragada por se ter tornado num Inumano, que vai convencer a Daisy que algumas pessoas não devem sofrer a transformação? Será que se chegarem a uma vacina que funcione, ela a vai dar à filha dele, que prometeu proteger?
No fim, o Ward/Hive foge com o Gyera, que recebe uma chamada do Mallick a descompo-lo por o ter abandonado, ao que o Gyera responde que está exactamente onde deve estar, que se depreende que seja a seguir ordens do Ward/Hive.
O Gyera comenta que o Mallick está com medo. Será que é porque percebe que o Ward/Hive está a passar-lhe à frente, ou por causa do que viu na sua visão do futuro?
O Ward/Hive diz ainda que o exoesqueleto não é a tecnologia que lhe interessa mais. O que será então? Será que está relacionada com a bomba que roubaram da ATCU?
Acham que o Lash vai lutar contra o Ward/Hive?
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Daniel Álvares