Como ele próprio admite, Mark Millar está acostumado a super-heróis violentos e sombrios. A mente por detrás das bandas-desenhadas Kick-Ass, Wanted, e The Secret Service – que todas deram filmes para adultos – também já tornou mais negras personagens como Capitão América e Super-Homem com o seu trabalho em The Ultimates e Superman: Red Son. Mas depois de uma carreira cheia do que chama «Ultraviolência cartunesca», o escritor revelou numa dissertação para a GamesRadar que o filme Homem de Aço de 2013 provou ser o seu ponto de rutura no que toca a violência.
Nesta dissertação, intitulada How Man of Steel Traumatized me so much I created Huck, Millar reflete sobre histórias semelhantes das trajetórias para a escuridão que as bandas-desenhadas e filmes de bandas-desenhadas têm percorrido – ele escreve que «estava na primeira fila desde a desoladora cena de abertura em Auschwitz de X-Men, até Willem Dafoe ser crucificado contra uma parede em Homem-Aranha» e que estava extasiado por finalmente realizadores e cineastas com visão estarem a trazer um novo «nível de talento» aos filmes de super-heróis.
Por outro lado, Miller escreveu sobre a sua experiência ao ver Homem de Aço:
Mas no Verão de 2013 enquanto me sentava no dia do Pai e vi o Super-Homem a bater o mau da fita ao torcer-lhe a cabeça com tanta força que lhe partiu o pescoço eu realmente me perguntei se tínhamos chegado ao fim dessa estrada em particular. Agora, eu percebo a lógica dessa cena e absolutamente faz sentido dentro do contexto desse filme já que o vilão tinha deitado abaixo metade de Metropolis e matou centenas de milhares de pessoas. Mas ainda assim. Isto era o Super-Homem. Foi como ver Sylvester o Gato a finalmente pôr as mãos no Speedy Gonzales. Elmer Fudd a explodir Bugs Bunny. Eu adorava Super-Homem quando era miúdo não porque ele era extremo ou pelo seu potencial para uma solução fatal, mas porque ele podia fazer qualquer coisa que quisesse e ainda assim escolhia ser bom. Isto sempre foi a moral de uma banda-desenhada de super-herói para mim.
Este momento, como Millar o descreve, fez com que ele refletisse na natureza dos super-heróis e a sua origem durante a Grande Depressão quando foram criados «para elevar os nossos espíritos nos tempos mais negros.» Com o artista Rafael Albuquerque, Millar criou então um novo super-herói na veia de «Jimmy Stewart/Tom Hanks/Steven Spielberg.»
Sobre Huck, Millar disse:
Imaginem uma cidade com um segredo único, um assistente numa bomba de gasolina com habilidades especiais que faz uma boa ação todos os dias. Isto pode ser tão pequeno como encontrar um colar perdido ou tão enorme como resgatar um refém no Afeganistão, mas o mundo não sabe que ele existe e os locais na cidade pretendem manter isso assim.
Millar conclui que ele espera que Huck relembre às audiências que eles não «se vestiam como estas personagens quando eram crianças porque eles eram tão miseráveis e mauzões e violentos e cruéis.» Ele acrescenta que acha que as audiências estão com fome de super-heróis edificantes, e diz que Huck é «o antídoto ao anti-herói e vai ser uma experiencia interessante esta semana.»
Escrita por Mark Millar e com arte de Rafael Albuquerque, Huck chega hoje às lojas.
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