Ready Player One escrito por Ernest Cline é uma carta de amor à pop culture dos anos 80, desde videojogos da Atari aos filmes de Steven Spielberg. Por isso quando o próprio Spielberg ficou o papel de realizar a adaptação cinematográfica de Ready Player One, pareceu perfeitamente apropriado, se bem que também um pouco estranho – como iria ele lidar com uma história tão fortemente influenciada pelos seus próprios filmes?
Bem, segundo Spielberg, a solução é deixar de fora essas referências.
Passado em 2044, Ready Player One segue um adolescente gamer na sua jornada para descobrir easter eggs escondidos dentro do universo de realidade virtual chamado OASIS. Há muito em jogo – quem ganhar herda a totalidade da fortuna OASIS. Mas o nosso herói Wade Watts tem uma vantagem – tal como o criador de OASIS que inventou o puzzle, ele é obcecado com a cultura popular da década de 1980.
Sendo assim, as referências de Spielberg são abundantes no livro – com acenos a filmes que realizou como Indiana Jones, e outros que apenas produziu como Os Goonies e Regresso ao Futuro, e até ele próprio é mencionado pelo nome –, e o realizador admitiu que era «muito alucinante» ser uma influência em si mesmo.
Eu não estou a fazer este filme para lembrar as pessoas dos meus filmes dos anos 80. Eu talvez deixe a maior parte de fora!
Em vez disso, Spielberg disse que ficou intrigado com o conteúdo do livro porque sentiu que:
[Ready Player One é] uma bola de cristal para o que vai acontecer não daqui a 30 ou 40 anos mas entre a cinco e dez anos a partir de agora, quando um mundo virtual torna-se quase como uma droga de eleição e quando nós estamos a passar mais tempo num espaço não-orgânico do que a respirar e comer e interagir na vida real.
Ou seja – Spielberg está mais interessado no aspeto de realidade virtual vs. mundo real da narrativa de Ernest Cline, em parte como resultado das suas experiências como pai:
[Os meus filhos] socializam cerca de meia hora, e fica muito sossegado. Eu entro na cozinha e oito ou nove raparigas estão sentadas por lá e elas estão todas a olhar para o telefone, no Snapchat e a mandar mensagens e no Twitter e a ler. Ficou tudo tão introvertido. Este filme vai mostrar porque é interessante não viver no mundo real mas o que estamos a perder por não o fazer. É um conto preventivo mas é um filme com uma grande aventura, também.
É de facto muito decepcionante que Spielberg pareça mais interessado em usar Ready Player One principalmente como um comentário sobre “esses miúdos e as tecnologias hoje em dia” – visto ter muito mais material interessante para usar como inspiração no livro.
E também é decepcionante ouvir que Spielberg pretende minimizar as referências de Ready Player One ao passado – sim, um filme seu com uma narrativa meta seria uma intrigante mudança por parte deste realizador, comparado com as suas obras anteriores.
Mas se há alguém que sabe fazer «um filme com uma grande aventura» é Steven Spielberg e Ready Player One ainda tem o potencial de ser uma experiência de cinema inteligente e emocionante. E como o filme só começa a ser gravado no próximo Verão e tem data marcada para 15 de Dezembro de 2017 nos Estados Unidos, muito pode mudar até lá – incluindo que elementos do livro de Cline acabam por ser destacados por Spielberg e colaboradores na sua adaptação.
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