A Ponte dos Espiões
Bridge of Spies
Drama
M/12
26 de Novembro de 2015
EUA | 2015
141 min
A história de James Donovan, um advogado americano encurralado no centro da Guerra Fria, quando a CIA envia-o numa missão quase impossível de negociar a libertação de um piloto Americano U-2, que se encontra detido na União Soviética.
Steven Spielberg
Matt Charman, Ethan Coen, Joel Coen
Mark Rylance, Tom Hanks, Alan Alda, Austin Stowell, Dakin Matthews, Peter McRobbie, Sebastian Koch, Billy Magnussen
Há receitas que não falham. Com Steven Spielberg na realização, Tom Hanks no papel principal e os irmãos Coen no argumento, A Ponte dos Espiões é um bom filme em todos os aspectos, bem equilibrado e com um resultado bastante polido e sólido. Mas todos os filmes de Spielberg são bem feitos, não há volta a dar a isso, quer se goste do realizador ou não. No entanto falta algo ao filme. No meio de tanta perfeição a alma perdeu-se e ficamos com um filme soberbo, tecnicamente, mas vazio. Falta-lhe garra e tensão.
Baseado em factos reais (e todos sabemos o que isso significa para Hollywood), seguimos James B. Donovan (Tom Hanks), um advogado de seguros que tem de defender, em tribunal, um espião russo em plena Guerra Fria, e de seguida tem de encetar negociações para trocar o espião russo por um piloto dos EUA capturado pela URSS. Isso tudo na RDA, a Berlim Leste, a metade da capital ocupada pela URSS.
Comecemos pelo melhor do filme, as actuações. E o destaque não vai para Tom Hanks. Mark Rylance (que faz o espião russo Rudolf Abel) tem uma interpretação primorosa, bastante contida mas com uma expressividade e garra espectaculares. Sempre que aparecia roubava a cena. Prevejo uma nomeação para actor secundário nos Oscars, será muito bem merecida. Tom Hanks está irrepreensível no papel de advogado honrado, justo e defensor acérrimo da Constituição. Tom Hanks sempre nos habituou a grandes interpretações, pelo que o seu trabalho neste filme é o esperado. A juntar-se a Tom Hanks e Mark Rylance temos um elenco de luxo e de grandes interpretações. O filme é muito bem interpretado, não havendo a mínima falha neste requisito.
A realização de Spielberg está no ponto certo. É bom ver o realizador regressar a um filme leve depois dos “dramalhões” Cavalo de Guerra e Lincoln. E regressou a um período histórico que conhece bem e se sente à vontade. A realização não se destaca, está lá para servir a história e funciona bastante bem no filme. A câmara acompanha sempre o actor, filmando o contexto da acção do seu ponto de vista. Vestimos literalmente a pele do actor quando tem de lidar com as situações que lhe aparecem à frente. A tensão sobe e afeiçoamos-nos à personagem, que de outra maneira seria mais difícil. Spielberg realiza com contenção e o filme pedia exactamente isso.
O argumento teve a cargo dos irmãos Coen. Dispensam apresentações. Coen é sinal de qualidade mas desta vez falharam. O filme é bastante equilibrado e leve. As falas cómicas estão muito bem metidas e vão ao encontro da personalidade de James B. Donovan, bem como a sua insistência em fazer cumprir a lei. O trabalho de desenvolvimento de personagens não tem falhas. O argumento joga bem com todas as nuances da história, mas gostava que tivesse ido mais fundo nas questões politicas e humanitárias.
No filme, temos três jogadores. Os EUA representados pela CIA, a URSS, representada pelo KGB e a RDA representada por um advogado com ligações ao governo. Os EUA e a URSS não queriam que os seus agentes revelassem informações confidenciais ao inimigo e a RDA queria ser reconhecida como um estado soberano.
Os três jogadores estão bem desenvolvidos, o filme funciona, mas o argumento devia ter tido mais ambição em aprofundar as relações entre as três potências. Foi tudo demasiado fácil, demasiado leve. Não houve nunca uma gravidade, uma sensação de perigo ou tensão. O filme é baseado em factos reais por isso não podiam inventar muito mas se não havia momentos de tensão e suspense então que investissem nas relações políticas e aprofundassem os diálogos, com falas mais pesadas e com uma real sensação de urgência.
No final, ficamos com uma história demasiado leve para a temática escolhida, e um piscar de olhos à vangloriação americana em detrimento dos outros países. Foi notório o elevar dos EUA sob todos os outros, mas felizmente bastante contido e rápido. Mas tenho de realçar que os EUA não foram descritos durante todo filme como o pináculo da moralidade e desenvolvimento. James B. Donovan, que representa os verdadeiros valores americanos, tem e lutar com uma América desfeita dos seus valores primordiais, onde impera o medo, a desconfiança e a discriminação. No final, temos um vislumbre ao nacionalismo mas, como já disse, é rápido e não faz estragos.
Ponto positivo para os efeitos especiais que estiveram mais que perfeitos, tal era a dificuldade em distinguir o real do digital.
A Ponte dos Espiões é um filme de uma perfeição técnica gritante, com interpretações lindas de se encher o olho, mas com uma história pouco ambiciosa, onde faltou tensão, urgência e perigo. No entanto, não deixa de ser um filme que funciona, e no final sentimos que foram umas horas bem passadas. Podia era ter sido muito mais do que foi.
Mark Rylance merece ser nomeado para os Óscares?
Toda a parte técnica é primorosa.
Actuações.
História demasiado leve.