De todas as mudanças que George Lucas fez à Trilogia Original de Star Wars, há uma em particular que irrita os fãs mais do que todas as outras – mais do que Darth Vader a gritar «NÃO!» enquanto atira o Imperador para a sua morte; mais do que o fantasma de Hayden Christensen; e ainda mais do que a pior performance musical de sempre no palácio do Jabba; não, a mudança que os deixa loucos é Han Solo não disparar primeiro na cantina Mos Eisley.
George Lucas é insistente, contudo, que Han não disparou primeiro, e agora ele tem um simples razão – porque de um ponto de vista mitológico, não faz sentido.
É uma discussão que certamente já ouviram antes – Han Solo torna-se o herói da rebelião e apaixona-se pela Princesa. Será ele o tipo de homem que querem a matar pessoas – ou Rodians neste caso – em bares? Lucas decidiu que Han Solo precisava de ser mais como um herói de western clássico.
Han Solo ia casar com Leia, e tu olhas para trás e dizes, ‘Deve ser ele um assassino a sangue frio?’ Porque eu estava a pensar mitologicamente — deve ser ele um cowboy, deve ser ele John Wayne? E eu disse, ‘Yeah, ele deve ser John Wayne.’ E quando és John Wayne, tu não disparas contra pessoas [primeiro] — tu deixa-los dar o primeiro tiro. É uma realidade mitológica que eu espero que a nossa sociedade preste atenção.
É bem sabido o quanto Star Wars usa arquétipos de mitologia clássica e a Hero’s Jorney de Joseph Campbell – e desse ponto de vista, Lucas aparentemente decidiu que ter Han a disparar primeiro não encaixa na história em geral. Como diz ao Washington Post, ele é o Príncipe que vai casar com a Princesa – ele precisa de ser merecedor do amor dela, e assim não pode ser o tipo de pessoa que dispara primeiro a sangue frio. De uma perspetiva clássica, Lucas está certo, e por muito que os fãs tenham a versão original embrenhada na alma, é difícil discutir contra essa lógica.
Espera – não, pode-se discutir sim. Han Solo torna-se merecedor da Princesa, mas não é a princípio. Chama-se desenvolvimento da personagem – quando o conhecemos ele é um contrabandista, ele trabalha para gangsters porque lhe pagam, e apenas aceita Luke e Obi-Wan a bordo da sua amada nave porque lhe vão dar uma “pipa de massa” e não por odiar o Império. O disparo contra Greedo debaixo da mesa é o momento em que a audiência percebe que tipo de pessoa é esta personagem, e é o início da sua jornada moral que acaba com Han a perceber que há coisas mais importantes do que dinheiro e dá a volta com a Millennium Falcon para ir ajudar Luke no fim do filme.
Mas a verdade é que esta é uma discussão que nunca terminará – não há nada que possa ser dito que convença as pessoas que Greedo disparou primeiro se não partilharem já dessa opinião.
Lê mais sobre Star Wars.